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Com clientes brasileiros só olhando, queda de títulos de shopping se aprofunda

Filipe Pacheco

19/06/2015 11h50

(Bloomberg) -- Diana Freitas, de 27 anos, é vendedora no Internacional Shopping, em Guarulhos, nos arredores de São Paulo, e diz que suas comissões caíram tanto que já está procurando um novo emprego.

"As pessoas continuam entrando na loja, mas não gastam", disse Freitas, que trabalha em uma loja de roupas femininas. "Todos estão preocupados com o que pode acontecer mais para frente, por isso é melhor guardar dinheiro. Meu chefe já me disse que se as coisas não melhorarem até o fim do ano, a única opção será fechar as portas".

A avaliação um tanto quanto sombria de Freitas é sinal de mais problemas por vir para a General Shopping Brasil SA, operadora brasileira de shoppings e proprietária do Internacional Shopping. No mês passado, a empresa reportou prejuízos recordes em um momento em que a recessão sufoca os indicadores de consumo, e levou com que os custos dos empréstimos no exterior subissem para perto de altas históricas. Os US$ 250 milhões em notas da empresa agora têm um yield (rendimento) de 12,65%, se aproximando de níveis chamados de "distressed", ou de difícil recuperação, ao mesmo tempo em que a depreciação da moeda brasileira aumenta o custo da sua dívida denominada em dólar.

"Esta é uma história 100% relacionada à economia brasileira', disse Patrik Kauffmann, que ajuda a gerenciar US$ 11,2 bilhões na Solitaire Aquila em Zurique. "Embora o Brasil seja um dos maiores mercados consumidores do mundo, o momento não é bom".

Analistas preveem que a maior economia da América Latina está caminhando para a recessão mais profunda em 25 anos, e famílias estão mais endividadas do que nunca. As vendas do varejo caíram 0,4% em abril, além de estimativas, após um declínio revisado de 1% em março. Os números de abril foram mais fracos do que as estimativas de 32 entre 33 economistas consultados pela Bloomberg.

Moeda fraca

A assessoria de imprensa da General Shopping disse que a empresa não iria comentar o declínio nos preços dos bonds (títulos) ou seus níveis de alavancagem.

A empresa, que gera receita com os aluguéis que cobra das lojas de seus shoppings, disse em seu balanço de lucros mais recente, em 15 de maio, que a depreciação da moeda brasileira foi o que mais prejudicou seus resultados, acrescentando que conta com proteção, ou hedge, contra oscilações cambiais para o pagamento de juros de suas dívidas nos próximos dois anos.

Cinquenta e cinco por cento das dívidas da empresa estão denominadas em dólares. O real caiu 13% neste ano em relação ao dólar, maior declínio entre as 16 principais moedas do mundo, e deve passar por uma desvalorização de mais 7,5% até o final deste ano, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

A razão de dívida líquida e lucros antes de impostos, depreciação e amortização da General Shopping -- uma medida de endividamento -- atingiu níveis recordes em 11 vezes em março, segundo cálculos do Bradesco SA.

Rating de crédito

Enquanto a carga de dívida da operadora de shoppings crescia com as perdas do real, os brasileiros também aumentavam seu endividamento, reduzindo sua capacidade de continuar gastando depois que a inflação apresentou o maior aumento dos últimos 12 anos. Um indicador de dívida das famílias atingiu a maior alta em 10 anos em abril, de 44,3% da renda, segundo dados do Banco Central.

A combinação entre moeda mais desvalorizada e um economia em dificuldades coloca pressão sobre a qualidade de crédito da empresa, segundo José Vertiz, analista da Fitch Ratings, que colocou a nota BB- da General Shopping sob perspectiva negativa em outubro.

Para melhorar as suas métricas de alavancagem, a empresa vendeu uma participação em um shopping em São Paulo por R$ 141,1 milhões em abril após levantar R$ 300 milhões com vendas de ativos no ano passado.

"Eles têm que continuar trabalhando para vender alguns ativos e reduzir a alta alavancagem", disse Vertiz, de Nova York.

Embora os desafios para a empresa sejam consideráveis, ainda vale a pena investir em seus bonds, segundo Daniel Delabio, gestor da Explorador Capital Management em São Paulo.

"Eles pagam um bom prêmio, considerando o risco em questão, em comparação com outros emissores brasileiros", disse Delabio.