IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Efeito brando de contágio grego rende a Portugal direito de contar vantagem

João Lima

01/07/2015 11h32

(Bloomberg) -- Portugal pode ter ganho o direito de contar vantagem. O impacto relativamente brando sobre suas ações e bonds decorrente da turbulência na Grécia -- uma grande diferença em relação a quatro anos atrás, quando o início da crise repercutiu no sul da Europa -- está trazendo alívio e satisfação para o país ibérico.

Embora seja uma evidência da fé dos investidores nas proteções desenvolvidas para conter uma ocorrência do tipo, a calma também se dá em função das medidas adotadas pelo país, segundo líderes políticos e empresariais de Portugal.

"A situação do país é completamente diferente da que vimos em 2012", disse Gonçalo Morais Soares, diretor financeiro da REN-Redes Energéticas Nacionais SA. "A percepção de risco que os investidores institucionais atribuem a Portugal é muito mais baixa hoje. Nos diálogos que tivemos fora do país, todos reconheceram o esforço de consolidação do orçamento".

A operadora das redes de eletricidade e gás natural de Portugal, que tem sede em Lisboa, vendeu em fevereiro 300 milhões de euros (US$ 335 milhões) em bonds de 10 anos. A REN, que tem rating de grau de investimento, pode ter acesso ao mercado "quando e como quiser", disse Soares.

Em 2011, Portugal seguiu o exemplo da Grécia e da Irlanda e pediu resgate à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. Atualmente a Grécia está atolada em uma crise por não ter chegado a um acordo com os credores, enquanto Portugal, assim como a Irlanda, deixou seu programa de ajuda em 2014. Neste mês, o país realizou seu segundo pagamento antecipado do empréstimo do FMI depois que os custos dos empréstimos caíram devido ao plano de compra de bonds do Banco Central Europeu.

O yield do bond português de 10 anos estava em 2,94 por cento na quarta-feira depois que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, rejeitou, no fim de semana, a última proposta de ajuda dos credores, aumentando a probabilidade de saída da zona do euro do país.

Sem medo

Embora esse yield esteja mais elevado do que na sexta-feira, ele é mais baixo do que há oito dias de negociação. O custo dos empréstimos de 10 anos de Portugal subiu para mais de 18 por cento em 2012. E despencou para 1,509 em 12 de março, o nível mais baixo desde que a Bloomberg começou a registrar os dados, em 1997.

"Nós não tememos nenhum contágio financeiro de forma equivalente a 2010", disse o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, em 22 de junho. A dívida do país continua classificada abaixo do grau de investimento por Fitch Ratings, Moody's Investors Service e Standard Poor's.

A EDP-Energias de Portugal SA, maior distribuidora de eletricidade do país, vendeu em abril 750 milhões de euros em bonds de 10 anos depois que a Moody's elevou seu rating de crédito para o grau de investimento, no início deste ano. A EDP tinha uma dívida líquida de 17 bilhões de euros no fim de 2014.

"Diversos fatores contribuem para a melhoria dos mercados de dívida", disse o diretor financeiro da EDP, Nuno Alves, em 17 de junho. "Claramente o fator mais relevante é a melhoria dos indicadores macroeconômicos de países como Portugal, Espanha e Irlanda, que reduziram significativamente a incerteza em relação à saúde de suas finanças públicas".

Pico da dívida

Enquanto a Grécia mergulhou novamente na recessão, o governo português vê o crescimento acelerando. A estimativa é que a economia se expandirá 1,6 por cento neste ano, 2 por cento em 2016 e 2,4 por cento em 2017. A economia cresceu 0,9 por cento em 2014, depois de encolher nos três anos anteriores. Portugal está mirando um déficit fiscal de 2,7 por cento do produto interno bruto em 2015, abaixo do limite de 3 por cento da UE.

A Comissão Europeia disse, em 5 de maio, que a proporção da dívida de Portugal teve um pico de 130,2 por cento do PIB em 2014 e cairá para 124,4 por cento em 2015. Essa proporção ainda seria mais elevada que o nível de 111,1 por cento de 2011.

Título em inglês: Muted Greek Contagion Effect Gives Portugal Bragging Rights

Para entrar em contato com o repórter: João Lima, em Lisboa, jlima1@bloomberg.net.