José Paulo Kupfer

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Opinião

Mesmo desacelerando agora, expansão no 2º tri leva PIB a 3% no ano

De surpresa em surpresa, a economia brasileira surpreendeu forte -- e positivamente -- no segundo trimestre de 2024. O PIB (Produto Interno Bruto) avançou 1,4% de abril a junho, na comparação com o primeiro trimestre, conforme divulgou o IBGE, nesta terça-feira (3). A média das expectativas entre economistas do setor privado era de um crescimento de 0,9%, no período.

Para ter uma ideia de quanto essa expansão foi robusta, basta observar que a taxa de crescimento anualizada -- que reflete quanto seria a alta da atividade no período de um ano, supondo que o mesmo crescimento do segundo trimestre se repetiria em quatro trimestres -- chegaria a 5,7%. De acordo com o IBGE, o PIB cresceu 3,3% sobre o segundo trimestre de 2023.

Gasto público é o motor

A atividade acelerou em relação ao primeiro trimestre, que teve sua expansão revisada, juntamente com a divulgação do resultado do segundo trimestre, de 0,8% para 1%. Depois de conhecidos os resultados do segundo trimestre, as projeções para o crescimento da economia em 2024 avançaram para 2,5% a 2,7%, com probabilidade de chegar a 3%, o que manteria a marcha de expansão registrada em 2023.

Ainda que mantendo ritmo positivo de crescimento, houve reduções na marcha de expansão do consumo das famílias (de 2,5%, no primeiro trimestre, para 1,3%, no segundo) e dos investimentos (de 3,8%, entre janeiro e março, para 2,1%, de abril a junho).

Essa desaceleração foi mais do que compensada por altas no consumo do governo (de 0,1% a 1,3%, entre o primeiro e o segundo trimestres) e do setor externo, com avanço tanto nas exportações (de 0,4% para 1,4%, respectivamente, nos dois primeiros trimestres) e, principalmente, nas importações (alta de 7,6%, no segundo trimestre contra 4,5% no primeiro).

Não resta dúvida de que os gastos públicos — com transferências de renda para beneficiários de programas sociais, outras injeções de recursos públicos e os próprios gastos do governo em obras — são o principal motor desse crescimento. Prova do efeito positivo de gastos públicos para a atividade pode ser encontrada na concentração da expansão do consumo em bens não duráveis e duráveis.

Crédito contribuiu

O crescimento econômico no segundo trimestre contou também com contribuições do sistema de crédito. Mais acessível em razão do aumento da massa de renda na população e dos efeitos do anterior ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic), as concessões de crédito avançaram, sobretudo para a pessoa física, no período.

Além do pagamento de precatórios, a injeção de recursos públicos na economia, neste primeiro semestre do ano, veio da antecipação do pagamento do 13º salário a aposentados, do aumento real do salário mínimo e do resíduo dos recursos injetados na economia em 2023.

O mercado de trabalho, hoje mais dinâmico depois das limitações ao recurso à Justiça trabalhista por empregados, parte da reforma liberal aprovada no governo Temer, a partir de 2017, beneficiou-se dos recursos públicos que estão impulsionando o consumo, e do próprio crescimento econômico, ao mesmo tempo em que ajudou a acelerar esse crescimento, numa espécie de círculo virtuoso.

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Círculo virtuoso

Destaque favorável da evolução da economia entre abril e junho, os setores de energia elétrica, gás, saneamento e construção civil foram outros beneficiados pelo aquecimento da atividade econômica, sob impulso dos gastos públicos e de seu reflexo positivo no consumo

Até mesmo os investimentos tiveram um trimestre de ganhos, explicado pelo consumo mais ativo. A aplicação de recursos na ampliação da capacidade de produção ou modernização de equipamentos e processos se deu a partir de um quadro favorável de pouca ociosidade, baixo endividamento das empresas, principalmente das grandes, e crescimento mais rápido do consumo.

A taxa de investimento, no segundo trimestre, ficou em 16,8% do PIB, ligeiramente acima dos 16% do PIB, no trimestre anterior. A tendência é a de que continue avançando até as vizinhanças de 18%, na metade de 2025.

Ainda assim é um nível baixo para uma expansão mais acelerada da economia, sem pressões inflacionárias importantes. A baixa taxa de poupança, que não passou de 16% do PIB, no segundo trimestre, vindo de 16,8% do PIB em 2023, reflete em parte os déficits fiscais acumulados.

Ritmo deve desacelerar

Concentrados no primeiro semestre, os efeitos positivos da injeção de recursos públicos na atividade serão menores na segunda metade do ano. As projeções são de crescimento nulo, no terceiro trimestre e de 0,5%, no último terço de 2024, na comparação com o trimestre anterior.

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Além de menor estímulo fiscal, as condições financeiras devem piorar, com possíveis altas na taxa básica de juros (taxa Selic), levando a taxa real de juros a se situar por volta de 7,5%, e restringindo a demanda via crédito e investimentos. Apesar das previsões de novas quedas na taxa de desemprego, um maior contingente previsto de ocupações informais deve estancar ou cortar a massa de salários que tem impulsionado o consumo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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