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Governo está dividido sobre venda da Embraer para a Boeing, dizem fontes

Cristiane Lucchesi, Julie Johnsson e Rachel Gamarski

18/01/2018 16h28

(Bloomberg) -- O governo brasileiro está dividido em relação à proposta da Boeing para assumir o controle da Embraer, disseram três pessoas com conhecimento direto do assunto.

O time do Ministério da Fazenda considera um acordo vital para a sobrevivência da Embraer e está mais disposto a discutir uma possível mudança de controle, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as negociações são privadas.

Já no Ministério da Defesa, mais suscetível à pressão das Forças Armadas, há uma resistência à ideia de aquisição, disseram as pessoas. A equipe de Defesa propõe uma parceria entre as duas empresas e argumenta que a Embraer é chave ao desenvolvimento tecnológico no país e desempenha um papel estratégico, disseram as pessoas.

As negociações em nome do governo brasileiro estão sendo comandadas pelo Ministério da Defesa, segundo oficiais do Palácio do Planalto, da Fazenda e da Defesa. Nenhum dos três quis fazer comentários para esta reportagem.

Eleições podem atrapalhar negociação

A campanha para as eleições presidenciais deste ano vai pesar na balança de uma decisão, pois parte do eleitorado pode considerar que a venda do controle da Embraer seria como entregar a joia da coroa industrial do país.

No início deste mês, pessoas familiarizadas com as discussões disseram à agência de notícias Bloomberg que as empresas estavam pressionando por um acordo em breve, em meio ao risco de que uma oposição política ao negócio se avolumasse às vésperas das eleições de outubro. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que avalia se candidatar à presidência do país.

A Boeing quer uma estrutura na qual ela ganha o controle da Embraer e está aberta a discutir uma divisão da empresa brasileira, com o governo mantendo poderes sobre o negócio de defesa, as pessoas disseram. Enquanto o Ministério da Fazenda poderia estar aberto a essa proposta, o da Defesa não está, de acordo com as pessoas.

Governo tem poder de veto em decisões estratégicas

O Brasil detém uma "golden share" na Embraer que dá ao governo o poder de veto sobre uma mudança de controle, bem como sobre as principais decisões estratégicas. A Boeing poderia aceitar manter a "golden share" para questões de defesa e ganhar o controle total sobre as outras questões, disseram as pessoas.

Um acordo entre a Boeing e a companhia brasileira daria à fabricante norte-americana uma aeronave na categoria de cem lugares para enfrentar a nova ameaça da Airbus SE, que concordou em outubro a assumir o controle do programa C Series da Bombardier.

O jato canadense, que compete com os maiores aviões comerciais da Embraer, é alvo de uma reclamação comercial dos Estados Unidos apresentada pela Boeing.

Os analistas do Bradesco atribuíram uma probabilidade de 60 por cento de que as negociações terminem com a Boeing adquirindo uma participação minoritária na Embraer, sem mudanças substanciais nas perspectivas para a empresa.

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