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Telefónica oferece R$ 20,1 bi por GVT em nova tentativa de comprar empresa

Leila Abboud e Alberto Alerigi Jr.

05/08/2014 07h38Atualizada em 05/08/2014 14h53

5 Ago (Reuters) - A Telefónica anunciou nesta terça-feira proposta de R$ 20,1 bilhões para compra da operadora brasileira GVT, mais que o dobro do valor oferecido pelo grupo espanhol cinco anos atrás, quando perdeu a disputa para a francesa Vivendi.

O anúncio da oferta fazia as ações da Telefônica Brasil despencarem mais de 5% na Bovespa, diante de leituras iniciais de que o valor pela GVT é alto. Os papéis da rival TIM tombavam acima de 6%, diante da avaliação do mercado de perda de interesse do grupo espanhol pela unidade brasileira da Telecom Italia.

A oferta envolve pagamento à vista de R$ 11,962 bilhões e o restante com a emissão de novas ações pela Telefônica Brasil, equivalentes a 12% do capital da empresa após a compra da GVT, operadora fundada em 2000 por Amos Genish, presidente-executivo e ex-oficial militar de Israel.

Além disso, em um esforço para cortar o custo do acordo, a Telefónica ofereceu à Vivendi a chance de adquirir 8,3% de participação que possui na Telecom Italia, na qual tenta reduzir sua fatia para apaziguar preocupações de autoridades de defesa da concorrência no Brasil.

"Apesar do valor elevado, vemos esse fato como positivo para as ações da Telefônica, pois diminuiria um competidor em sua região (São Paulo) e permitiria à empresa expandir em outras regiões do Brasil no segmento fixo, especialmente onde a GVT já tem infraestrutura", afirmaram analistas da CGD Securities em relatório.

Para os analistas, a oferta é negativa "para as ações da TIM, visto que afastaria a possibilidade da Vivo (marca usada pela Telefônica no Brasil) comprar a TIM". Eles acrescentaram que "a fusão entre TIM e GVT não mais ocorreria, deixando a operadora móvel em posição isolada no mercado brasileiro".

Telefônica tentou comprar GVT em 2009

A Telefônica tentou comprar a GVT em 2009, em uma guerra de ofertas que acabou sendo vencida pela Vivendi.

Naquela ocasião, a unidade brasileira do grupo espanhol começou a disputa com oferta de R$ 48 por ação da GVT, que depois foi elevada para R$ 50,50, equivalente a cerca de quase R$ 7 bilhões por toda a GVT, na época.

A Vivendi acabou oferecendo R$ 56 por papel da empresa em uma operação polêmica que foi classificada pelo presidente da Telefônica Brasil, Antônio Carlos Valente, como "gol de mão".

A oferta desta terça-feira da Telefônica Brasil e da Telefónica foi feita depois que o presidente do Conselho de Administração e maior acionista da Vivendi, Vincent Bollore, disse no fim de junho que gostaria de manter seu último ativo restante de telecomunicações, apesar de se reposicionar como uma empresa de mídia.

Em comunicado, a empresa francesa disse que nenhuma de suas unidades está à venda, mas que vai considerar a oferta do grupo espanhol na próxima reunião de seu Conselho.

Segundo a Telefônica Brasil, a oferta é válida até 3 de setembro, mas o prazo pode ser ampliado.

Momento crucial, com leilão de 4G

O anúncio da proposta também ocorre em um momento de forte movimentação no mercado de telefonia no Brasil, com um edital bilionário de licenças 4G suspenso na segunda-feira pelo Tribunal de Contas da União (TCU), uma consolidação das empresas do grupo mexicano América Móvil no país e em que a Oi enfrenta grandes dificuldades financeiras diante dos efeitos do colapso do grupo português Espírito Santo.

Procurada, a Telefônica afirmou que não vai se manifestar sobre a oferta pela GVT além do comunicado enviado ao mercado. A empresa ainda não deu indicações claras sobre se vai participar do leilão das licenças 4G, que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pretende realizar no começo de setembro. A Anatel também preferiu não comentar a oferta do grupo Telefónica pela GVT.

Rivais podem lançar ofertas

A oferta da Telefónica também pode disparar interesse de outros compradores. Quando a Vivendi tentou vender a GVT em 2012, a empresa atraiu interesse de um consórcio liderado pela empresa de investimentos KKR e pela operadora de TV por satélite DirecTV, que agora está sendo comprada pela norte-americana AT&T.

A Vivendi decidiu não vender na ocasião por entender que a oferta era muito baixa.

Uma fonte próxima da administração da Vivendi afirmou nesta terça-feira que a oferta da Telefónica é um "bom preço para uma primeira proposta", mas ainda não está claro o que o chairman e maior acionista do grupo francês vai querer fazer.

A fonte afirmou ainda que a Telecom Italia pode entrar na briga e que provavelmente é muito cedo para a DirecTV, uma vez que seu acordo com AT&T ainda está sendo alvo de avaliação de reguladores.

"Eu creio que vai acabar sendo uma guerra entre os espanhóis e os italianos", disse a fonte. "Mas uma decisão de vender a GVT tem enormes implicações para a Vivendi", acrescentou, afirmando que a empresa francesa não teria um uso imediato para o dinheiro levantado com uma eventual venda do ativo brasileiro.

Além disso, Bollore, que acabou de assumir o comando da Vivendi, tem dito que seu objetivo é criar uma companhia de mídia coerente, por meio de aquisições e fazendo suas operações de TV paga, música e a GVT trabalhando de forma mais integrada.

A Vivendi pode ir à mesa de negociação se novas ofertas surgirem, escreveram analistas da Liberum. "Acreditamos que a Vivendi venderá. A GVT não se encaixa na estratégia informada de ser uma empresa de mídia e conteúdo."

(Reportagem adicional de Sarah Morris, em Madri, e Leonardo Goy, em Brasília)