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Blackstone compra imóveis no Brasil em meio a aperto no crédito

Cristiane Lucchesi, Jonathan Levin e Hui-yong Yu

08/06/2015 14h56

(Bloomberg) - Depois de triplicar seu dinheiro em grandes apostas no mercado imobiliário dos EUA, o Blackstone Group LP está mirando o Brasil.

O prédio Visconde de Inhaúma Corporate, comprado pelo Blackstone junto com seu parceiro brasileiro em dezembro, tem uma moderna escultura de metal no lobby e a Chevron Corp. como inquilina. O edifício de vidro de 18 andares, cercado de construções em mau estado com paredes grafitadas, ergue-se orgulhosamente em meio a um mercado imobiliário que está afundando.

O Blackstone, cuja compra da Hilton Worldwide Holdings Inc. foi a mais rentável da história, agora está em busca de bagatelas no mercado de imóveis comerciais no Brasil junto com a Brookfield Asset Management Inc. e o JPMorgan Chase Co. Com a economia caminhando para a recessão e a Petrobras enfrentando o pior escândalo de corrupção da história do país, os valores dos imóveis caíram até 20 por cento em algumas regiões de São Paulo, disse Helmut Fladt, diretor de mercado imobiliário do Pátria Investimentos SA. Seduzidos por preços atraentes, os investidores correm o risco de comprar bem antes que o mercado chegue ao fundo do poço.

"O Brasil é um mercado complicado, é mais volátil do que investir nos EUA e na Europa", disse David Roth, diretor-gerente da unidade de mercado imobiliário do Blackstone que acompanha a América Latina. "Sem dúvida é um mercado de expansão para nós, onde gostaríamos de nos envolver mais".

Sofrimento psicológico

Buscando investir seu fundo global de mais de US$ 15 bilhões em edifícios comerciais no Brasil, o Blackstone está abrindo um escritório próprio em São Paulo. A empresa contratou Marcelo Fedak, ex-diretor do setor imobiliário do Grupo BTG Pactual, como chefe da unidade.

Em 2010, o Blackstone, com sede em Nova York, comprou uma participação de 40 por cento no Pátria, uma empresa de gerenciamento de ativos alternativos em São Paulo, para atuar como seus olhos e ouvidos nesse campo. As duas empresas compraram quatro edifícios comerciais no Rio de Janeiro em dezembro. O Pátria, que gere cerca de US$ 2 bilhões em ativos imobiliários, está em fase de captação de um novo fundo de US$ 600 milhões para a América do Sul.

"Há uma boa quantidade de sofrimento psicológico. Tem uma grande quantidade de brasileiros que gostariam de deixar todo o seu dinheiro na Brickell Avenue, em Miami, e isso está criando oportunidades", disse Roth, referindo-se ao centro financeiro da cidade norte-americana.

O escândalo na gigantesca petroleira estatal Petrobras aumenta a agitação do mercado imobiliário. Os procuradores acusam os executivos da companhia de pedir propinas em troca da concessão de contratos lucrativos para as empresas construtoras - inclusive algumas com negócios no setor de imóveis comerciais. A investigação já ajudou a levar pelo menos cinco empreiteiras que trabalhavam com a Petrobras a pedirem recuperação judicial e gerou um aperto no crédito em todo o setor da construção.

'Incorporadoras em dificuldades'

"Estamos começando a ver algumas incorporadoras em dificuldades, necessitando de capital para continuar crescendo, e nós podemos fornecer esse capital comprando prédios que já estão gerando fluxo de caixa", disse Roth.

O boom dos edifícios comerciais no Brasil, que começou em tempos econômicos melhores, criou nos últimos dois anos mais de 700.000 metros quadrados de espaço corporativo de luxo para alugar nos bairros mais caros de São Paulo, de acordo com a Cushman Wakefield Inc. Isso está contribuindo para o excesso atual de edifícios vazios.

A taxa de desocupação dos imóveis comerciais de luxo em São Paulo subiu para 24 por cento no primeiro trimestre, em comparação com 16 por cento nos três primeiros meses de 2013, de acordo com a Cushman Wakefield. No Rio, o valor passou de 6 por cento para o recorde de 18 por cento. Durante o mesmo período, o preço pedido pelo aluguel em São Paulo caiu de US$ 67 o metro quadrado para US$ 35, e de US$ 64 para US$ 35 no Rio.

Retração

O mercado deve piorar ainda mais antes de melhorar. A economia deve sofrer neste ano sua pior retração em 25 anos, mostram estimativas compiladas pela Bloomberg, e os responsáveis pela política econômica já não têm nenhum ás na manga para estimular o crescimento.

Em um mercado que talvez não melhore nos próximos dois ou três anos, disse Fladt, do Pátria, o Blackstone está andando com cuidado.

"Somos bastante disciplinados", disse Roth. "A verdade é que é melhor não fazer negócios do que fazer um negócio ruim".

Título em inglês: 'Blackstone Targets Brazil Real Estate in Credit-Squeeze Deals'

Para entrar em contato com os repórteres: Cristiane Lucchesi, em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net; Jonathan Levin, no Rio de Janeiro, jlevin20@bloomberg.net; Hui-yongYu, em Seattle, hyu@bloomberg.net