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Empreendedores da educação

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL, em São Paulo

25/04/2014 06h00

Precisamos cada vez mais de empreendedores para a área da educação. Na sociedade de informação, em que a criatividade precisa ser acelerada para dar conta de se transformar em inovações quer em serviços quer em produtos, a educação é vital.

Faz parte desta equação o setor privado. Nele, os empreendedores do setor educacional têm cumprido um papel importante. Pois, mesmo com o aumento e interiorização das universidades federais, o incremento de alunos matriculados e formados pelo setor privado foi mais substancial.

MEC e Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) mostram que, em 2012, superamos 7 milhões de universitários –crescimento de 81% em uma década. E a proporção de novos matriculados nas particulares atingiu 73%, e 77% dos diplomas conferidos.

Isto se deve a vários fatores: a interiorização das instituições, o oferecimento de financiamento via Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), ensino a distância e de cursos de tecnólogos (81% na rede privada), que são mais rápidos e com uma orientação mais prática e aplicada ao mercado de trabalho.

Tanto tem crescido o número de instituições isoladas –faculdades com poucos cursos– quanto tem avançado a expansão de grandes instituições. Ou seja, houve e ainda há espaço de mercado para diferentes perfis de empreendedores.

Também testamos observando aquisições de instituições até por grupos internacionais, como é o caso da Laureate que já é dona de 12 instituições no Brasil como Faculdades Anhembi Morumbi, São Paulo Business School – BSP, FMU, Fadergs (Porto Alegre) e Unifarcs (Salvador).

A Laureate tem aproximadamente 25% de seus alunos no Brasil. Trata-se de um grupo fundado por Douglas Becker, e que teve investidores como a Harvard University, Banco Mundial e o fundo de investimentos de risco KKR.

Por outro lado, grandes redes brasileiras têm aberto seu capital, mostrando que o setor tem oportunidades de negócios e de expansão de uma forma profissionalizada. O setor tem se mostrado uma boa oportunidade, com riscos relativamente baixos para os investidores.

Um exemplo é a Anhanguera, fundada há mais de 20 anos por professor de cursinho de vestibular, o Antonio Carbonari Netto. Em 2013 foi anunciada a fusão da Anhanguera com o grupo Kroton, somando mais de um milhão de alunos e mais de 2000 cursos de doutorado a graduação.

Outra que cresceu desde uma simples faculdade de direito, no Rio de Janeiro, em 1970, graças ao magistrado empreendedor João Uchôa Cavalcanti Netto, que adiciona outras faculdades, e se transforma na Universidade Estácio em 1988.

Ultrapassou as fronteiras do Estado do Rio para se posicionar hoje em 21 Estados e no Distrito Federal, numa expansão acelerada pela abertura de capital – associou-se ao GP Investments – que, em 2010, adquire integralmente as ações do fundador e de sua filha.

Temos diversos outros exemplos de empreendedores na educação superior crescendo no Nordeste, como o do professor Jouberto Uchôa de Mendonça, que iniciou modestamente um colégio em Aracaju, em 1962.

Dez anos de luta e funda a Faculdades Integradas Tiradentes. Hoje, com mais de 50 anos, a Unit (Universidade Tiradentes) já está presente em seis Estados do Nordeste, com 35 unidades.

Estes exemplos revelam até onde se pode chegar neste setor, que ainda apresenta perspectivas de crescimento de 3% a 5% de matrículas nos próximos cinco anos. Mas, evidenciam que a expansão e a consolidação se fazem graças a muito trabalho, persistência e até destemor.

Indicam que a experiência de alguns professores associados à visão e um sentimento de missão, impulsiona-os na senda do empreendedorismo, e que desenvolvem sua capacidade de gestão ao longo de suas trajetórias. E, são testemunhas que o sucesso não se faz do dia para a noite!