IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Após euforia eleitoral, Bovespa fecha em queda pressionada por Vale

28/08/2014 17h56

Após subir mais de 4% em apenas três pregões desta semana, a bolsa brasileira finalmente passou por correção nesta quinta-feira, influenciada pelo aumento da aversão ao risco no mercado internacional. As ações da Vale concentraram as perdas do dia, diante de dados mais fracos da economia chinesa e uma nova rodada de baixa no preço do minério de ferro.

Rússia e Ucrânia voltaram a se estranhar, motivando maior cautela por parte dos investidores. A cidade fronteiriça de Novoazovsk e outras partes do sudeste do país sucumbiram ao controle de forças russas, que junto com rebeldes da Ucrânia estariam contra-atacando militares do governo de Kiev. Moscou, por outro lado, diz não ter envolvimento nos conflitos.

A tensão na Europa acabou encobrindo uma nova rodada de dados fortes da economia americana, como a revisão do PIB do segundo trimestre, que mostrou expansão de 4,2%, acima dos 3,8% esperados pelos economistas e dos 4,0% apresentados na primeira revisão. As bolsas fecharam em baixa tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

Aqui, o recuo na Bovespa aconteceu em meio a uma pausa no noticiário eleitoral. O mercado acompanhou ontem à noite a sabatina de Marina Silva no "Jornal Nacional" e agora aguarda a divulgação da pesquisa Datafolha, am anhã à noite. No entanto, é pouco provável que a pesquisa traga algo diferente do apresentado por Ibope e MDA/CNT, divulgadas no começo desta semana.

O Ibovespa fechou em baixa de 1,08%, para 60.290 pontos. O volume financeiro foi forte pelo segundo pregão seguido, com R$ 9,141 bilhões. Entre as principais ações do índice, quem chamou atenção hoje foi Vale PNA, que despencou 4,11%, para R$ 26,13, com giro elevado, de R$ 1,137 bilhão. Petrobras PN também registrou volume expressivo, de R$ 1,316 bilhão, mas mostrou queda bem mais moderada, de 0,17%, a R$ 22,80.

Os papéis da mineradora refletem a fraca leitura de um índice oficial sobre a produção industrial, que desacelerou para um ritmo de expansão de 13,5% ao ano em julho, após avanço de 17,9% observado em junho, de acordo com dados do instituto nacional de estatística. Além disso, o minério de ferro caiu 1% hoje, para US$ 87,30 por tonelada.

"Os dados oficiais na China não são dos mais confiáveis. A situação deve ser pior do que parece. O mercado imobiliário está despencando por lá, e isso está se refletindo em menor demanda por aço, o que por sua vez repercute sobre o preço do minério de ferro", observa o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "A Vale é uma ótima empresa, tem uma boa gestão, mas o cenário está desfavorável."

Além de Vale, a lista de maiores baixas do Ibovespa trouxe outras mineradoras e siderúrgicas, que também são afetadas pelo cenário de queda de preço do minério e do aço internacionalmente: MMX ON (-5,81%), CSN ON (-5,14%) e Gerdau PN (-4,74%).

No topo do índice apareceram Marfrig ON (3,42%), Hering ON (1,47%) e Cosan ON (1,13%). Os papéis do frigorífico reagiram ao decreto do primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, que pode viabilizar exportações adiciona is de carnes bovina e de frango do Brasil. O decreto é resultado do embargo imposto por Moscou a produtos dos Estados Unidos, União Europeia, Canada e Austrália, como forma de retaliação às sanções impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia.

Construtoras e varejistas também se destacaram em alta, diante da forte correção para baixo nas taxas de juros nos últimos dias. Esses segmentos dependem de linhas financiamento para alavancar suas vendas. Além de Hering ON, subiram MRV ON (1,11%), Lojas Renner ON (0,85%) Pão de Açúcar ON (0,80%), BR Malls ON (0,43%) e Even ON (0,30%).

As ações do "kit Marina" - empresas que tendem a se beneficiar em eventual governo de Marina Silva, em geral ligadas à sustentabilidade - ignoraram a correção do mercado e voltaram a subir hoje. É o caso das sucroalcooleiras Cosan ON, Tereos ON (5,18%) e São Martinho ON (0,97%).

A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou relatório hoje afirmando que a situação econômica da indústria de etanol no Brasil "está piorando", em parte por causa da regulação do preço da gasolina para conter a inflação. Com perspectiva "menos otimista" para o Brasil e os Estados Unidos, a produção mundial de etanol foi revisada para baixo, e deve alcançar 104 bilhões de litros em 2020.

Segundo a AIE, globalmente, o desenvolvimento de energias renováveis está ameaçada de desaceleração nos próximos anos por causa de incertezas de regulação que existem em vários países.

Em entrevista esta semana ao Valor, biólogo João Paulo Capobianco, considerado o principal articula dor de Marina Silva junto ao agronegócio, disse que "o Brasil é o país do etanol, o país do maior sucesso em biocombustível do pl aneta (...) Vamos trabalhar para retirar todos os mecanismos que estão sendo colocados pelo atual governo e que estão levando o setor ao colapso".