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Baunilha brasileira é usada para cosméticos e rende até R$ 750 mil no Pará

Semente de cumaru no Pará - Aloyana Lemos/Divulgação
Semente de cumaru no Pará Imagem: Aloyana Lemos/Divulgação

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/12/2021 04h00

Pequenos extrativistas (catadores) de comunidades ribeirinhas e quilombolas, instalados em propriedades rurais na região norte do Pará, devem comercializar até 10,5 toneladas de sementes de cumaru, a baunilha brasileira, a partir da safra 2021, que termina nesse mês. O produto é vendido para empresas de cosméticos inglesas.

Os negócios de venda de sementes podem gerar até R$ 750 mil nesta safra para todo o grupo de 200 extrativistas, organizados numa cooperativa. As projeções de ganho são do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), de Piracicaba (SP). Os trabalhadores ficam com 65% a 70% do dinheiro. O restante vai para o entreposto e a cooperativa.

Os agricultores buscam as sementes de cumaru na mata, na região da Calha Norte do Rio Amazonas. Cumaru é uma semente de uma árvore que pode chegar a 30 metros. Já a baunilha original é uma fava de orquídea.

A semente de cumaru pode ser utilizada na indústria de cosméticos - na composição de fragrâncias - e na gastronomia, para incrementar receitas de sobremesas e bebidas. O município de Alenquer é um dos principais polos de cumaru do país, com 36% da produção brasileira.

Para operacionalizar a cadeia na cidade, foram estabelecidos dois entrepostos comunitários no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Paraíso e instalados secadores solares para as sementes, além de treinamento por consultores da empresa e técnicos do Imaflora, para garantir a qualidade do produto.

Em Oriximiná, um entreposto foi estabelecido na sede da Cooperativa na zona urbana da cidade e outro foi estabelecido em um território quilombola na zona rural.

"Fora a geração de renda e conservação da floresta, o extrativismo também é um aliado no monitoramento do território, já que os extrativistas percorrem longos trajetos até chegar nas áreas de coleta e, nesse deslocamento, podem identificar invasões e áreas desmatadas, por exemplo", explicou Jonas Gebara, Coordenador de Projetos do Imaflora.

Recentemente, o Instituto lançou um aplicativo para auxiliar as comunidades extrativistas na detecção de focos de incêndio e desmatamento em áreas florestais.

Além de gerar alertas para ameaças, as informações levantadas também poderão ser usadas pelas comunidades para a gestão de seus territórios, para que possam tomar decisões sobre melhores áreas de plantio ou extrativismo.

Mudas para estimular a economia da região

O Imaflora, que atua na região com projetos de assistência técnica rural e infraestrutura, agora vai montar um viveiro na cidade de Alenquer, que é o principal produtor de baunilha brasileira, para que os ribeirinhos também consigam produzir mudas, de cumaru e de outras árvores nativas da região, como castanha, andiroba, ipê, cedro, mogno e massaranbuba, além de frutíferas nativas: açaí, cacau, acerola, graviola e cupuaçu.

O objetivo é que os agricultores possam, em 2022, comercializar até 60 mil mudas.

"O viveiro vai permitir que agricultores familiares possam converter áreas atualmente sem uso ou ocupadas por pastagens degradadas, por sistemas agroflorestais biodiversos, com foco na soberania alimentar e geração de renda a partir da comercialização do excedente da produção", explicou Eduardo Trevisan, gerente de projetos do Imaflora.

Segundo ele, o viveiro também abre a oportunidade da associação representante do território planejar a recuperação de áreas desmatadas com o plantio de espécies florestais que, além de contribuir com serviços ambientais, podem gerar renda para a comunidade por meio da comercialização de produtos florestais não madeireiros.

Os projetos instalados nas comunidades são um dos eixos do Imaflora, com a promoção de cadeias florestais agropecuárias.

Desde 2010, o programa Florestas de Valor, que foi desenvolvido na região, busca a estruturação da cadeia produtiva do cumaru em Oriximiná e Alenquer, promovendo o comércio justo com empresas, que pagam um valor acima da média de mercado para a produção.

Hoje, de acordo com o instituto, existem mais de 200 extrativistas apoiados nas duas cidades, que comercializam esse produto junto a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), formada por indígenas, quilombolas e ribeirinhos.