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Aflição de detentores de bonds da Argentina aumenta com queda de commodities

Carolina Millán

27/08/2015 13h13

(Bloomberg) - A queda livre dos preços das commodities é mais um golpe para os investidores em bonds na Argentina.

O superávit comercial do país sul-americano encolheu para apenas US$ 205 milhões em julho, uma queda de 75 por cento em relação ao mesmo mês do ano anterior, porque o declínio dos preços das matérias-primas, como a soja, reduziu a receita de exportações, disse o instituto nacional de estatística na segunda-feira.

O colapso ameaça restringir a capacidade da Argentina de pagar a dívida local em um momento em que o país está quase excluído dos mercados externos de bonds e depende de suas reservas de divisas - cada vez menores - para sustentar a moeda. As commodities agrícolas respondem por cerca de metade da receita exportadora do país. Os US$ 4,5 bilhões em bonds da Argentina com vencimento em 2024 caíram 3 por cento neste mês, empurrando os yields para acima de 10 por cento pela primeira vez neste ano.

"Eles não estão gerando suficiente superávit comercial para compensar outros passivos - há poucas opções de financiamento", disse Siobhan Morden, diretora de renda fixa da Jefferies Group LLC para a América Latina.

Fernando Meanos, porta-voz do Banco Central, preferiu não comentar.

Reservas

As reservas da Argentina caíram para US$ 33,6 bilhões, o valor mais baixo desde 8 de junho, porque o país está tentando satisfazer a demanda de dólares no período de campanha para a eleição presidencial de outubro. O governo deixou o peso se desvalorizar apenas 9 por cento neste ano, na comparação com uma queda de 26 por cento do real. O Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina.

A diminuição da demanda da China causou uma queda de 17 por cento nas commodities neste ano, segundo o Bloomberg Commodity Index. Os preços da soja caíram 22 por cento durante esse período. A Argentina é a terceira maior exportadora de soja do mundo.

"Os movimentos das moedas dos mercados emergentes são muito extremos na comparação com os do ano passado e isso se traduz em efeitos diretos sobre a competitividade da Argentina", disse Alejo Czerwonko, estrategista da UBS Wealth Management. "Não é nenhuma surpresa que o setor de exportações esteja em deterioração e isso está aumentando a pressão sobre as reservas internacionais do país".

Dinheiro suficiente

No curto prazo, a Argentina tem dinheiro suficiente para fazer seu pagamento de US$ 6,3 bilhões da dívida local com vencimento em outubro e a perspectiva de haver um novo presidente que possa terminar com uma década de impasse com credores entusiasma alguns investidores, segundo Sebastian Vargas, estrategista do Barclays Plc.

A presidente Cristina Kichner se recusou a cumprir uma decisão judicial de um tribunal dos EUA que exigia que a Argentina reembolsasse os credores que não aceitaram a reestruturação da dívida do país após seu calote de 2001. Isso impossibilitou o país de honrar sua dívida externa desde julho de 2014.

"O risco é que o mercado não esteja conseguindo levar em conta o efeito negativo que um ambiente mundial significativamente pior pode ter sobre o apetite dos investidores pela dívida que a Argentina terá que emitir para resolver a disputa com os holdouts", disse Czerwonko da UBS.

Título em inglês: 'Argentina Bondholder Woes Deepen as Commodity Drop Hits Reserves'

Para entrar em contato com a repórter: Carolina Millán, em Nova York, cmillanronch@bloomberg.net