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O que aconteceria à economia com Lula ministro? Especialistas avaliam

Aiana Freitas

Colaboração para o UOL, de São Paulo

16/03/2016 20h21Atualizada em 18/03/2016 19h11

A conturbada ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Ministério da Casa Civil significaria, para analistas, um sinal claro de que o governo pretende retomar sua antiga política econômica, baseada no aumento da oferta de crédito e no estímulo ao consumo.

A nomeação está sendo duramente contestada, com manifestações de rua, e a posse em si enfrenta um vai e vem na Justiça, sendo suspensa e revalidada num curto espaço de tempo. 

Os economistas ouvidos divergem sobre o impacto que essas iniciativas podem ter na crise. Eles fizeram essa análise antes de ser divulgada a gravação que mostra que a presidente Dilma Rousseff teria agido para evitar possível prisão de Lula e de haver os protestos de rua.

"Esse discurso [de crédito e consumo] é inapropriado para o momento", diz Otto Nogami, economista e professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

Para José Nicolau Pompeo, economista e professor da PUC-SP, a chegada de Lula é positiva. "A entrada dele no governo está ligada a um grande acordo que vai minimizar o impacto político da crise. E essa crise é mais política do que econômica."

Crescimento da economia

Otto Nogami acha que a política de estímulo ao crédito pode ter efeito positivo no curto prazo. Antes da nomeação de Lula, a expectativa era de que a economia brasileira, que teve queda de 3,8% em 2015, tivesse uma desaceleração ainda maior neste ano, na casa dos 4,1%, segundo ele.

Se a chegada de Lula resultar em mais crédito na praça, a população tende a comprar mais, o que pode ajudar a melhorar essa projeção. "Mas o resgate do crescimento sustentável, que era esperado até 2018, será adiado", afirma.

Isso porque, segundo o professor do Insper, o crescimento baseado no aumento do crédito resultaria em mais endividamento no futuro.

A economista Virene Matesco, professora da FGV, concorda. "A tendência é ficar na mesmice de editar medidas provisórias e dar incentivos, estimular alguns setores, como a construção civil", diz. "Ele chega desgastado, sem apoio para tomar medidas econômicas que levariam o país a ter um crescimento sustentável, como reformas da previdência e das leis trabalhistas."

Dívidas em alta

O aumento da inadimplência é um dos maiores efeitos negativos que podem resultar do estímulo ao crédito, diz Nogami. Para ele, o problema está em estimular o consumo não por meio do aumento da renda, mas por meio do endividamento da população.

"As famílias já estão muito endividadas e isso tende a agravar a situação, tornando o problema pior no longo prazo."

Emprego

Os especialistas acreditam que o aumento do crédito e do consumo pode resultar, no curto prazo, na alta da geração de empregos. Com mais demanda, as empresas teriam de aumentar a produção, tenderiam a contratar mais funcionários ou poderiam evitar demissões que estavam previstas para este ano.

Para Nogami, o aumento no emprego será pequeno. Pompeo acredita num efeito mais positivo. "As empresas estão dando calote, e os números de recuperações judiciais [antigas concordatas] triplicaram. O crédito é a única saída para evitar que as empresas quebrem e fazer com que gerem emprego", diz.

Inflação

Se a população passar a consumir mais, e as empresas não tiverem condições de atender ao aumento da demanda, os preços devem continuar em alta, diz Otto Nogami.

Investimentos

Virene Matesco não vê efeitos positivos na economia com a chegada do ex-presidente Lula ao governo. "Ele chega com um capital político muito menor do que o que tinha no passado. A influência dele no Congresso é mínima", diz.

Por causa disso, segundo ela, o mercado financeiro vê esse momento com muita desconfiança. "Há um clima de desânimo, com queda da Bolsa e alta do dólar", afirma.

Nogami diz que as ações de bancos devem ser muito afetadas. "Se o governo estimular o crédito no atual cenário, que é de risco muito alto para os bancos, as ações deles devem ter quedas expressivas."