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Análise: Rebaixamento pela S&P confirma retrocesso da economia

Marcos Santos/USP Imagens
Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Josué Leonel

10/09/2015 12h43Atualizada em 10/09/2015 15h47

(Bloomberg) -- O rebaixamento da nota do Brasil confirma a profunda deterioração da economia brasileira nos últimos anos. A comparação é gritante com 2008, quando a mesma S&P, carrasca agora, foi a primeira a dar ao País o selo de bom pagador. Os títulos brasileiros já são negociados no nível de países entre 1 e 2 graus abaixo da escala de grau de investimentos.

A decisão da S&P aumentou no mercado a expectativa de que pelo menos uma das duas demais grandes agências, a Moody's e a Fitch, também corte em breve a nota brasileira para grau especulativo. Um segundo rebaixamento poderia ter impacto maior no mercado, dado que alguns fundos só investem em países que tenham grau de investimento em ao menos duas agências.

Um novo corte deve ocorrer ainda este ano, em dois meses, diz Bernd Berg, estrategista do banco francês Societé Générale em Londres. Berg, que tem sido mais pessimista do que a média em suas previsões sobre o real recentemente, aumentou de R$ 4 para R$ 4,40 sua estimativa para o câmbio em oito semanas. Para Berg, o rebaixamento marca o fim da "era dourada" para o Brasil, que teve o rating promovido quando os países emergentes eram favorecidos pelo crescimento da China.

O Brasil volta a ser "junk" sete anos após entrar para o clube dos devedores com melhor qualidade de crédito, que conseguem captar recursos a juros mais baixos no mercado internacional. Em 2008, o País foi promovido a grau de investimento pela S&P em 1º de maio e pela Fitch menos de 1 mês depois, em 29 de maio.

A comparação do Brasil de hoje com maio de 2008 é dolorosa. A inflação acumulada em 12 meses era de 5,58% e agora é de 9,53%. O superávit fiscal primário virou déficit e o déficit conta corrente quadruplicou. O "pibão" de Lula, que já havia virado "pibinho" no 1º mandato de Dilma, agora é recessão.

Para Brasília, a grande questão é se o rebaixamento servirá ao menos para acordar o governo e os parlamentares sobre a urgência de medidas que recoloquem a economia nos trilhos. O mercado mostra ceticismo. "Eu duvido que o downgrade sirva de alerta", diz Mark McCormick, estrategista do Credit Agricole. "A política fiscal precisa ser focada pesadamente em cortes de gastos, mas o governo continua focando em aumentos de impostos, o que vai continuar enfraquecendo a economia".