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Manter juros no mesmo nível apesar da inflação alta? Estratégia é criticada

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

20/01/2016 21h00

O Banco Central manteve a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, em meio a inflação alta e crescimento em baixa. A decisão divide opiniões.

A Selic é um dos instrumentos usados pelo BC para influenciar a inflação. Quando os juros sobem, o consumo cai, porque os financiamentos ficam mais caros, e as famílias tendem a gastar menos. Por outro lado, juros altos dificultam o crescimento, sobretudo em um momento de recessão e desemprego, como o que o Brasil enfrenta.

UOL conversou com especialistas para saber se eles apoiam a decisão de manter os juros inalterados.

  • A favor: alta dos juros não seguraria a inflação

Dilma manda beijo - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

O BC agiu bem porque a alta dos juros não teria efeito algum na inflação, segundo Francisco Prisco, vice-presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo). O que fez a inflação subir tanto, segundo ele, foram:

  • os preços administrados (cujos reajustes são controlados pelo governo, como conta de luz e gasolina);
  • os preços indexados (que usam a inflação como referência, como contratos de aluguel);
  • e a alta do dólar, que encarece produtos importados. 

Ele diz que a Selic não afeta diretamente esses fatores e, além disso, o mercado já espera que a inflação comece a cair em breve, mesmo sem a alta dos juros. 

Subir os juros funciona quando a inflação está ligada ao consumo elevado, que não é o caso agora, na opinião da economista e professora de MBA da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Virene Matesco.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o consumo das famílias tem caído no último ano. 

A alta da Selic só pioraria o quadro de recessão, segundo ela. "O crédito já está caro e o empresário já não está investindo por causa do ambiente de incerteza", diz. "Subir os juros é como botar um lacre em uma torneira fechada."

Endividamento do governo

Além disso, os juros maiores aumentariam o endividamento do governo, que já está muito alto, de acordo com a economista.

Para se financiar, o governo vende títulos de dívida; os investidores compram esses títulos no presente em troca de, no futuro, receber o dinheiro de volta mais os juros. Logo, subir os juros significa que o governo vai ter que pagar mais para obter recursos.

“Chega um momento em que os juros ficam tão altos que o mercado começa a duvidar da capacidade do governo de honrar seus compromissos”, diz Matesco.

  • Contra: subir os juros faria a inflação cair

Dilma faz cara feia - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

O economista e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman diz que a inflação de 2015, afetada por preços controlados pelo governo e alta do dólar, é passado, e que a alta dos juros poderia, sim, ajudar a segurar a inflação neste ano.

"O BC não pode fazer rigorosamente nada contra a inflação que já passou. A questão é a inflação de 2016 e de 2017", diz.

A alta dos juros, segundo Schwartsman, faria cair a expectativa de inflação e, consequentemente, a inflação em si.

"Suponha que um empresário vai definir, no início do ano, o preço do seu produto. Se ele acha que a inflação no ano vai ser de 10% [expectativa de inflação], acaba embutindo esses 10% no preço final", diz.

Se o BC tivesse subido os juros, o consumo cairia ainda mais. Então, segundo Schwartsman, o empresário não repassaria a expectativa de inflação para o preço ao consumidor. "Se repassasse, ele simplesmente não conseguiria vender". Assim, a inflação diminuiria.

Fábio Serrano, economista sênior do banco de investimentos Haitong, concorda. "O empresário saberia que, com os juros mais altos, a economia desaceleraria. Então, ele deixaria de subir os preços, mesmo perdendo rentabilidade, para manter seu espaço no mercado, e a inflação cairia."

Se não subir agora, vai ser pior no futuro

Schwartsman e Serrano dizem, ainda, que o BC está apenas adiando a decisão de subir os juros.

"Estamos empurrando com a barriga a luta contra a inflação desde 2011, quando seria possível levá-la para a meta com juros de no máximo 14%", diz Schwartsman. "Agora, vamos precisar de juros mais altos e recessão para conseguir diminuir a inflação."