Compra de importados pela internet cai com vaivém de taxação de asiáticos

O número de compras importadas de pequeno valor caiu em abril e maio em meio à polêmica da possível taxação de compras em sites de gigantes asiáticas, como Shopee, AliExpress e Shein. O governo recuou e decidiu manter a isenção a encomendas de até US$ 50, mas especialistas ouvidos pelo UOL dizem que a forma como o assunto foi abordada pela equipe econômica foi "precipitada" e com "informações desencontradas" que "geraram insegurança".

O que aconteceu

Em abril, as importações de pequeno valor despencaram 20% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O montante somou US$ 701 milhões, bem abaixo que o registrado em abril de 2022, quando o valor somou US$ 878 milhões. No começo de abril, o governo anunciou que acabaria com a isenção de impostos para encomendas no valor de até US$ 50. Poucos dias depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou atrás e decidiu não mudar as regras.

Em maio, o volume de encomendas aumentou, mas ainda ficou 2,3% abaixo do registrado em maio do ano passado. O valor totalizou US$ 916 milhões, ante R$ 937 milhões em maio de 2022. Os dados foram divulgados nesta semana pelo Banco Central e abrange as encomendas internacionais que chegam ou saem do Brasil transportados pelos Correios ou por empresas privadas de transporte expresso internacional porta a porta.

Possível taxação deixou os consumidores mais receosos. Segundo Leonardo Baltieri, co-CEO da Vixtra, fintech de comércio exterior, volume importado teve uma queda brusca e ficou bem mais baixo do que o esperado. "Em janeiro e fevereiro, é normal que haja uma queda nas vendas por questões de sazonalidade. Mas ao longo dos meses as vendas vão se recuperando, o que não aconteceu", afirma.

Trapalhada do governo ao anunciar medida

Recuo do governo ocorreu após repercussão negativa da proposta nas redes sociais e pressão de Lula. A avaliação no Planalto foi que Haddad foi pouco habilidoso com o tema e que a arrecadação estimada, de R$ 8 bilhões, não compensa o estresse provocado pelas críticas. Na prática, o fim da isenção faria com que todos os produtos enviados para o Brasil fossem taxados em 60%, o que teria impacto direto no preço final.

Mesmo com o recuo do governo, os rumores sobre a taxação tiveram impacto na importação de produtos de pequeno valor. "Toda aquela discussão, aquele vaivém, um monte de notícias massificadas em março, obviamente que gera insegurança nas pessoas. As pessoas ficam mais cautelosas e isso explica, sim, parte dessa queda", diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria de varejo Varese Retail.

O aumento da fiscalização pode ser outro fator que contribuiu para a queda. Alberto Serrentino, fundador da consultoria de varejo Varese Retail, diz que a queda também pode estar relacionada a um aumento na fiscalização dos pacotes que chegam ao Brasil. Haddad afirmou que o governo vai reforçar a fiscalização e a criação de um grupo para estudar práticas internacionais contra sonegação por parte de empresas que enviam produtos burlando as regras atuais.

O cenário econômico também pode ter influenciado na queda das compras. Ana Paula Tozzi, sócia da AGR Consultores, diz que o consumidor pode estar mais preocupado com seu orçamento. "Na nossa visão, o consumidor, já assustado com o pouco que vem sobrando na sua carteira ao final do mês, está inseguro em comprar nos sites chineses com medo da tributação não prevista em suas contas", afirma.

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Os números são assustadores. Você olha o gráfico, os meses de março de cada ano, pré-notícia, quatro anos seguidos de altas relevantes. O principal fator é a confiança [do consumidor nas marcas]. As plataformas se estruturaram melhor, com menos fraude, aumentou o número de sellers.
Leonardo Baltieri, co-CEO da Vixtra

A desorganização e os desencontros das informações não é positivo para nenhum negócio. Traz insegurança e imprevisibilidade para que empresas e empresários invistam no país e no setor. Assim, claro que ninguém sai ganhando com esse tipo de precipitação. Nem o governo.
Ana Paula Tozzi, sócia da AGR Consultores

Como fica daqui para frente

Expectativa é de aumento gradual das compras nos próximos meses. "Vai voltar aos poucos, dado que não vai ter a taxação, pelo menos por enquanto. Mas muita gente não tem acesso à informação. Teve um barulho tão grande que acharam que tinha sido implementado [a taxação das compras]", afirma Baltieri.

A partir do dia 1º de julho, empresas que fazem remessas internacionais terão que seguir novas regras da Receita Federal. O órgão vai exigir que as empresas que enviam pacotes internacionais ofereçam mais informações a respeito do pacote. Ainda não está claro, entretanto, como as mudanças irão impactar as compras de importados feitas pela internet.

Um caminho para resolver o problema da taxação seria a cobrança direta no carrinho de compras. Segundo Serrentino, não há capacidade para fiscalizar todos os pacotes que chegam ao país. Hoje os tributos só têm sido pagos quando as encomendas são barradas pela Receita Federal.

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Procurado pelo UOL, o Ministério da Fazenda disse que não vai comentar o assunto.

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