José Paulo Kupfer

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Opinião

Inflação deve ficar acima de 5,5% em 12 meses a cada mês, a partir de março

Também a marcha da inflação em 2025, como reza a tradição brasileira para uma infinidade de eventos e atividades, só entrará em "normalidade" depois do Carnaval, a partir dos resultados de março.

Nos dois primeiros meses do ano, antes do Carnaval, as variações do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foram atípicas.

Em fevereiro, conforme divulgou o IBGE nesta quarta-feira, a inflação ficou em 1,31%, maior alta para o mês de fevereiro desde 2003, há 22 anos.

Em janeiro, o índice avançou apenas 0,16%, o menor para o mês desde 1994, há 31 anos.

Novos estouros do teto

A partir de março, a inflação mensal deve se manter ao longo do ano num intervalo "normal" entre 0,3% e 0,6%. Seria uma "normalidade" entre aspas, pois o ritmo dos preços, embora menos sujeito a intercalar altas e baixas fortes, permaneceria elevado.

Na marcha prevista, a inflação, em 2025, fecharia entre 5,5% e 6%, ainda por mais um ano acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que estabelece alta contínua de 3%, podendo variar de 1,5% a 4,5%. Em fevereiro, mesmo com variação acima acima de 1%, a inflação acumulada em 12 meses subiu 5,06%.

Apesar da "normalização" das variações mensais do IPCA, de março em diante não está previsto nenhum mês com inflação abaixo de 5,5%, no acumulado em 12 meses. Isso significa que, pelo novo sistema de metas, em junho, o Banco Central terá de publicar carta aberta justificando o estouro e adiantando providências para promover a convergência da inflação à meta.

Para março, por exemplo, a expectativa é de que a inflação suba 0,6%, desacelerando em relação a fevereiro em razão do fim do rebote de Itaipu, moderação nas altas de combustíveis e diluição dos impactos dos reajustes sazonais em Educação.

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Depois de um bônus da usina de Itaipu a consumidores de energia elétrica, que derrubou as tarifas em janeiro, o repique de fevereiro fez os preços da energia voltar com sobras a seu lugar previsto. Se a tarifa recuara 14,2% sobre dezembro, a de fevereiro avançou 16,8% sobre janeiro.

Esse vaivém inesperado e pontual nas tarifas de energia foi responsável por 40% da alta do IPCA em fevereiro. O item deve continuar trazendo pressões para o IPCA, uma vez que é provável a reclassificação de bandeira, da atual verde para amarela e mesmo vermelha nível 1, entre maio e outubro.

Outros 10% do IPCA de fevereiro vieram da variação nos preços da gasolina, afetados por elevações do ICMS, imposto estadual. No grupo Educação, que costuma pressionar a inflação em fevereiro, com reajustes de matrículas e mensalidades escolares, contribuiu com 20% da alta geral.

A alta dos preços de alimentos deu uma aliviada de janeiro para fevereiro, com o item "alimentação no domicílio" recuando de 1,07% para 0,79%. As projeções, contudo, sinalizam que a inflação de alimentos não dará muito sossego ao longo do ano.

Só ligeiro alívio em alimentos

Já em março, o economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamentos de preços da LCA-4Intelligence, prevê novo repique, com a inflação da alimentação no domicílio subindo 1,2%.

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Romão estima altas menores, abaixo de 0,30, entre maio e agosto, no período em que, no entanto, no acumulado em 12 meses, as altas seriam mais fortes, batendo nas proximidades de 10%.

Nos meses seguintes, de setembro a dezembro, a inflação mensal de alimentos no domicílio voltaria a subir para vizinhanças de 0,6%. No ano, a alta ficaria pouco acima de 7%, só um pouco menor do que a elevação de 8,2%, em 2024.

Nos demais preços acompanhados pelo IPCA, os resultados de fevereiro podem estar começando a mostrar efeitos de uma desaceleração da atividade econômica. Ocorreram ligeiros alívios em serviços, com os serviços subjacentes — menos voláteis e menos sujeitos a variações sazonais — marcando alta de 7,6% ante 7,5% em janeiro.

Alta dos juros continua

As variações de preços em serviços são observadas de perto pelo Banco Central, na decisão da política de juros, por refletirem mais diretamente o ritmo de atividade da economia e no mercado de trabalho, e seus impactos sobre os preços.

Com os resultados da inflação, nos dois primeiros meses do ano, e as expectativas para março e restante de 2025, ainda não se apresenta no horizonte o momento em que o atual ciclo de altas das taxas básicas de juros (taxa Selic) começará a ser revertido.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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