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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pandemia mostra relevância do Estado, e que iniciativa privada não dá conta

Eloy Oliveira

28/05/2021 04h00

Os 15 meses marcados até agora pela pandemia de covid-19 mostraram ao mundo a importância de Estados e governos fortes, alicerçados em sólidas estruturas de serviços públicos, principalmente em saúde, mas não só nesta área. A ilusão ultraliberal de que o mercado e a iniciativa privada seriam capazes de dar todas as respostas caiu por terra.

Frente aos enormes desafios impostos pela pandemia, houve uma contundente resposta de diversos profissionais públicos, que com méritos conquistaram um pronto reconhecimento de todos os demais setores da sociedade.

Se a pandemia nos lembrou da importância de ter governos efetivos e responsáveis, expondo a relevância de diversas instituições, ao mesmo tempo nos revelou as vulnerabilidades de outras. Quais são as lições de toda essa experiência? E como garantir que o serviço público sairá melhor dessa crise?

Não haverá um retorno ao status quo para o setor público. Líderes públicos ao redor do mundo já estão estudando as habilidades necessárias e o funcionamento dos governos de agora em diante. E, mais importante, se os conceitos pré-estabelecidos na gestão pública continuam válidos para o mundo pós-covid.

A primeira grande lição de 2020/2021 é que governos importam e são fundamentais. Governos efetivos precisam ser flexíveis, adaptar-se a mudanças rápidas e responder de forma eficaz. Nesse aspecto, vários governos mostraram essa agilidade, por exemplo, ao flexibilizar regras para pesquisa e produção de vacinas em tempo recorde.

Temos que aprender com essa flexibilidade extraordinária e carregar essa agilidade para outras atividades desempenhadas pelos governos. Vale lembrar o Butantan, Fiocruz, Anvisa, SUS e os seus cientistas, médicos, enfermeiros e demais profissionais que vêm liderando o combate à covid-19 no Brasil.

A pandemia nos mostrou também que liderança é fundamental; e liderança em tempo de crise vale mais ainda. É fácil comparar as diferentes decisões tomadas por alguns governos e os resultados obtidos diante do desafio comum da covid-19.

Liderar em tempos de crise requer tomar as decisões sérias, muitas vezes impopulares (como o lockdown) e manter a confiança da população para fazer o que precisa ser feito. A Nova Zelândia é um dos melhores exemplos de boa liderança em tempos de crise; o governo agiu rápido para conter o contágio da pandemia no seu momento inicial, o que reduziu drasticamente o número de fatalidades durante a pandemia.

Ademais, lidar com situações de emergência não é tarefa individual; ela requer bons times, motivados e com clareza do que precisa ser feito. A pandemia oferece um objetivo claro para todos, mas é necessário organizar, motivar e valorizar os times que estão trabalhando na linha de frente, como os profissionais de saúde. Cabe à sociedade e aos governos valorizar e reconhecer os profissionais, muitas vezes deixados em segundo plano.

Uma outra grande novidade trazida pela pandemia foi o trabalho remoto para servidores públicos. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em julho de 2020, 25% dos servidores públicos brasileiros estavam trabalhando de forma remota; percentuais superiores aos da iniciativa privada no mesmo período.

Tal mudança evidenciou que vários serviços públicos podem ser realizados sem prejuízo no modelo home-office. No dia 25 de setembro de 2020, o Ministério da Economia informou que o governo federal economizou com o trabalho remoto, entre abril e agosto de 2020, cerca de R$ 1 bilhão.

Tal realidade abre diversas avenidas para inovações e aumento de agilidade para a prestação de serviços públicos. Precisamos nos perguntar agora quais são as vantagens e desvantagens desse modelo para os serviços públicos. Como podemos garantir a qualidade dos serviços e a proteção aos profissionais trabalhando nesse modelo?

O fim das reuniões presenciais também foi decretado. Repentinamente toda a comunicação passou a ser remota. Sim, houve em algum momento uma overdose de teleconferências. Mas, usadas de uma forma equilibrada, as reuniões online resultam em agilidade e economia.

Outro fenômeno observado em diversos governos foi a mudança de foco para os governos locais. Foram as gestões municipais, por exemplo, que estabeleceram as regras de lockdown, funcionamento dos comércios, e que fizeram os primeiros atendimentos no contexto da pandemia. Esse fato reforça a discussão sobre a divisão dos poderes e do pacto federativo, hoje com concentração de recursos na esfera federal. Tal modelo pode atrasar a tomada de algumas medidas na esfera local e já está sendo repensado em diversos países.

A tomada de decisões baseada em dados e evidências também mostrou sua importância durante a pandemia. Estados como o Rio Grande do Sul e São Paulo criaram mapas interativos para monitorar casos de covid-19 em suas diversas regiões e com isso tomaram decisões baseadas em dados, direcionando os recursos de acordo com as necessidades locais.

Aprendemos que a prevenção e a tomada de decisão rápida têm um enorme impacto e geram economia para os cofres públicos. Os países que mostraram os melhores resultados no combate à covid-19 foram aqueles que agiram de forma célere e implementaram prontamente medidas de prevenção.

Medidas preventivas nem sempre são populares, pois atacam o problema antes de ele acontecer. No caso da covid-19, os países que tiveram o melhor desempenho foram os que focaram os esforços em impedir a proliferação do vírus, evitando que as pessoas ficassem doentes. Isso muitas vezes é bem mais barato e efetivo do que o tratamento depois que as pessoas já estão contaminadas.

Alguns dos exemplos citados acima parecem triviais. Mas a absorção desses aprendizados na prática da gestão pública não é tarefa fácil e requer um esforço ativo de todos nós. E cabe aos nossos líderes, gestores e estudiosos trabalharem para uma gestão pública mais responsiva, responsável e respeitada, em um futuro pós-covid.

Um futuro que já começou com o reconhecimento do papel fundamental dos servidores públicos, governos e Estados como o esteio da vida, iniciativas e negócios na sociedade.