Baunilha do cerrado atrai pequenos produtores e pode chegar a R$ 6.000/kg

A geógrafa Anajulia Heringer Salles sempre atuou com conservação ambiental e ações de incentivo a pequenos produtores rurais. Quando se aposentou, quis investir em um negócio que mantivesse vivo o trabalho que realizou a vida toda. Em 2020, resolveu investir na produção de baunilha do cerrado, que ainda engatinha no Brasil. "Eu queria transformar a baunilha em um produto gastronômico, medicinal e cosmético e incentivar o seu cultivo de forma sustentável para proteger nossas espécies", diz Anajulia.

A produção, que ainda engatinha no país, virou opção para pequenos agricultores.

O quilo da baunilha curada, segundo especialistas, pode custar até R$ 6.000.

Anajulia começou a sua produção com 400 mudas de algumas espécies de orquídeas — que dão origem à baunilha — e hoje tem mil mudas plantadas. Desse total, 500 estão amadurecidas e em produção. "No ano passado, todas floresceram, mas a questão climática também prejudicou a nossa produção, assim como a da soja, por exemplo."

Cultivo é usado em estudos. A plantação de Anajulia vem sendo utilizada pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) do Distrito Federal (DF) como referência para pequenos produtores, por implantar a produção em viveiro e na natureza. "Eles trazem grupos de produtores para observar o nosso cultivo."

Produção de baunilha vem crescendo no Brasil

Produção ainda é pequena. Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, diz que a produção de baunilha já existia no Brasil, mas em pequeno porte. E, nos últimos sete anos, vem se intensificando no Cerrado, por causa da similaridade climática com países que são grandes produtores como Madagascar, México e Costa Rica.

Começou a existir uma demanda gastronômica e, como não havia cultivo, observamos o extrativismo não sustentável da baunilha na mata. A Embrapa, então, resolveu pesquisar a melhor forma de cultivar a planta e incentivar o cultivo por pequenos produtores do cerrado.
Roberto Fontes Vieira, Pesquisador da Embrapa de recursos genéticos e biotecnologia

Existe produção na Bahia, Distrito Federal, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. "A produção se caracteriza como pequena escala e, muitas vezes, é executada por pequenos produtores, agricultores familiares e comunidades tradicionais, Quilombolas e outras como ocorrera na região de Alto Paraíso/GO", afirma Victor Ferreira, analista de agronegócio do Sebrae Nacional.

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Como funciona o cultivo?

As mudas de orquídea demoram de dois a três anos para ficarem adultas. Elas podem ser plantadas em estufas ou por manejo na floresta. O ambiente deve ser úmido, que pode ser obtido com sistema de irrigação, e ter luminosidade (50% dependendo da espécie) com a instalação de telas de sombreamento ou protegidas pelas copas das árvores.

As orquídeas precisam de polinização manual para se reproduzir. É a transferência de grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de uma outra flor da mesma espécie.

Preparo. Quando é época de colheita, normalmente entre abril e junho, dependendo da espécie, os frutos precisam passar por um período de cura — exposição a altas temperaturas — que tem várias etapas, inclusive massagem para soltar as suas propriedades. Esse processo demora de quatro a seis meses. Depois, o fruto é embalado em caixas, que são abertas diariamente para não criar fungos por 40 dias e, finalmente, estão prontas.

Vieira diz que com apenas 20 a 30 plantas, se o produtor cuidar direito e fizer o manejo, já poderá ter um rendimento. "Estamos incentivando o cultivo como alternativa de renda em comunidades quilombolas. O quilo da baunilha curada, segundo ele, pode custar até R$ 6.000.

A Embrapa criou uma cartilha para orientar o pequeno produtor para o cultivo das orquídeas.

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Curiosidade levou produtor à baunilha

O produtor Rubens Bartholo de Oliveira diz que começou o cultivo das orquídeas há seis anos por curiosidade. "Eu não sabia que existia orquídea no cerrado. Fui atrás de mudas, plantei e comecei a produzir."

Ele conta que se surpreendeu com o tempo de cultivo das primeiras orquídeas. "A estimativa era que elas amadurecessem em três anos. As minhas mudas começaram a produzir em dois. Eu esperava colher dois ou três frutos, colhi bem mais do que 200", afirma.

Oliveira afirma que, atualmente, tem 10 variedades de orquídeas. Apenas quatro são originárias do bioma do cerrado. Sua produção chega a 2.000 frutos por ano. E o preço do grama da baunilha fica entre R$ 5 e R$ 6,50. O próximo passo, segundo ele, é incorporar um maquinário de cura da baunilha para iniciar seu plano industrial.

Baunilha na culinária

É produto exclusivo. Como a produção de baunilha é feita, ainda, em pequena escala, o mercado tem se caracterizado em contatos diretos entre chefs, restaurantes, empórios e outros canais que têm um relacionamento próximo com pequenos produtores ou comunidades, de acordo com Ferreira.

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"Existe um enorme potencial de mercado e a Embrapa Cerrados já tem trabalhado para o desenvolvimento de novas variedades e organização do processo produtivo", comenta.

Busca de informações. Para os empreendedores que desejam investir na produção, Vieira orienta a buscar informações sobre o sistema de produção, cuidados técnicos e pesquisar o mercado da região em diferentes canais de comercialização seja com vendas diretas ou não e que atenda às exigências de qualidade, acondicionamento, embalagens, sanidade, logo, entre outros.

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