Empresas precisam entender a importância de conexão e pertencimento
O South By Southwest (SxSw), que transforma a cidade de Austin, no Texas, na capital cultural dos Estados Unidos, é um dos maiores festivais de tecnologia e inovação do mundo. Mas a expressão mais ouvida por aqui, nestes últimos dias, foi "conexão humana".
A evolução do festival tem deixado claro que a tecnologia é parte da nossa vida --e que está ditando transformações em todas as indústrias. Não é mais só uma trilha de conteúdo, e sim a rede que permeia toda e qualquer discussão, do comportamento à técnica.
E parece que quanto mais vivemos imersos em tecnologia, mais precisamos nos lembrar do que nos torna humanos: conexão.
Se a solidão já é considerada a principal doença americana e se o Reino Unido já tem até uma ministra focada em cuidar desse assunto (a britânica Tracey Crouch), nada mais natural que entendermos o que vem causando esse distanciamento e buscarmos soluções para isso.
Esse clamor pela troca real permeou, de alguma forma, quase todas as palestras e discussões e nos lembrou que a tecnologia deveria estar a nosso serviço e não o contrário.
Pretendo destacar aqui alguns pontos que me chamaram a atenção nessas conversas ao longo do festival.
Estudos da solidão
As pesquisadoras Dawn Fallik e Jullianne Holt-Lunstad, da Universidade de Delaware (EUA) e da Brigham Young University (EUA), estudaram a solidão e seus impactos na saúde.
Elas chegaram à conclusão que se sentir sozinho tem o mesmo efeito que fumar 15 cigarros por dia. Pensando nisso em larga escala, é realmente uma crise de saúde pública --ainda mais quando os dados mostram que os mais jovens, a geração Z, são os que mais se sentem sozinhos, contrariando a premissa de que seriam os idosos.
A culpa não é somente da tecnologia. Mas, claro, ela tem um papel importante quando nos damos conta de que nenhuma interação ou conexão virtual permite ao corpo reagir e produzir os hormônios necessários para mantê-lo saudável.
A sempre incrível autora norte-americana Brené Brown, por sua vez, trouxe pequenos comportamentos que nos ajudam a estar mais presentes e mais conectados uns aos outros.
Ser civilizado, ouvir de verdade, se aproximar e conhecer as histórias são pontos fundamentais para resgatarmos a conexão com nossa humanidade. Segundo ela, é a única forma de lembrarmos nossa humanidade e deixarmos a polarização que domina os dias atuais.
O poder do ao vivo
Na palestra memorável de Diane Quinn, diretora de criação do Cirque du Soleil, ao lado do neurocientista Beau Lotto, foi apresentado um estudo realizado junto aos espectadores da companhia circense para entender o que acontece com o nosso cérebro durante um espetáculo.
Eles esmiuçaram o "awe", que é a sensação de estar completamente encantado e ao mesmo tempo conectado ao mundo e às outras pessoas. É uma sensação única de pertencimento.
Também exaltaram a força de estar presente em algo que está acontecendo naquele momento. Chamaram isso de "power of live": o poder do ao vivo.
Resgate da confiança
Já o escritor canadense Neil Pasricha falou sobre como construir confiança, num mundo tomado pela falta dela. Ele destaca três pontos, que se voltam sempre para o olhar humano:
A curadoria na era das opções infinitas. Nosso cérebro precisa de "closure" (conclusão) e, para isso, vamos confiar cada vez mais na curadoria;
Pessoas confiam mais em cérebros do que em bots (robôs);
- Pessoas não confiam em quem tenta ser ou fazer tudo. Precisamos ser verdadeiros e fazer nosso máximo.
As marcas também precisam da verdade
Foi um festival de provocações para a vida pessoal e profissional. Para sermos pessoas melhores e mais saudáveis, temos que criar conexões verdadeiras. São coisas igualmente poderosas quando pensamos em marcas.
Como exemplo, posso citar a necessidade de usar a tecnologia a favor das pessoas, de criar serviços reais e relevantes, de entender a importância de conexão e pertencimento.
Afinal, a maior conexão que uma marca pode buscar é a de ter um significado real, capaz de gerar o sentimento de pertencimento a alguém além de si mesmo.
Não esquecer a força das experiências reais e compartilhadas e o poder da boa e confiável curadoria também parecem ser pontos fundamentais para o marketing moderno.
E, acima de tudo, lembrar que tecnologia é meio, e não fim. Ela deve estar a serviço, por meio de formas inéditas e incríveis, da criação de relações mais fortes e poderosas entre as pessoas e, por que não, entre elas e as marcas.
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