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Convergência da inflação à meta em 2016 melhorou, mas é preciso manter vigilância, diz Copom

Patrícia Duarte

06/08/2015 09h43

SÃO PAULO (Reuters) - A convergência da inflação para o centro da meta em 2016 tem se fortalecido e os riscos desse cenário são "condizentes com efeitos acumulados e defasados da política monetária", mas que ainda é preciso manter-se "vigilante em caso de desvios significativos".

Esse foi o recado principal dado pelo Banco Central nesta quinta-feira, por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), reforçando a ideia de que o ciclo de alta dos juros básicos deve ter chegado ao fim, mas deixando uma porta aberta para voltar a subi-los se algo mais grave acontecer.

"Os riscos remanescentes para que as projeções de inflação do Copom atinjam com segurança o objetivo de 4,5% no final de 2016 são condizentes com o efeito defasado e cumulativo da ação de política monetária", trouxe a ata. "Mas exigem que a política monetária se mantenha vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta.

Na semana passada, o BC elevou a Selic em 0,5 ponto percentual --a 14,25% ao ano, maior nível em nove anos-- e sinalizou que estaria interrompendo esse ciclo monetário, que começou em outubro passado e gerou alta acumulada de 3,25 pontos percentuais.

O BC afirmou, e reafirmou na ata, que a manutenção desse patamar da taxa por "período suficientemente prolongado" é necessário para a convergência da inflação para o centro da meta --de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos-- no fim de 2016.

"O BC sinalizou que acabou o ciclo (de aperto) e que a queda (da Selic) vai depender, em parte, da política fiscal", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, para quem a Selic permanece no atual nível até abril de 2016, quando passará a cair, fechando o ano a 11,25%.

Pela ata, o BC argumentou que a "estratégia de política monetária está na direção correta", diferentemente do que defendia nos documentos anteriores, de que os "avanços alcançados no combate à inflação... ainda não se mostram suficientes".

Fiscal

O BC avaliou ainda que as mudanças na geração de superávit primário impactam as projeções de inflação e que os ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação. No mês passado, o governo reduziu fortemente as metas de economia para pagamento de juros da dívida em meio ao cenário de recessão econômica e instabilidade política.

Diante disso, o BC reafirmou que "a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los a 2015".

"O Copom pode voltar a elevar juros, mas num cenário em que tenha um desvio muito grande em relação ao que se projeta para o ano que vem. Ele se colocou uma barreira para voltar a aumentar o juro que é relativamente alta", afirmou o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo.

Pela ata, o Copom informou ainda que as mudanças na geração de superávit primário impactam as projeções de inflação e "podem contribuir para criar uma percepção menos positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo". Mesmo assim, acredita que o setor público tende a ir para a zona de neutralidade, "e não descarta a hipótese de migração para a zona de contenção, mesmo que com menor intensidade".

O quadro político e econômico turbulento, combinado com o salto do dólar em relação ao real, já vinha levando alguns investidores a apostarem que a autoridade monetária pode ter de elevar novamente os juros em setembro, próximo encontro do Copom.

Segundo cálculos da Reuters, desde a véspera, os DIs mostravam chances praticamente iguais de manutenção da Selic no próximo mês e elevação de 0,25 ponto, a 14,50%.

Pela pesquisa Focus do BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, as expectativas de alta do IPCA para este ano são de 9,25%, recuando a 5,40% em 2016 e a 4,70% em 2017. Somente no ano seguinte, ela ficaria no centro da meta, de 4,5%.

Só em julho, o dólar subiu 10% sobre o real, acumulando nos primeiros sete meses do ano quase 30% de valorização. E, nesta semana, ultrapassou R$ 3,50, maior cotação em 12 anos.

Sem especificar números e pelo cenário de referência --que leva em consideração dólar a R$ 3,25 e Selic a 13,75%--, a autoridade elevou sua estimativa de inflação para 2015, permanecendo acima da meta, e manteve para 2016, também acima da meta.

Num movimento duro, os economistas da Bradesco Corretora passaram a ver outra alta da Selic de 0,5 ponto em setembro, ante estimativa de estabilidade. "O cenário de câmbio atual, o resultado da decepção com os resultados fiscais e a incerteza política dificilmente devem trazer alívio para as projeções de inflação. Pelo contrário, deve-se esperar revisão de alta das projeções de inflação para 2016 na pesquisa Focus", escreverem em nota a clientes.

(Reportagem adicional de Silvo Cascione, em Brasília)

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