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Alemanha rejeita proposta da Grécia para extensão de financiamento

Por Renee Maltezou e Jan Strupczewski
Imagem: Por Renee Maltezou e Jan Strupczewski

19/02/2015 11h33

Por Renee Maltezou e Jan Strupczewski

ATENAS/BRUXELAS (Reuters) - A Alemanha rejeitou nesta quinta-feira uma proposta grega para a extensão por seis meses de seu acordo de empréstimo com a zona do euro, dizendo não ser "uma solução substancial" porque não compromete Atenas a cumprir as condições de seu resgate internacional.

A postura de Berlim - descrevendo o pedido grego cuidadosamente redigido como um "cavalo de Tróia" para fugir de compromissos - montou o cenário para as difíceis negociações dos ministros das Finanças da zona euro na reunião de sexta-feira. O novo governo de esquerda da Grécia está correndo para evitar ficar sem dinheiro dentro de semanas e vai enfrentar pressão para fazer mais concessões em Bruxelas.

Como o maior credor da União Europeia, a Alemanha tem cacife para bloquear um acordo e deixar a Grécia à deriva sem uma linha de financiamento, potencialmente empurrando o país em direção à saída da zona euro. No entanto, autoridades de outras capitais europeias viram a resposta alemã como uma postura tática e preveem um acordo até o fim de semana, depois de mais disputas.

Uma autoridade grega disse que o primeiro-ministro do país, Alexis Tsipras, teve uma conversa telefônica de 50 minutos com a chanceler alemã, Angela Merkel, na quinta-feira, possivelmente a primeira interação importante entre os dois líderes desde que o atual governo de Atenas foi eleito, em 25 de janeiro.

"A conversa foi realizada em um clima positivo, orientada no sentido de encontrar uma solução mutuamente benéfica para a Grécia e a zona do euro", disse a autoridade. Um porta-voz alemão confirmou a conversa, mas não quis comentar sobre o conteúdo.

Mais cedo, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, apresentou formalmente o pedido de prorrogação do empréstimo, após dias de negociações reservadas com a Comissão Europeia e o presidente do Eurogrupo de ministros de Finanças do bloco monetário.

Enquanto as autoridades em Bruxelas, Paris e Roma receberam bem o esforço do governo grego, eleito com uma plataforma antiausteridade, para encontrar uma fórmula viável, autoridades alemãs disseram que a proposta está cheia de lacunas, sem compromisso de respeitar os termos do resgate.

O porta-voz do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, disse que a proposta grega não cumpria os critérios acordados pelo Eurogrupo e "vai no sentido de um financiamento ponte sem cumprir as exigências do programa".

As objeções de Berlim provocaram uma resposta de Atenas, que questionou se a Alemanha falou em nome dos outros ministros das Finanças da zona euro, cujos assessores já estavam em Bruxelas avaliando as opções durante reunião na tarde de quinta-feira.

"O Eurogrupo amanhã tem apenas duas opções: aceitar ou rejeitar o pedido grego", disse uma autoridade grega. "Ficará claro, então, quem quer encontrar uma solução e quem não quer".

Em seu pedido de extensão, a Grécia se comprometeu a manter o equilíbrio fiscal durante o período do acordo, promover reformas imediatas para combater a evasão fiscal e a corrupção, e adotar medidas para lidar com o que Atenas chama de "crise humanitária" e dar a arrancada no crescimento econômico, disse ele.

No documento visto pela Reuters, a Grécia prometeu cumprir as suas obrigações financeiras para com todos os credores, reconhecer o programa da UE/FMI existente como uma estrutura legal com a qual está comprometida e abster-se de ação unilateral que coloque em risco as metas fiscais.

O governo grego aceita que a prorrogação seja monitorada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, um recuo de Tsipras, que tinha prometido acabar com a cooperação com os inspetores da troika, acusados ​​de infligir profundo dano econômico e social à Grécia.

Mas o documento não compromete a Grécia a atingir um superávit primário equivalente a 3 por cento do Produto Interno Bruto do país este ano, como prometido no programa de resgate.

Tsipras quer reduzir a meta de superávit a 1,5 por cento para permitir maiores gastos para aliviar o sofrimento dos pobres. O documento fala apenas em atingir um "superávit primário apropriado".

O período de seis meses seria usado para negociar um acordo de longo prazo para a recuperação e o crescimento, incorporando novas medidas de alívio da dívida prometidas pelo Eurogrupo em 2012.

(Reportagem adicional de George Georgiopoulos e Lefteris Papadimas em Atenas, Jan Strupczewski e Alastair Macdonald em Bruxelas e Madeline Chambers e Noah Barkin em Berlim)