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Análise: Energia nuclear pode resolver crise do smog em Pequim

David Fickling

04/01/2017 13h39

(Bloomberg) -- Quando a temperatura cai para níveis congelantes em um país com quase 1,4 bilhão de pessoas, a energia necessária para manter essa população aquecida aumenta muito.

Esse é um dos principais motivos pelos quais as cidades do norte da China passaram grande parte dos últimos 30 dias sufocadas em um ar poluído e tóxico.

A concentração de partículas em áreas ao norte de Xangai que eram aptas a receber subsídios estatais de aquecimento e retêm um legado de geração de carvão tende a ser cerca de 55% maior que nas regiões ao sul, segundo um estudo feito em 2013 -- o suficiente para reduzir em cerca de cinco anos e meio a expectativa de vida.

Embora a construção impetuosa de capacidade nova de geração de energia renovável da China possa tornar a situação menos extrema, esse efeito é menos sentido no inverno, quando reservatórios estão baixos, o céu escurece, a velocidade do vento cai e o smog se instala.

Melhorias na rede elétrica do país poderiam aliviar a situação ao permitir que as cidades no norte da China utilizem mais energia gerada pelas vastas instalações hidrelétricas, eólicas e solares no oeste do país, mas é improvável que isso baste para deter o smog.

Mesmo medindo segundo a geração total, falta oferta de eletricidade renovável nos meses mais frios.

Uma ausência notável na matriz energética do país é a energia nuclear. Embora seja mais cara que a renovável -- e muito mais cara se os gastos astronômicos de desativação forem incluídos --, a vantagem é que sua disponibilidade não depende do clima.

O melhor caminho da China para um futuro com menos carbono implicará reduzir a proporção do carvão na matriz energética, de três quartos.

Isso envolverá muitos fatores, como um melhor isolamento, um grande aumento da capacidade de energia renovável e mais gás natural para atender às necessidades de aquecimento no inverno. Mas também deveria envolver uma maior proporção de energia nuclear para substituir a geração com carvão ao longo do ano. E é isso que o país não está conseguindo.

Entre os maiores consumidores de energia, somente o Japão tem uma proporção de geração nuclear menor do que o 2,4 por cento da China, e o número superava 10 por cento antes de 2011, quando o acidente em Fukushima Daiichi fechou grande parte da capacidade do país.

Esse padrão está mudando rapidamente. A China, com 35 usinas nucleares em operação, está construindo mais 21 e projetando outras, segundo a Associação Nuclear Mundial. O país atingiu os primeiros 20 gigawatts de capacidade de geração só em 2015; ele deveria acrescentar a mesma quantidade novamente em 2020.

Contudo, essa trajetória reverte os planos mais ambiciosos pensados antes de Fukushima. A meta atual da China, de 58 gigawatts de capacidade nuclear em 2020, é inferior à projeção de 70 a 80 gigawatts feita antes do desastre, e as ambições de geração para 2050 são de uns 210 gigawatts, 47% menores.

A recuada da China com as instalações nucleares provavelmente foi uma boa ideia, devido aos temores fundados sobre a segurança de sua primeira geração de usinas. Contudo, se continuar adiando, o país garantirá para si um futuro com uma proporção de carvão maior em sua matriz de aquecimento para o inverno.

Quem tentar respirar o ar sufocante de Pequim neste mês talvez se pergunte se essa é a decisão certa.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.