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Crise pode ser âncora do Titanic e abortar recuperação do Brasil em 2018

Daniel Marenco/Folhapress
Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/05/2017 04h00Atualizada em 26/05/2017 10h32

A retomada do crescimento da economia poderá sofrer um revés devido à crise política provocada pela delação premiada de Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, envolvendo o presidente Michel Temer.

A crise pode segurar a economia como uma âncora do Titanic e abortar o crescimento esperando para 2018, na comparação feita por economistas ouvidos pelo UOL.

Eles avaliam que o caso deve abalar o clima de confiança de empresários e investidores, além de atrasar o avanço das reformas trabalhista e da Previdência no Congresso, essenciais para que o governo consiga colocar as contas públicas em dia.

Empresas vão adiar investimentos

O cenário turbulento e a incerteza sobre como ficará o governo devem fazer com que empresários adiem seus planos de investimento, o que será percebido principalmente em 2018, explica Otto Nogami, professor de economia do Insper.

"O xis da questão é o investimento. Se eu não tenho visibilidade sobre o que vai acontecer, vou parar e pensar duas vezes antes de investir. Essa postergação [adiamento] nos planos das empresas vai afetar o crescimento da economia lá na frente."

Âncora do Titanic e crescimento abortado

"O crescimento de 2018 pode ser simplesmente abortado", diz Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ e economista da Órama Investimentos.

"Voltamos a crescer pouco mais de 1% no primeiro trimestre. Mas a economia de um país é como um Titanic. Você não para o navio de uma hora para outra. Portanto, em 2017, você ainda vai ter algum crescimento, mesmo que pequeno. Já para 2018, a história pode mudar completamente", afirma.

Espírito Santo avalia que a polêmica envolvendo o presidente Michel Temer pode funcionar como a "âncora do Titanic", afetando a continuidade da recuperação no ano que vem. Analistas consultados pelo boletim Focus, do Banco Central estimavam, no início desta semana, uma alta de 0,5% no PIB em 2017 e crescimento de 2,5% em 2018.

Desemprego em alta

Se a economia não reagir, o desemprego também não vai diminuir, alertam os economistas. "Infelizmente, o desemprego é a pior variável econômica dentro desse cenário porque ele é o último a responder à melhora da economia. Se a economia não melhora, o desemprego fica na mesma", diz Espírito Santo.

Reforma trabalhista e da Previdência paradas

Outro fato que vai prejudicar a economia no médio prazo será a paralisação nas discussões sobre as reformas trabalhistas e da Previdência, necessárias para que o governo consiga reduzir o deficit fiscal.

"A aprovação das reformas torna-se ainda mais difícil neste cenário de instabilidade política. Mesmo que haja troca do governo, dificilmente um presidente com mandato-tampão até 2018 vai ter força política suficiente para avançar nesses temas. Tudo indica que a discussão sobre as reformas ficará parada até o fim do ano que vem", afirma Nogami.

Juros não devem baixar tanto

O Banco Central, que vinha firme na estratégia de reduzir os juros básicos da economia (taxa Selic), pode adotar maior cautela diante das mudanças recentes no cenário político e diminuir o ritmo de corte da taxa.

"A condução da política econômica depende muito do que é feito na política propriamente. Como agora temos uma ferida aberta na política, fica mais difícil achar saídas para a política econômica", afirma Nogami, do Insper.

Para Espírito Santo, da Órama, ainda há espaço para o Banco Central cortar juros, mas em ritmo menor, entre 0,5 e 0,75 ponto percentual, inferior ao corte de 1 ponto adotado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

"Evidentemente, o BC terá que ser mais cauteloso porque o dólar, outra variável importante para a política monetária, mexeu bastante." Na quinta-feira (18), a cotação do dólar subiu mais de 8%, para R$ 3,389.

A desaceleração no ritmo de corte da Selic também é mais um fator que prejudica a retomada da economia, já que juros altos desestimulam empresários a pedir empréstimos para investir na produção e também encarecem os planos dos consumidores de adquirir produtos ou bens por meio de financiamentos.