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FMI: Emergentes que agiram antes resistiram melhor à volatilidade

03/10/2014 16h32

Países emergentes que agiram antes para enfrentar vulnerabilidades, como Índia e Indonésia, mostraram-se mais resistentes à volatilidade nos mercados no começo deste ano, causada em parte pela expectativa de normalização da política monetária nos EUA, segundo relatório da equipe de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O estudo não cita explicitamente o Brasil como um dos que reagiram melhor à instabilidade de janeiro e fevereiro de 2014, mas o país aparece num dos gráficos como uma das economias cuja moeda pouco sofreu nesse episódio, mostrando um comportamento parecido ao da das divisas da Índia e da Indonésia.

Além de incertezas sobre a política monetária americana, o começo deste ano foi marcado por uma desvalorização forte do peso argentino, pelo aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia e pelo desempenho abaixo do esperado de um indicador da indústria da China. As armas usadas pelos países para lidar com a volatilidade foram principalmente aumentos de juros, provisão de liquidez e intervenção no câmbio, seguidos por remoção de controles de capitais e políticas macroprudenciais.

No relatório, a equipe de analistas do FMI analisa o comportamento de mercados emergentes diante da expectativa de mudanças na política monetária americana. Houve um choque a partir de maio de 2013, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) acenou pela primeira vez que pretendia reduzir as compras de ativos. Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia, apelidados de "cinco frágeis" pelo Morgan Stanley, sofreram forte pressão.

"Esses cinco países viram, em média, o rendimento dos bônus subir 2,5 pontos percentuais, as bolsas caírem 13,75% o câmbio se depreciar em 13,5% e as reservas caírem 4% entre 22 de maio e o fim de agosto de 2013", aponta o relatório. "Os investidores focaram especialmente em países maiores necessidades de financiamento externo e desequilíbrios macroeconômicos."

A ferramenta mais usada para enfrentar a instabilidade parece ter sido a política monetária, afirma o estudo, observando que Brasil, Índia, Indonésia, Rússia, África do Sul e Turquia elevaram os juros. No caso brasileiro, o relatório do FMI destaca a intervenção no mercado de câmbio, por meio da venda de contratos de "swaps" cambiais, notando que o principal objetivo do programa é permitir aos participantes do mercado proteger sua exposição à moeda estrangeira. De acordo com os economistas do Fundo, o Brasil também removeu medidas de controle de capital, apertou a política fiscal (não especificando como) e adotou medidas para provisão de liquidez.

O estudo examina a eficácia das respostas desses países, analisando uma amostra de 12 economias emergentes - Brasil, Colômbia, Índia, Indonésia, Malásia, México, Peru, Polônia, Rússia, África do Sul, Tailândia e Turquia. Os resultados mostram que várias das ações tomadas foram amplamente efetivas para moderar as variações dos preços de ativos, como das moedas, dos bônus e das ações.

Ao analisar as intervenções no câmbio, o estudo sugere que elas conseguem desacelerar o ritmo de desvalorização do câmbio quando a inflação é baixa, a moeda não está sobrevalorizada e o nível de reservas é adequado. O Brasil tem inflação relativamente elevada e o câmbio estava um pouco valorizado há alguns meses, mas as reservas são bastante elevadas, correspondendo em 2013 a quase 200% o nível tido como adequado pelo FMI.

Nesse cenário, as moedas de Brasil, Índia e Indonésia até mesmo se valorizaram entre janeiro e março deste ano, enquanto as da África do Sul e da Turquia tiveram uma pequena depreciação. Naquele momento, o foco do mercado ficou em países que passaram por perdas relativamente grandes de reservas e pressão consideráveis sobre o câmbio, como Ucrânia, Argentina e Cazaquistão, segundo o estudo.