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Bancos questionam revolução chilena de energia renovável

Laura Millan Lombrana

21/10/2016 12h20

(Bloomberg) -- As empresas de energia renovável que estão prometendo a eletricidade mais barata na história do Chile podem ter exagerado. Bancos e investidores estão rejeitando os riscos.

Empresas como a Solarpack Corporación Tecnológica e a Mainstream Renewable Power prometeram fornecer eletricidade a preços entre US$ 29,10 e US$ 41,10 por megawatt-hora após obter contratos neste ano. Agora, tudo o que precisam é alguém que lhes empreste o dinheiro.

"Suponho que elas terão dificuldade para conseguir financiamento", disse Juan Lago, gerente de financiamento de projetos de energia do Banco Security, em uma conferência sobre energia renovável na quarta-feira em Santiago. "Nem todos os acordos de aquisição de energia têm lucro garantido."

O leilão de contratos para fornecer 12.430 gigawatts-hora de energia durante 20 anos atraiu um número recorde de interessados em agosto, que ofereceram os preços mais baixos já vistos no Chile. O governo comemorou os resultados como uma rara vitória após mais de dois anos de crescimento econômico lento, inflação acima da meta e escândalos de financiamento. Contudo, essa história de sucesso pode não ser tudo o que parece.

"Estamos falando de projetos muito alavancados e é possível ter problemas para financiá-los porque, afinal de contas, o risco é para o banco", disse Carlos López, gerente de financiamento de projetos do BBVA no Chile.

Projetos adiados

A Solarpack transferiu seu contrato de fornecimento de 100 gigawatts-hora para a First Solar e não construirá as duas usinas solares que planejava. A Ibereólica obteve um contrato de 195 gigawatts-hora, que só ficará pronto em abril de 2017, quatro meses depois do esperado.

A Mainstream Renewable Power obteve a maioria dos contratos no leilão do ano passado com a Aela, sua joint venture com a empresa de private equity Actis Asset Management, e deveria ter iniciado a construção de dois parques eólicos em outubro para poder começar a operar no começo de 2017. O financiamento para os projetos ainda não está pronto. Projeta-se que a empresa encerrará o financiamento no começo de novembro, disse Bart Doyle, presidente da Aela, em entrevista por telefone.

Essas empresas injetarão eletricidade em um sistema já distorcido pela disparada da eletricidade associada a geradores que dependem de condições meteorológicas. No norte da rede central do Chile, os preços à vista costumam cair para zero nos momentos de maior radiação solar.

Preços problemáticos

Isso é um problema, até mesmo para as companhias que obtiveram contratos de oferta de longo prazo no leilão deste ano. No sistema multinodal do Chile, os geradores de energia renovável não vendem eletricidade diretamente à rede. Eles a vendem a preços à vista na região local, muitas vezes no norte, e depois a compram de outros geradores onde a maioria dos usuários mora -- geralmente no sul.

As empresas de energia podem recorrer a investidores para financiar projetos, mas preços implacáveis oferecerão retornos mais baixos, de 8 por cento ou 9 por cento, em comparação com os números de dois dígitos anteriores, segundo Ben Moody, diretor executivo da Pan American Finance, uma empresa de investment banking e assessoria.

"Vai ser muito difícil conseguir retornos de dois dígitos em um mercado que mudou muito drasticamente", disse Moody na conferência de quarta-feira. "Obter financiamento é mais complicado com esses preços porque a margem de erro é menor."