Opinião

Acabou o Carnaval: eis o 1º passo para organizar as finanças em 2024

Todo fim de ano, no calor das festas, as pessoas celebram as conquistas do ano que se finda, mas mentalmente também fazem um balanço e renovam as esperanças e promessas para o ano que se inicia. Vêm as férias, o verão? Pouco se avança porque a gente sabe que o ano começa mesmo depois do Carnaval.

Então, resolvi estrear minha coluna aqui no UOL Economia nesse clima de (re)início porque eu bem sei que, para um número considerável de pessoas, a virada de ano e o pós-Carnaval também reverberam momentos de frustração e melancolia diante da percepção de que muitos de objetivos e sonhos ficaram perdidos pelo caminho ou tiveram de ser adiados.

Afinal, qual é o primeiro passo para colocar as finanças em ordem, reiniciar e repaginar a vida financeira? Se todos querem ser felizes e realizar sonhos, o que realmente nos impede de alcançar esses objetivos e qual é a relação disso com as finanças pessoais?

Tentamos agir racionalmente e utilizar a força da lógica ao elaborarmos as promessas de início de ano, porém, a execução desses planos depende menos de aspectos racionais e muito mais de fatores emocionais e psicológicos, que dificilmente as pessoas são capazes de reconhecer, e, por isso, elas acabam por se desviarem do caminho traçado em seus planos.

Das frustrações ao primeiro passo

Eu quero começar dizendo que é possível, independentemente de classe social, organizar as finanças e conquistar objetivos.

A gente sabe que, para a maioria das pessoas, entre as exigências da vida adulta, muitas se veem engolidas por jornadas de trabalho exaustivas, múltiplos afazeres e preocupações. E a gente vivencia a sensação de não ter o controle das nossas próprias vidas, muito menos sobre o nosso dinheiro — apenas trabalhamos vivendo uma vida com muito menos prazer e dinheiro do que gostaríamos.

Quem nunca fez mil promessas de praticar mais exercícios físicos, viajar mais, guardar mais dinheiro e quitar dívidas, e tudo acabou perdido na frustração?

Dito isso, para começar a falar sobre o primeiro passo para organizar as finanças neste ano, eu quero falar de uma das maiores frustrações para boa parte dos brasileiros, principalmente mulheres negras: não conquistar o sonho da casa própria.

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Como isso é algo a realizar no futuro, e ele é incerto, muita gente acaba sucumbindo ao consumo de supérfluos no curto prazo sem analisar o real impacto disso sobre seus planos. Diante da incerteza do futuro, parece ser mais plausível trocar a possibilidade de prazer futuro (e incerto) por conquistas realizáveis a curto prazo, adquirindo coisas que carregam benefícios emocionais, sempre acompanhados da lógica do "eu mereço".

Esse processo de simplificação na avaliação do impacto de decisões de curto prazo nos leva para a direção contrária daquilo que realmente desejamos.

A questão primordial é entender que, ao tratarmos o tema de finanças pessoais e elucidar os processos envolvidos, não estamos falando apenas de dinheiro, mas fundamentalmente de planejamento de vida!

Entender a diferença do sonho e do objetivo

Não se trata de acumular dinheiro, mas de traçar estratégias para que o dinheiro seja uma ferramenta capaz de nos ajudar a conquistar tudo aquilo que almejamos e para aqueles que amamos, como a segurança de ter um lar, comida na mesa, saúde e educação de qualidade etc — e não ficarmos sujeito às vulnerabilidades que a falta de dinheiro gera.

Para mudar nossos comportamentos em relação ao uso do dinheiro, a dica para dar o primeiro passo para organizar as finanças em 2024 é entender a diferença entre sonhos e objetivos.

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Sonhos são desejos vivos, mas que estão no campo das ideias e pensamentos: sabemos o que queremos. Já os objetivos são os sonhos colocados no papel de forma organizada, com cada etapa de execução bem planejada — a maneira concreta de como vamos realizar os sonhos.

O processo de planejamento financeiro, então, é o caminho para transformar sonhos em realidade. Ele demanda clareza de objetivos e disciplina para não incorrermos em erros comportamentais que nos tirem do foco.

Aumentar nossa consciência sobre nossas decisões e nossa capacidade de planejamento são fundamentais nesse processo, que demandam autoconhecimento e coragem para romper com comportamentos que gostamos muitas vezes, mas não contribuem para a realização de nossos objetivos.

A economia tenta entender as nossas escolhas financeiras

As pessoas sabem o que querem, mas a racionalidade imputada na intenção dos planos nem sempre acompanha a execução na medida em que o tempo vai passando. Ou seja, há um lapso de avaliação temporal sobre o impacto de nossas ações no presente sobre nossos planos.

As ciências comportamentais, sobretudo a Economia Comportamental — ramo da economia que busca desvendar os processos que envolvem arquitetura de escolha e tomada de decisões que impactam a vida financeira das pessoas —, ressaltam a importância desse ânimo que o novo ano traz porque ele representa culturalmente uma possibilidade real de recomeço.

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A Economia Comportamental chama esses desvios de comportamento de heurísticas e vieses, que de forma geral são artifícios mentais que nos levam a tomar decisões de forma automática, sem muita consciência e/ou racionalidade e que nos tornam passíveis a erros comportamentais.

Por isso, para organizar sua vida financeira e, finalmente, realizar as metas de ano novo, o primeiro passo é fazer um exercício de reflexão profunda que revisite suas prioridades e desejos, bem como permita o reconhecimento de suas dificuldades em relação às suas finanças. Entender o que é o desejo e o que é o objetivo.

Depois, o receituário padrão para organizar e equilibrar o orçamento doméstico — classificação de receitas e despesas, cortar custos e gastos supérfluos, aumentar fontes de renda, formar reserva de emergência — pode ser executado de forma muito mais simples quando você realmente conhece seus objetivos e reconhece seus pontos de melhoria. A gente vai falar mais sobre isso nas próximas colunas.

Aproveite que bons ventos de recomeço são soprados no ar com o fim do Carnaval e comece já a refletir sobre o que quer para sua vida. Faça anotações, levantamentos de recursos necessários e elabore seu planejamento.

Que possamos tomar as rédeas de nossas vidas e realizar sonhos com organização e disciplina!

*Regiane Vieira Wochler é economista e mestra em economia política. Professora universitária e pesquisadora, é especialista em desigualdades socioeconômicas com interseccionalidades de raça, gênero e classe. Também é fundadora da Reconomizar - Economia do Recomeço, que atua com educação financeira e planejamento de vida.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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