Graciliano Rocha

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Opinião

Ao demitir Prates, Lula se une a Bolsonaro na mágoa com gestão da Petrobras

Há uma maldade antiga em Brasília segundo a qual a Petrobras não seria uma empresa, mas um "país amigo". A tirada irônica refere-se ao fato de, pelo tamanho e pelo poder de fogo financeiro, a estatal ter uma dinâmica cujas decisões nem sempre coincidem com os desejos políticos do Palácio do Planalto.

Esta distância entre o que o governo quer e o que a Petrobras faz está na origem das tensões que custaram os cargos de Roberto Castello Branco (2019-2021), Joaquim Silva e Luna (2021-2022) e o breve José Mauro Coelho (abril a junho de 2022).

Todos os três caíram após atritos com o então presidente Jair Bolsonaro, que nunca se conformou com a paridade internacional dos preços praticada pela estatal, mas nunca quis comprar a briga com agentes de mercado que apoiavam a política.

Bolsonaro via na gasolina e diesel caros na bomba uma maneira de sabotar a sua reeleição. Sem conseguir alterar essa política, o ex-presidente baixou os preços na marra no último ano de seu governo com desonerações para os combustíveis.

Ao demitir Prates agora, Lula repete Bolsonaro no seu desgosto com Castello Branco, Silva e Luna e Coelho. Mas há variação de tema, que desta vez não foi propriamente o preço da gasolina.

A briga pública sobre os dividendos elevou a temperatura da frigideira onde Jean Paul Prates já era tostado desde o ano passado.

Mas o que o derrubou teria sido a narrativa, alimentada no entorno de Lula, de que o presidente da Petrobras insubordinara-se contra a ordem de Lula para ativar um plano ambicioso de encomendas da estatal para reativar a indústria naval no Brasil (de novo).

De acordo com essa versão, Prates diminuiu o ritmo dos investimentos da companhia no primeiro trimestre para fazer caixa. O agora demitido sempre negou esta versão, dizendo que o ritmo de contratações não foi mais rápido por efeitos duradouros de desarticulação da cadeia de fornecedores de óleo e gás.

Mesmo filiado ao PT e tendo sido senador pelo partido, Jean Paul Prates nunca foi considerado petista o suficiente por Lula e seu entorno. O presidente da Petrobras era pintado como excessivamente pró-mercado por seus detratores no Planalto - notadamente Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

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Nos últimos 10 anos, a empresa já teve nove presidentes. Anunciada como substituta de Prates, Magda Chambriard, funcionária de carreira da Petrobras desde 1980, será a décima.

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Em recuperação judicial desde 2016, a Sete Brasil, símbolo da revitalização do setor naval dos anos Lula e Dilma, pediu falência este ano.

Criada em 2010, a Sete Brasil tinha contrato para entregar 28 sondas para a Petrobras explorar jazidas do pré-sal. Tragou bilhões de fundos de pensão de empresas estatais, de bancos públicos e privados e do bom e velho FGTS.

Sondas mesmo, só entregou quatro. Após anos de agonia (dos credores), a Sete Brasil foi à lona devendo R$ 17 bilhões na praça

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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