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Imposto no país esconde desigualdade, diz autor que critica capitalismo

AFP
Imagem: AFP

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

26/11/2014 16h21Atualizada em 26/11/2014 18h18

O economista francês Thomas Piketty,  autor do best seller "O Capital no Século 21", disse que os dados sobre Imposto de Renda e de patrimônio no Brasil são pouco transparentes e de difícil acesso.

Em São Paulo para participar de debate na USP (Universidade de São Paulo) nesta quarta -feira (26), Piketty afirmou que a falta de transparência atrapalha a elaboração de estatísticas e, consequentemente, de políticas tributárias.

"Nós sabemos que a desigualdade social é alta no país,  mas ela deve ser ainda mais alta do que mostram as pesquisas", disse. Até mesmo os resultados das pesquisas variam muito, a ponto de uma apontar que o país é mais desigual que os Estados Unidos e outra apontar o contrário, segundo ele.

A ausência de uma série histórica de dados detalhados sobre tributação impediu que o país fizesse parte da análise apresentada por Piketty em seu livro. Nele, o autor estuda a dinâmica global de distribuição de renda e riqueza em mais de 20 países desde o século 18. Outros países não entraram na análise pelo mesmo motivo.

Tributação progressiva da riqueza

Com mais de 700 páginas, a obra conclui que muitos países com taxas de crescimento baixas estão voltando a uma situação de acumulação de riqueza por poucos, o que era a regra até a Primeira Guerra. Os gastos com o conflito diminuíram a concentração de renda, que começou a subir novamente nos anos 1980 e, para o francês, é nociva para o próprio capitalismo.

Piketty defendeu, no debate, que os países tributem progressivamente a riqueza. “Não podemos tributar igualmente quem ganha US$ 1.000, US$ 10.000 e US$ 1 milhão”, diz.

Um ponto importante dessa tributação seria incluir o capital financeiro na conta. “Quase todos os países já cobram impostos sobre a riqueza. O problema é que as políticas fiscais foram criadas numa época em que eram os imóveis que representavam a maior parte dela”, disse. “Hoje, é o capital financeiro que tem maior participação na riqueza acumulada.”

O aumento da tributação de heranças também foi outra medida sugerida pelo economista. “Você deveria pagar menos impostos se produziu algo com o seu trabalho e mais se recebeu sua riqueza de alguém”, falou.

O economista Paulo Guedes, que participou do debate, disse acreditar que o aumento dos impostos sobre heranças é inevitável. “Quando o imposto de renda foi criado, houve resistência. A mesma coisa acontece com a questão da herança.”

Piketty, Guedes, André Lara Resende, economista também presente no evento, disseram que, além de mudanças na política tributária, é necessário investir em educação para combater a desigualdade social.

“Meu livro não é pessimista ou apocalíptico”, disse Piketty. “Eu acredito na globalização. O que precisamos é das políticas certas para todos se beneficiarem dela de maneira equilibrada.”