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Especialista e fazendeiros reclamam de decisão de abater javalis

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

06/02/2013 06h00

O biólogo Carlos Salvador, pesquisador de javalis em SC e doutor em ecologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), vê com ressalvas a medida do Ibama que autoriza abates de javalis que ameaçam a produção agrícola. "É fraca, porque o Estado [de Santa Catarina] não irá conseguir controlar quantos animais foram caçados, e se de fato a população está se reduzindo. Ela veio apenas para satisfazer os agricultores, que cobravam por medidas de controle."

"Pior ainda, pode acontecer o efeito inverso. Já há propriedades que cobram para oferecer a caça esportiva dos javalis. Alimentando esse mercado, a instrução normativa pode contribuir para que a população de javalis aumente. E para que os animais cheguem a outros locais que ainda não enfrentam o problema, levados por interessados em oferecer a caça", argumenta.


Para Salvador, falta uma "política de gestão de fauna" ao país. "Na prática, o que o Ibama faz é outorgar à sociedade a tarefa de destruir fauna exótica. Precisamos de um regulamento sobre a caça esportiva, um tema tabu no Brasil."

De seu lado, agricultores também enxergam com ressalvas a medida do Ibama. “O processo é muito burocrático. Há muito pouca gente habilitada a caçar. E precisa ser bom caçador apara panhar javali. Quem não é vem aqui, não pega nada e não volta mais", diz José Forresti, presidente do Sindicato Rural de Ponte Serrada, um dos municípios limítrofes ao Parque Nacional das Araucárias, no oeste catarinense. "Aqui na região, devemos ter umas dez pessoas habilitadas, que abatem uns 100 a 120 animais por ano."

Além de ariscos, os javalis são agressivos. "Quando se aponta a arma, eles avançam. Já mataram muitos cães. É incrível, são animais que não têm medo de gente", diz Forresti.

Na propriedade de Forresti, três pessoas estão habilitadas, legalmente, a caçar os javalis. "É um trabalho voluntário, feito por dois aposentados e um jovem que se interessa por caça."

Como há poucos caçadores, alguns agricultores acabam por tentar resolver o problema por conta própria. "Um ou outro javali o pessoal pega, com armadilhas. Mas não pode falar para ninguém. Se admitir, a Polícia Ambiental dá multa", afirma.

Também há quem cobre para fazer o serviço –em geral, clandestinamente. "Há quem faça para ganhar um trocado, em geral vendendo a carne dos animais abatidos. E alguns agricultores oferecem uma ovelha ou algum dinheiro a cada número de javalis mortos", diz o empresário Giovanni Zanella, que caça javalis com autorização no Oeste e na Serra catarinense.

Sem esperanças de ver os javalis erradicados –ao menos em curto prazo–, Forresti e outros agricultores investem para manter os animais longe de suas lavouras. "Já cerquei uns 100 hectares da minha propriedade. Uma cerca resistente, com um mourão por metro e dez fios de arame. Isso depois de já perder até R$ 30 mil por ano com a destruição das culturas de milho e soja", conta.