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Como aviões são usados pelo tráfico para transportar cocaína?

Embora nem sempre seja amplamente divulgado, o roubo de aviões é um tipo de crime não raro de acontecer. Investigações apontam que estas aeronaves são direcionadas, principalmente, para países vizinhos, como Bolívia e Paraguai. Os modelos preferidos pelas quadrilhas são os de menor porte, mais fáceis de serem operados e mais difíceis de serem rastreados.

Em outros países, esses aviões passam a ser utilizados para levar drogas para dentro do Brasil, principalmente a cocaína. A chance de utilização dessas aeronaves para reaproveitamento de peças é praticamente nula, já que elas são rastreáveis e não há um mercado amplo para isso.

Aviões adaptados

Para conseguirem voar longas distâncias com carga máxima, esses aviões que são roubados ou furtados têm de passar por algumas adaptações. Todas elas são irregulares, e colocam o voo em risco.

Avião adaptado para transporte de drogas é interceptado pela Aeronáutica
Avião adaptado para transporte de drogas é interceptado pela Aeronáutica Imagem: Polícia Federal

A principal delas é a remoção de todos os bancos, exceto o do piloto ou, eventualmente, de um ajudante. Isso diminui o peso, e permite que mais fardos com a droga sejam colocados no voo.

Outra adaptação é o transporte de combustível em um reservatório ao lado do piloto. Durante o voo, o piloto começa a colocar o combustível no tanque do avião, permitindo voar por mais tempo.

Isso é necessário para conseguir voar desde o exterior até o destino dentro do Brasil, já que, a cada pouso, aumenta o risco de o avião ser interceptado. Ao pousar, o descarregamento também tem de ser rápido, sendo realizado em poucos minutos

Muitas vezes, o piloto nem desliga o motor e já decola na sequência, tudo para evitar ao máximo ser alvo da fiscalização.

Difícil de encontrar

Não é comum que aviões menores contem com transponder, equipamento que ajuda a identificar a localização das aeronaves. Ainda assim, esse dispositivo pode ser desativado pelos criminosos.

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Aviões menores também chamam menos atenção quando estão voando, tanto pelo seu tamanho quanto pelo ruído que fazem, bem menor que os modelos maiores.

Outra técnica utilizada para evitar que sejam localizados é o voo a baixa altitude. Os radares detectam melhor os aviões que voam em alturas mais elevadas em relação ao solo. Próximo ao chão, é mais difícil essa detecção, o que ajuda na fuga.

Tráfico de drogas

Transportar drogas por meio terrestre é mais arriscado, por conta das diversas barreiras nas estradas. Por isso, a via aérea é a principal escolha dos traficantes para trazer a cocaína ao país desde o começo dos anos 1980.

Há muitas quadrilhas de bolivianos, paraguaios e brasileiros, principalmente em Mato Grosso, que atuam em furtos de aeronaves. Isso se deve ao fato de que há uma abundância de aviões pequenos na região devido ao agronegócio e à necessidade de produtores viajarem longas distâncias.

Perto da fronteira

Outro fator que influencia na escolha da região é sua proximidade com a fronteira. Saindo rapidamente do Brasil, evita-se que essas aeronaves sejam interceptadas e, até mesmo, derrubadas.

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Normalmente, esses aviões são levados para os países vizinhos e passam a entrar nessa rota no Paraguai, principalmente na região de Pedro Juan Caballero, onde há muitas pistas clandestinas, e na região de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia).

A partir destes locais, os aviões são carregados com cerca de 400 kg a 500 kg de cocaína, por exemplo, e voam rumo à região da rota caipira, compreendida entre o interior de São Paulo, triângulo mineiro e o norte do Paraná.

Dali, a droga é levada, em sua maioria, para o Rio de Janeiro e São Paulo, para o consumo do público interno do país, e para Santos, no litoral paulista, para ser enviada ao exterior.

Fontes: Allan de Abreu, jornalista e autor do livro "Cocaína: A rota caipira" (Editora Record, 826 páginas).

*Com matéria de setembro de 2021.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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