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Testes da Coreia do Norte deixam claras suas ambições nucleares

Sam Kim

11/01/2016 12h50

(Bloomberg) - A Coreia do Norte é o único país, até onde sabemos, que realizou um teste nuclear neste século. Embora os especialistas em defesa estão céticos com a afirmação de Pyongyang de que o país detonou uma bomba de hidrogênio em 6 de janeiro, eles concordam que o mais recente teste comprova sua ambição de montar uma ogiva nuclear em um míssil balístico.

Aqui mostramos por que aderir ao clube nuclear tornou-se uma obsessão para os líderes da Coreia do Norte, do fundador Kim Il Sung a seu neto, Kim Jong Un.

Sobrevivência

A Coreia do Norte chamou suas armas de uma "preciosa espada da justiça" contra os invasores. Fez comparações com ex-ditaduras no Iraque e na Líbia, argumentando que Saddam Hussein e Muammar Gaddafi caíram porque não quiseram desenvolver armas nucleares.

Também sabem da presença de militares dos EUA ao sul da fronteira. Os EUA têm quase 30.000 soldados na Coreia do Sul, onde mantêm armamentos importantes, como helicópteros de ataque Apache e aviões de combate F-16.

"A liderança norte-coreana está convencida de que a sua existência como Estado autônomo deriva diretamente de sua posse de armas nucleares", escreveu Jonathan Pollack, membro sênior da Brookings Institution, com sede em Washington, em um artigo na semana passada.

Concessões Econômicas

A Coreia do Norte tem um histórico de uso de crises nucleares para extrair concessões econômicas. No início da década de 1990, começou a remover barras de combustível usadas de seu reator nuclear, potencialmente para prepará-los para uso em armas, obrigando os EUA a considerar um ataque militar contra as instalações. O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter interveio e intermediou as negociações que levaram à ajuda energética e garantias de segurança dos EUA.

Após primeiro teste nuclear da Coreia do Norte em 2006, as negociações de desarmamento multinacionais levaram a uma promessa de ajuda econômica e energética em troca do fechamento de suas instalações nucleares. Pyongyang, desde então, saiu das negociações e reabriu as instalações.

Legitimidade

Kim Jong Un teve pouco tempo para ser preparado como sucessor antes da morte de seu pai, Kim Jong Il, em 2011, e tem procurado justificar o seu poder com a adesão ao "songun", ou política de militares primeiro, de seu predecessor. Acredita-se que o dirigente tenha pouco mais de 30 anos, e já realizou metade dos quatro testes nucleares da Coreia do Norte além de acelerar o programa de seu pai para desenvolver um míssil balístico de longo alcance capaz de atingir os EUA.

"Kim não está sendo imaturo, mas inteligente quando produz armas nucleares", disse Chun Yung Woo, ex-negociador nuclear sul-coreano do Instituto Asan Institute for Policy Studies em Seul, em comentários por e-mail. "Assegurar um elemento dissuasivo é mais importante mesmo que leve a um maior isolamento".

Atraso

A Coreia do Norte está ficando para trás em comparação com seu vizinho do sul na capacidade de travar uma guerra convencional com a ampliação do fosso entre suas economias.

Enquanto Kim tem mais de um milhão de soldados sob seu controle, a maior parte do equipamento militar está desatualizado e é ineficaz. O regime tem procurado compensar isso com o desenvolvimento de submarinos, hackers, mísseis de longo alcance e, é claro, bombas nucleares.

Estima-se que o país gastou algo entre US$ 700 milhões e US$ 10 bilhões por ano no desenvolvimento de armas nucleares. Isso é significativo para um país com um produto interno bruto de US$ 28 bilhões, de acordo com o Bank of Korea. É menos do que o necessário para reavivar sua economia moribunda, disse Park Chang Kwon, pesquisador sênior do estatal Korea Institute for Defense Analyses em Seul.

China

O desenvolvimento nuclear da Coréia do Norte foi acelerado no início de 1990, após o colapso da União Soviética, um de seus principais aliados na época.

A Coréia do Norte agora sente que a China, seu único grande aliado, está mudando de lado, ao aprofundar os laços com a Coreia do Sul. Pyongyang está acelerando o desenvolvimento nuclear para reduzir sua dependência de Pequim.

"A Coréia do Norte está tentando sair da sombra da China", disse Park. "A China tem muito menos influência sobre a Coréia do Norte agora. O regime de Kim é muito orgulhoso de suas armas nucleares para se curvar à pressão chinesa".