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Feira tem Gabriela com chocolate, vinho de cacau e protesto de fazendeiro

Armando Pereira Filho

Do UOL, em Ilhéus (BA)

10/07/2013 06h00

Um manequim da personagem Gabriela, de Jorge Amado, coberto com um vestido de chocolate, foi um dos destaques do 5º Festival Internacional de Chocolate e Cacau realizado em Ilhéus (BA) na semana passada. Além do vestido, também eram de chocolate o cabelo, a flor, o anel, a pulseira e o colar. O corpo inteiro do manequim foi pincelado com chocolate.

O encontro de cinco dias, que reuniu plantadores de cacau e fabricantes de chocolate, teve curso e concurso de bolo, receita de doces, decoração com chocolate, produtos diferentes (como vinho e amêndoa de cacau caramelada), palestras de escritores estrangeiros e nacionais sobre o tema, discussões acerca do futuro da economia da região, reclamações e protestos de fazendeiros.

A região, cuja riqueza dos "coronéis" agricultores foi retratada na obra do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), é a maior produtora de cacau do Brasil. O fruto é a principal matéria-prima do chocolate.

No fim dos anos 80, uma doença, chamada de vassoura-de-bruxa, que destrói o fruto e é causada por um fungo que gosta de umidade, dizimou as plantações e fez desabar a produção.

A safra brasileira de cacau chegou a 400 mil toneladas por ano antes da doença. No pior momento, caiu a menos de um quarto (90 mil toneladas). Na safra 2012/13, chegou a 240 mil toneladas, o melhor resultado em 18 anos, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

As indústrias de chocolate passaram a importar mais cacau, principalmente da África e da Ásia, derrubando ainda mais os preços pagos pelo fruto nacional para os agricultores.

Os produtores se endividaram, ficaram sem crédito por causa das dívidas e, segundo eles, muitos de seus filhos não quiseram continuar no negócio por causa do prejuízo.

A abertura do evento em Ilhéus teve manifestações de fazendeiros descontentes com os preços do cacau e com as providências tomadas por autoridades e técnicos.

Novo remédio, plantas clonadas e produção de chocolate gourmet

Agora, a produção está sendo retomada. Pesquisadores da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, do Ministério da Agricultura) desenvolveram um remédio contra a doença, ainda aguardando aprovação, e orientam os agricultores sobre técnicas de plantio para controlar a praga.

Novas variedades de cacau estão sendo desenvolvidas e clonadas pelos pesquisadores e por fazendas particulares. A ideia é ter tipos diferentes e até personalizados do fruto, como uvas específicas para vinhos distintos. Cada cliente poderá comprar cacau feito ao seu gosto, para industrializar e conseguir um produto diferenciado.

Além disso, os fazendeiros investem na fabricação de chocolate gourmet, com 50% a 70% de cacau. Com isso, dominam todo o ciclo, da extração à industrialização. Isso barateia custos e dá mais dinheiro do que só vender o fruto.

Cacau foi retratado no universo de Jorge Amado

A referência aos personagens de Jorge Amado no festival de Ilhéus ocorre porque o escritor nasceu em Itabuna (BA), a 28 km de Ilhéus, morou na cidade e ambientou histórias lá, como "Gabriela, Cravo e Canela" (ainda funcionam na cidade o Bataclan, antes um bordel e agora um restaurante, e o Vesúvio, bar do personagem Nacib, patrão e amante de Gabriela).

O vestido e os demais complementos de chocolate de Gabriela foram feitos por Giulina Cupini, confeiteira de famosos como Otávio Mesquita, Adriane Galisteu, Luciana Gimenez, Jota Quest e Cláudia Leite. A cor branca do vestido é obtida com um preparo especial.

Ela é formada na escola americana de decoração de bolos Wilton School of Cake Decorating, em Chicago, e se especializou em chocolates em cursos na Itália e na França.

O chef Lucas Corazza, apresentador do programa "A Confeitaria", no canal pago Bem Simples, e que trabalhou com Alex Atalla (D.O.M.), também fez esculturas menores e comestíveis de chocolate representando o universo de Jorge Amado.

O jornalista americano Mort Rosenblum, autor do livro "Chocolate: Uma Saga Agridoce Preta e Branca", fez uma palestra em que defendeu a qualidade dos pequenos produtores e criticou as grandes indústrias de chocolate.

A agrônoma francesa Chloé Doutre-Roussel, especialista em chocolate, autora do livro "The Chocolate Connaisseur", também participou do encontro.

Um encontro similar ao de Ilhéus está previsto para setembro, no Pará, outro Estado importante na produção de cacau.

(O jornalista Armando Pereira Filho viajou a convite da MVU Eventos, organizadora do 5º Festival Internacional de Chocolate e Cacau de Ilhéus)