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REPORTAGEM

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Por que coração de D. Pedro 1º foi escoltado por caças da Aeronáutica?

Avião com coração de D. Pedro 1º chega a Brasília escoltado por caças F-5 - Reprodução/YouTube/FAB
Avião com coração de D. Pedro 1º chega a Brasília escoltado por caças F-5 Imagem: Reprodução/YouTube/FAB

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/08/2022 04h00

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O coração de D. Pedro 1º chegou ao Brasil na segunda-feira (22) com honras de chefe de estado. O avião que trazia o órgão, um jato Legacy pertencente à FAB, era escoltado por dois caças F-5 antes de pousar no aeroporto de Brasília (DF).

Esse tipo de voo especial faz parte de um cerimonial realizado pela Aeronáutica, e também já ocorreu com a chegada de refugiados da Ucrânia, o retorno da seleção brasileira após a Copa do Mundo, a vinda da tocha olímpica, entre outras situações.

Devido à importância que foi dada ao traslado do coração para a celebração do bicentenário da independência do Brasil, seria natural que ocorresse esse voo acompanhado de caças da Aeronáutica.

Como é a preparação? Quando um voo é designado para ser escoltado por caças, a Força Aérea realiza uma preparação para alinhar como tudo irá ocorrer. O objetivo é que não existam dúvidas ou riscos que possam impedir o sucesso da operação.

É preciso identificar, entre outros vários pontos, os seguintes:

  • Qual aeronave será acompanhada
  • Quais irão realizar a missão
  • A partir de onde será feito o acompanhamento
  • Qual a rota a ser seguida
  • Até onde será feito o voo em conjunto
  • Quais frequências de comunicação serão utilizadas
  • Quais as posições em que cada avião irá ficar

Com todos os pontos alinhados, torna-se possível colocar o planejado em prática.

Como ocorre? Antes de escoltar uma aeronave, ela precisa ser interceptada. Esse procedimento consiste no acionamento dos caças, que serão orientados até uma determinada posição.

A partir de um ponto considerado adequado pelo piloto do caça (normalmente, quando capta o contato com o alvo em seu radar de bordo), ele assume e conclui a interceptação por meios próprios.

Feita essa interceptação, o caçador (maneira pela qual os pilotos de caça são chamados) faz a reunião com o "alvo". No caso, a aeronave que será o objetivo do evento cerimonial.

A partir de então, a escolta é feita como uma espécie de voo em formação. Os caças voam "na ala", ou seja, próximos ao avião a ser escoltado. Nesse momento, utilizam alguma referência para manter a posição em volta do outro avião

Um exemplo é manter as luzes de navegação do avião "alvo" em uma posição em seu para-brisa. Essa referência do voo em formatura é mais importante quando há mais de um caça, para que, esteticamente, ambos os lados estejam simétricos.

Uma vez encerrado o acompanhamento, as aeronaves se separam e cada uma segue o seu destino.

Latam - Sargento Batista/3.mai.2016/FAB - Sargento Batista/3.mai.2016/FAB
Boeing 767-300ER da Latam carregando a chama olímpica chega a Brasília escoltado por dois caças F-5EM
Imagem: Sargento Batista/3.mai.2016/FAB

Quanto custa? A Aeronáutica foi questionada sobre os custos da operação, mas não respondeu até a publicação deste texto.

É o único tipo de escolta que existe? O que é denominado escolta quando falamos de cerimônias civis pode ter uma interpretação diferente dentro do meio militar.

Quando um avião bombardeiro, por exemplo, precisa atacar um alvo, é realizada uma missão de escolta por outras aeronaves com poder de ataque.

Nem sempre um bombardeiro tem capacidade de se defender sozinho, então, pode ser necessário que ele esteja acompanhado por caças para conseguir cumprir sua missão. Essa é a missão de escolta, e não deve ser confundida com voos especiais feitos em formação como aquele ocorrido com o coração de D. Pedro 1º a bordo.

Fonte: Enio Beal Jr., ex-piloto de caça da Força Aérea Brasileira