Crise pode ser âncora do Titanic e abortar recuperação do Brasil em 2018
A retomada do crescimento da economia poderá sofrer um revés devido à crise política provocada pela delação premiada de Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, envolvendo o presidente Michel Temer.
A crise pode segurar a economia como uma âncora do Titanic e abortar o crescimento esperando para 2018, na comparação feita por economistas ouvidos pelo UOL.
Eles avaliam que o caso deve abalar o clima de confiança de empresários e investidores, além de atrasar o avanço das reformas trabalhista e da Previdência no Congresso, essenciais para que o governo consiga colocar as contas públicas em dia.
Empresas vão adiar investimentos
O cenário turbulento e a incerteza sobre como ficará o governo devem fazer com que empresários adiem seus planos de investimento, o que será percebido principalmente em 2018, explica Otto Nogami, professor de economia do Insper.
"O xis da questão é o investimento. Se eu não tenho visibilidade sobre o que vai acontecer, vou parar e pensar duas vezes antes de investir. Essa postergação [adiamento] nos planos das empresas vai afetar o crescimento da economia lá na frente."
Âncora do Titanic e crescimento abortado
"O crescimento de 2018 pode ser simplesmente abortado", diz Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ e economista da Órama Investimentos.
"Voltamos a crescer pouco mais de 1% no primeiro trimestre. Mas a economia de um país é como um Titanic. Você não para o navio de uma hora para outra. Portanto, em 2017, você ainda vai ter algum crescimento, mesmo que pequeno. Já para 2018, a história pode mudar completamente", afirma.
Espírito Santo avalia que a polêmica envolvendo o presidente Michel Temer pode funcionar como a "âncora do Titanic", afetando a continuidade da recuperação no ano que vem. Analistas consultados pelo boletim Focus, do Banco Central estimavam, no início desta semana, uma alta de 0,5% no PIB em 2017 e crescimento de 2,5% em 2018.
Desemprego em alta
Se a economia não reagir, o desemprego também não vai diminuir, alertam os economistas. "Infelizmente, o desemprego é a pior variável econômica dentro desse cenário porque ele é o último a responder à melhora da economia. Se a economia não melhora, o desemprego fica na mesma", diz Espírito Santo.
Reforma trabalhista e da Previdência paradas
Outro fato que vai prejudicar a economia no médio prazo será a paralisação nas discussões sobre as reformas trabalhistas e da Previdência, necessárias para que o governo consiga reduzir o deficit fiscal.
"A aprovação das reformas torna-se ainda mais difícil neste cenário de instabilidade política. Mesmo que haja troca do governo, dificilmente um presidente com mandato-tampão até 2018 vai ter força política suficiente para avançar nesses temas. Tudo indica que a discussão sobre as reformas ficará parada até o fim do ano que vem", afirma Nogami.
Juros não devem baixar tanto
O Banco Central, que vinha firme na estratégia de reduzir os juros básicos da economia (taxa Selic), pode adotar maior cautela diante das mudanças recentes no cenário político e diminuir o ritmo de corte da taxa.
"A condução da política econômica depende muito do que é feito na política propriamente. Como agora temos uma ferida aberta na política, fica mais difícil achar saídas para a política econômica", afirma Nogami, do Insper.
Para Espírito Santo, da Órama, ainda há espaço para o Banco Central cortar juros, mas em ritmo menor, entre 0,5 e 0,75 ponto percentual, inferior ao corte de 1 ponto adotado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
"Evidentemente, o BC terá que ser mais cauteloso porque o dólar, outra variável importante para a política monetária, mexeu bastante." Na quinta-feira (18), a cotação do dólar subiu mais de 8%, para R$ 3,389.
A desaceleração no ritmo de corte da Selic também é mais um fator que prejudica a retomada da economia, já que juros altos desestimulam empresários a pedir empréstimos para investir na produção e também encarecem os planos dos consumidores de adquirir produtos ou bens por meio de financiamentos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.