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Dólar atinge maior nível em 9 anos com exterior e incertezas políticas

06/11/2014 17h41

O fortalecimento global do dólar e incertezas no mercado interno em relação à condução da política econômica, que foram reforçadas após divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), levaram o dólar a fechar no maior patamar em nove anos, com o real liderando as perdas entre as moedas emergentes.

O dólar comercial subiu 1,90% e fechou a R$ 2,5627, maior nível desde 19 de abril de 2005, quando fechou a R$ 2,5750. Já o contrato futuro avançava 2,18% para R$ 2,581.

O tom menos "hawkish" que o esperado da ata do Copom frustrou os investidores ao sinalizar que o eventual ciclo de aperto monetário a ser promovido pelo Banco Central pode ser menos intenso e duradouro que o imaginado, o que reduziria a vantagem de se aplicar em reais.

De acordo com analistas, o principal tópico do documento foi a sinalização de que a desvalorização da taxa de câmbio orientou a inesperada alta da Selic na semana passada. Ainda assim, não se viram na ata elementos que sugerissem um ciclo de aperto monetário mais vigoroso, o que para o mercado poderia soar como uma tentativa de reconquista da credibilidade perdida.

Isso só reforçou as incertezas em relação à condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, contribuindo para aumentar o pessimismo dos investidores, que tem se intensificado diante da demora do anúncio da nova equipe econômica e das medidas de ajustes da política fiscal, necessárias para evitar o rebaixamento do rating soberano do Brasil.

A moeda americana acentuou a alta no fim do pregão, após a entrevista da presidente Dilma a jornalistas hoje à tarde. A presidente confirmou que o anúncio da equipe econômica será feito apenas após o seu retorno da reunião de Cúpula do G20, previsto para 17 de novembro. A presidente também afirmou que não convidou o presidente do Bradesco Luiz Carlos Trabuco para o Ministério da Fazenda, o que chegou a ser especulado pelo mercado. A presidente disse que fará ajustes em várias coisas, que as tarifas públicas não estão represadas e "tarifaço" já aconteceu.

Dilma também reforçou que pretende reduzir a inflação, mas ponderou que não quer aumentar o desemprego. "Não vamos desempregar".

A ata Copom mostra que o Banco Central deve seguir com um ciclo de aperto monetário dada a previsão de inflação mais elevada por conta da desvalorização do câmbio.

Na visão do economista-chefe do Barclays para América Latina, Bruno Rovai, a ata do Copom veio com um tom menos "hawkish" que o esperado, o que decepcionou um pouco os investidores.

Entre os sinais "dovish" da ata, Rovai cita a política fiscal, que na visão do banco deve continuar mostrando uma orientação expansionista este ano, mas que o BC vê uma convergência para uma posição neutra no horizonte até 2016.

"Esperamos que o BC pare de subir a taxa de juros e espere para ver se o crescimento econômico evolui à medida que se espera a política fiscal se mover para uma posição neutra."

O risco é de que o câmbio aprecie rapidamente, obrigando o BC a apertar o passo ou prolongar o ciclo de alta de juros.

Para Rovai, se vier o anúncio de algumas medidas que sinalizem uma mudança na condução da política econômica que são aguardadas pelo mercado, principalmente na parte fiscal, o ritmo de depreciação do câmbio tende a ficar mais moderado e poderia abrir espaço para o BC diminuir as intervenções. "Uma sinalização positiva na parte da política econômica, que ajude a reverter o pessimismo do mercado, e o aumento da taxa básica de juros tendem a atrair mais fluxo estrangeiro para portfólio e abrir espaço para o BC reduzir as intervenções no câmbio", destaca.

A tendência, contudo, continua sendo de desvalorização do câmbio em função da expectativa de alta da taxa de juros nos Estados Unidos, prevendo um câmbio a R$ 2,60 para 2015.

Lá fora, o dólar subiu hoje frente às principais moedas com os dados mais melhores que o esperado nos EUA contrastando com um cenário de afrouxamento monetário na Europa.

O Dollar Index, que acompanha o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de divisas, subia 0,66%.

Os pedidos de seguro-desemprego nos EUA caíram para 278 mil na semana encerrada em 1º de novembro, uma queda superior à prevista pelos analistas que era de um recuo para 285 mil. O recuo da taxa de desemprego abre espaço para o Federal Reserve seguir com o plano de normalização da política monetária.