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Êxodo de bonds de mercados emergentes mostra risco de calotes

Gabrielle Coppola

29/01/2016 17h05

(Bloomberg) - Os calotes entre mutuários de mercados emergentes aumentarão neste ano depois que os investidores venderam a maior quantidade de dívida da história desses países em 2015, o que aumenta o risco de vendas forçadas e fechamentos de mercados de bonds.

Os calotes de mercados emergentes subirão para US$ 26 bilhões em 2016, em comparação com US$ 18 bilhões em 2015, escreveu neste mês em um relatório David Spegel, diretor de estratégia global do ICBC Standard Bank para mercados emergentes em Londres. Isto acarreta que a taxa de calotes entre os emissores de países em desenvolvimento deveria atingir 4 por cento por volta de novembro de 2016, frente a 2,39 por cento em dezembro de 2015, disse ele.

Economias, como a do Brasil, que está cambaleando por um escândalo de corrupção, e a da Rússia, barrada dos mercados de capitais por sanções, estão lidando com uma desaceleração do crescimento e com a queda nos preços das commodities. As empresas poderiam ter dificuldades para refinanciar dívidas neste ano depois que as vendas de bonds em moeda estrangeira caíram 22 por cento nos mercados emergentes em 2015, estima Spegel. Por enquanto, empréstimos bancários e ofertas de ações cobriram parte da inatividade causada pelo fechamento de mercados de bonds, mas os calotes poderiam disparar se as empresas tiverem que depender dessas cordas de segurança durante um período prolongado, por exemplo, seis meses, disse ele.

"Levaria muito tempo, mas poderia acontecer", disse ele em entrevista por telefone de Londres na quinta-feira. "Estamos muito perto da beira do abismo em muitos, muitos pontos - há pouco dinheiro, os bancos têm tido que abrir suas carteiras de empréstimos por um bom tempo já e os investidores locais vêm comprando e comprando. E será que eles continuarão comprando se os preços continuarem baixando? Não tenho certeza".

Retirada

Gerentes de fundos retiraram quase US$ 80 bilhões da dívida de mercados emergentes no segundo semestre do ano passado, em comparação com US$ 52 bilhões em 2008, segundo Spegel. Os bonds corporativos se saíram particularmente mal - eles perderam US$ 89 bilhões, quase o dobro dos fluxos líquidos de saída de 2008, ainda que como porcentagem do total de ativos o atual êxodo não seja tão intenso.

O nível de dívida inadimplente nos mercados emergentes, bonds que rendem 10 por cento ou mais acima dos títulos de referência do Tesouro dos EUA, continua muito abaixo do mercado de junk bonds dos EUA, em parte porque investidores locais em lugares como a China, a Rússia e a Turquia intervieram para comprar bonds em dólares de empresas locais como refúgio de suas próprias moedas, disse Spegel.

Contudo, anos de taxas de juros quase zeradas e medidas de estímulo dos bancos centrais que penalizam os investidores por reterem dinheiro têm minimizado o montante que eles mantêm pronto. Isso, combinado com amortizações de fundos e com a redução dos próprios ativos corporativos pelos operadores de bonds, acarreta que haveria uma proteção muito pequena para absorver outra rodada de vendas.