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Análise: Quais os próximos gigantes da economia? O Brasil será um deles?

Jim O"Neill é economista e ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management - Andy Hall/The New York Times
Jim O'Neill é economista e ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management Imagem: Andy Hall/The New York Times

Jim O'Neill

17/12/2014 06h00

O que na verdade constitui um gigante econômico? Todos sabemos que os Estados Unidos são um deles — sua economia ainda compõe cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) global, apesar de um relativo declínio modesto nos últimos anos. Mas quem mais? E a palavra "gigante" se refere apenas à dimensão econômica, ou deveria também ser o reflexo da riqueza de um país, a prosperidade do seu povo e outras medidas de seu estilo de vida — talvez até das suas liberdades?

Não é fácil fazer distinções simples, exceto para os Estados Unidos, que, em praticamente todos os critérios, estão facilmente no topo desse grupo e que, pelo menos nos próximos 20 ou 30 anos, parecem determinados a continuar assim.

A dimensão econômica de um país é essencialmente orientada por dois fatores de longo prazo: sua força de trabalho, em termos do número de pessoas capacitadas e sua produtividade. O tamanho da força de trabalho baseia-se principalmente na demografia do país, apesar de ser influenciada por políticas de imigração, posicionamento sobre a idade para se começar a trabalhar e idade de aposentadoria. Então, em geral, as maiores economias do mundo tendem a se localizar em lugares onde há muita gente. No mundo desenvolvido, os Estados Unidos têm a maior economia principalmente porque têm uma grande população e continuarão à frente de outros países "desenvolvidos" nas próximas décadas. A menos, é claro, que a zona do euro se torne um "país".

Na lista das 20 maiores economias do mundo, a maioria tem grandes populações. No mundo desenvolvido, o Japão (nº 3), a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Itália encontram-se entre os dez primeiros, embora suas classificações relativas tenham caído na última década, quando China, Brasil e Rússia entraram no grupo. Ainda nesta década e na próxima (2021-30), a Itália pode ter problemas para se manter entre os dez primeiros, bem como outras economias tidas como desenvolvidas, excetuando-se os Estados Unidos.

Brics - Sergei Karpukhin/Reuters - Sergei Karpukhin/Reuters
Dilma Rousseff e demais líderes dos Brics, em São Petersburgo, na Rússia
Imagem: Sergei Karpukhin/Reuters

As economias do Japão e da Alemanha podem ser consideradas grandes pelos padrões de países desenvolvidos, mas essas nações não são gigantes econômicos. A China tem a segunda maior economia do mundo; tornou-se quase o dobro da do Japão e agora é na verdade maior do que a da Alemanha, da França e da Itália combinadas.

A China é um gigante? Se sua economia já não é gigantesca, certamente está indo nessa direção. Além de ser tão grande quanto a soma das três maiores economias da Europa continental, a economia da China é cerca de 55% do tamanho da dos Estados Unidos em dólares e, com base em estimativas recentes do Programa de Comparação Internacional do Banco Mundial, é provavelmente um pouco maior do que a dos Estados Unidos em termos de paridade de poder de compra.

É também, em termos de dólar americano, uma vez e meia maior do que a soma das outras três economias dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China)  e, se o seu crescimento continuar na casa dos 7% ou 7,5%, com cerca de 3% de inflação, e o valor da sua moeda, o yuan, permanecer estável ou ligeiramente mais alto, ela adicionará outro US$ 1 trilhão ao PIB global a cada ano. Já mencionei várias vezes que a China adiciona uma Índia à economia mundial a cada dois anos.

Mesmo assim, parece-me que, embora a riqueza atual da China aproxime-se de US$ 7.000 ou $ 8.000 per capita por causa de seu 1,3 bilhão de pessoas, bem inferior à dos Estados Unidos e outras economias desenvolvidas, ela deve ser considerada um gigante.

É a única das quatro economias dos Brics que continua a corresponder às minhas expectativas e previsões anteriores. No caminho para 2050, presumi que a economia da China cresceria aproximadamente 7,5% nesta década. A última vez que atualizei minhas suposições foi em 2010 e, até agora, o país tem crescido 8,2% — mais do que pensei. Sua taxa de crescimento diminuiu e provavelmente diminuirá mais, mas ainda acredito que em 2025-27, a economia da China terá uma chance razoável de se tornar tão grande quanto a dos Estados Unidos em termos de dólar americano. Ela já é o principal parceiro comercial de muitos países — tanto em exportações quanto em importações — e seria de se esperar que, antes que esta década acabe, possivelmente um pouco antes, a China irá substituir os Estados Unidos como maior importador do mundo. Na perspectiva dos outros países, a China certamente será um gigante econômico.

China - Forbes Conrad/The New York Times - Forbes Conrad/The New York Times
Ponte e rodovia elevada em construção em Guangzhou, na China
Imagem: Forbes Conrad/The New York Times

Muitos têm falado sobre as decepções causadas por investimentos na China, mas isso não é totalmente verdade. Os índices das ações chinesas mais populares podem ter tido uma performance ruim se comparados a outros índices principais, mas alguns mercados chineses como o Shenzhen estão se saindo bem. Os investidores precisam focar na "nova" China e evitar a "velha" China, dar preferência aos investimentos no consumidor chinês e em energia e tecnologia novas e alternativas e não às empresas com produção de baixo valor ou com alto consumo de matéria-prima do passado.

E quanto aos outros países dos Brics? Alguns anos depois de ter criado a sigla em 2001, sugeri que a economia dos Brics deveria ser vista como a que já estava produzindo, ou que tivesse o claro potencial para produzir, 5% do PIB mundial ou mais. A China é a única que se qualifica, mas na época eu acreditava que as outras três economias tivessem esse potencial. Hoje, as economias de Brasil, Índia e Rússia estão todas gerando cerca 3% do PIB global, semelhante à Itália. Mas as grandes populações desses países e as reformas para aumentar a produtividade ainda significam que suas economias têm uma chance razoável de ir além da marca de 5%. Eles podem se tornar gigantes um dia.

Neste momento, estou bastante confiante de que a Índia vai dar esse salto — sua economia tem uma boa oportunidade de se tornar a terceira maior do mundo antes de 2040. O país tem uma demografia excepcionalmente favorável e, ao eleger o primeiro-ministro Narendra Modi, a Índia aproveitou a melhor chance em pelo menos 30 anos de ter um governo que não seja sufocado por sua democracia, mas que floresça com ela. O mercado acionário percebeu, e acredito em uma repactuação positiva e continuada dos investimentos indianos.

As economias do Brasil e da Rússia têm razões diferentes para suas recentes desilusões, mas compartilham um dilema comum: elas são muito dependentes de commodities voláteis. A menos que possam afastar essa dependência, seus caminhos permanecerão voláteis, sofrendo a influência da instabilidade dos preços dessas commodities.

México - Omar Torres/AFP - Omar Torres/AFP
Fábrica da Honda no Estado de Guanajuato, no México
Imagem: Omar Torres/AFP

A economia do Brasil em particular precisa mudar de rumo, independentemente de sua liderança política. O governo tem de criar incentivos e espaço para mais investimento do setor privado e precisa parar de usar diretivas para controlar tanto a economia. Com as reformas, o Brasil e a Rússia poderiam gerar mais de 5% do PIB mundial.

Quanto ao resto dos países mais povoados do mundo, acredito que nenhum tem uma chance realista de produzir 5% ou mais do PIB mundial, mas há alguns que poderiam atingir a faixa entre 3% e 5%, ou maior do que a Itália, que é atualmente a oitava economia do mundo.

México, Indonésia, Nigéria e Turquia — as chamadas economias MINT — juntamente com a mais desenvolvida Coreia do Sul, têm essa chance. De certa forma, vai ser especialmente interessante examinar o México até o fim desta década, já que a escala das reformas empreendidas por seu governo é ampla. Essas medidas devem ajudar a aumentar a taxa de crescimento consideravelmente em relação ao desempenho insuficiente da economia nos últimos 20 anos ou mais. A criação de uma indústria de energia mais competitiva com custos de eletricidade mais baratos pode não resolver todos os problemas do país, mas muitos setores da economia devem se beneficiar.

Viajei várias vezes para todas as quatro nações do MINT nos últimos 12 meses. Há muitos desafios, mas todas têm grande potencial e poderiam se tornar "minigigantes", mesmo que não na escala de alguns de seus colegas do Bric.