Todos a Bordo

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Reportagem

Avião apresenta falha e faz pouso com apenas um motor. Havia riscos?

Nesta segunda-feira, um avião teve problemas em um dos motores e precisou mudar o aeroporto de destino para pousar em segurança em Vitória (ES).

A aeronave voava entre o Rio de Janeiro e João Pessoa (PB), e um motor deixou de funcionar enquanto ele estava na altitude de cruzeiro.

Dá para voar sem um motor?

Sim, os jatos bimotores modernos conseguem voar por várias horas com apenas um motor. Para isso, devem seguir uma série de procedimentos.

Caso esteja em voo de cruzeiro, pode ser necessário voar mais baixo. Isso porque os aviões não conseguiriam se manter em altitudes mais elevadas com a potência de apenas um motor.

A existência de dois motores ao menos é critério de redundância. Em caso de falha de um, o outro deve suprir dentro dos limites operacionais a ausência do outro.

Em teoria, esses aviões são capazes até de decolar com apenas um motor, mas há contrapartidas para isso. Entre elas, pode ser necessária uma pista maior, ter atingido determinada velocidade antes da falha, entre outros fatores.

Falha é treinada em simuladores. Constantemente, esse tipo de problema é revisado em equipamentos de simulação pelos pilotos das empresas aéreas.

Motores passam por testes rigorosos. Para garantir que um motor não irá parar de funcionar em voo, eles são examinados e funcionam por longos períodos, não podendo apresentar falhas relevantes para que possam ser aprovados.

O que acontece quando um motor para?

Pilotos seguem um passo a passo quando encontram um problema na aeronave. Caso a falha tenha ocorrido no motor, é preciso tomar uma série de atitudes dependendo de cada situação.

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Se não houver fogo ou outro problema mais grave, é possível tentar reiniciar seu funcionamento. Já em caso de incêndio, pode ser preciso cortar a alimentação de combustível e acionar os extintores do motor.

Cada situação requer uma análise conjunta dos pilotos para evitar maiores problemas.

O caso desta segunda-feira

O voo G3 1715 decolou na manhã desta segunda-feira (31) do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a João Pessoa (PB). Foi detectado problema em um dos motores e os pilotos mudaram o destino para o aeroporto de Vitória (ES) após cerca de uma hora de voo, onde o pouso foi feito em segurança.

O critério de escolha do aeroporto depende de uma série de fatores, como suporte no solo, apoio para os passageiros continuarem para os seus destinos, equipes de emergência disponíveis, entre outros.

Veja a nota da Gol, que operava o voo com o Boeing 737:

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"A GOL informa que durante o voo G3 1715, entre o aeroporto do Galeão (GIG) e João Pessoa (JPA), na manhã desta segunda-feira (31/07), foi reportado um problema técnico na aeronave, que alternou para Vitória (VIX) para manutenção após o pouso. Todo o procedimento obedeceu aos protocolos de segurança e a aeronave foi desembarcada normalmente.

A Companhia criou uma operação para acomodação dos clientes em aeronave que seguiu do aeroporto de Viracopos (VCP) para a capital capixaba para assumir o voo, que já realizou o percurso até João Pessoa, onde pousou às 15h45 desta segunda.

A GOL reforça que todas as ações em relação ao voo foram tomadas com foco na Segurança, valor número 1 da Companhia".

Avião da Gol fazia trajeto entre Rio e João Pessoa
Avião da Gol fazia trajeto entre Rio e João Pessoa Imagem: Reprodução/flightradar24

Ocorrências

Desde 2013, foram 180 ocorrências com falhas do motor em aviões no Brasil. Os dados são do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira).

Nem todas esses incidentes ocorreram em voo. Nenhum resultou em acidente.

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Do total, 48 problemas com motor ocorreram durante o voo de cruzeiro, como o caso desta segunda-feira. Em muitos casos, o motor é religado e o voo prossegue normalmente.

E se falhar sem aeroporto por perto?

Pode haver casos nos quais um dos motores falha sem aeroportos próximos. É o caso de voos sobre oceanos, por exemplo.

Uma certificação especial permite a um avião bimotor voar por um tempo maior mesmo com pane em um dos motores. Chamada Etops (Extended-range Twin-engine Operational Performance Standards), ou, resumidamente, operações de alcance prolongado. Isso permite voar nessa situação sobre oceanos, por exemplo.

Os fabricantes e a empresas precisam comprovar capacidade. De maneira simplificada, o teste prático inclui pilotar um avião por várias horas com apenas um motor em funcionamento para que ele seja considerado Etops.

Não é só o avião que tem de ser certificado. As empresas aéreas também precisam adotar padrões de manutenção e treinamento de pilotos para diminuir os riscos da operação.

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Antigamente, o avião com apenas um motor tinha de estar sempre a 60 minutos de um aeroporto. Com a introdução do Etops, esse tempo aumentou, passando a ser de 120 minutos ao menos.

Os aviões Boeing 787 e 777 podem voar a até 5 horas e 30 minutos de distância de um aeroporto com apenas um motor. O modelo é um dos principais utilizados em rotas internacionais.

Voos do Brasil para a Europa contam com a Ilha do Sal. O território pertence a Cabo Verde e fica no meio do caminho, garantindo a distância de até 120 minutos até um aeroporto caso o voo esteja sobre o oceano.

Ainda em último caso, é possível planar por vários quilômetros. É o caso do voo da Air Transat de 2001 que voou por 120 km sem combustível e com 306 pessoas a bordo até pousar em segurança.

Ajuda via rádio

Nessas situações, o piloto tende a requisitar apoio via rádio. Para isso, ele usa a mensagem pan pan repetida três vezes seguidas.

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Essa expressão não deve ser confundida com "mayday", que é utilizada quando há de risco iminente ou ameaça grave para o avião.

No caso do pan pan, a emergência é declarada quando ocorre alguma questão que envolva a segurança da aeronave ou de alguma pessoa a bordo. Pode ser utilizada, por exemplo: 1. Quando a aeronave se perde, mas não corre risco de queda; 2. Falha em equipamentos, tornando necessária uma mudança imediata de rota ou altitude e 3. Passageiro ou tripulante em emergência médica (como um infarto)

A origem do termo vem do francês "panne", que significa "pane", "colapso". Também há versões que afirmam que pan pan é uma sigla para "possible assistance needed" (possível ajuda necessária) ou "pay atention now" (preste atenção agora).

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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