Meia hora de emergência e bilhetes de despedida: a tragédia do voo JAL 123
Em 1985, acontecia o acidente aéreo com o maior número de mortes no mundo envolvendo uma única aeronave. A queda do voo JAL 123, da Japan Airlines, no Japão, matou 520 passageiros e tripulantes. Além deles, duas pessoas envolvidas na inspeção da aeronave se suicidaram, tempos depois.
Histórico
Era a tarde do dia 12 de agosto de 1985. O voo JAL 123 se preparava para partir do Aeroporto Internacional de Tóquio, ou Aeroporto Haneda, rumo a Osaka, também no Japão.
O avião era um Boeing 747SR. O modelo é uma adaptação da aeronave de dois andares da fabricante norte-americana feita para transportar um grande número de passageiros em rotas domésticas, com menor distância.
Ao todo, 524 pessoas estavam a bordo. Quinze eram tripulantes e 509 eram passageiros. Quatro sobreviveram.
O voo
Às 18h12, o avião decolava do aeroporto internacional de Tóquio. Doze minutos depois, quando ainda estava subindo para a altitude de cruzeiro, os problemas mais sérios começaram.
Um barulho alto como uma explosão foi ouvido. Os pilotos acionaram os códigos de comunicação da aeronave para avisar que estavam passando por uma situação de emergência a bordo. Pediram para retornar para Haneda, mas não conseguiam comandar o avião como era necessário.
Os controladores aéreos orientaram o avião a cumprir uma rota específica para tentar salvar o voo. Eles apenas obtiveram como resposta dos pilotos "Agora incontrolável", sobre a situação da aeronave.
Por volta das 18h56, o avião caía próximo à vila de Ueno. Apenas quatro passageiros estavam vivos no momento do resgate.
No total, 520 pessoas a bordo morreram em decorrência da queda. Esse é o acidente aéreo com o maior número de mortes envolvendo apenas uma aeronave. O acidente de Tenerife, ocorrido em 1977 na ilha espanhola, resultou em 583 mortes envolvendo a colisão de dois aviões no solo.
Bilhetes de despedida a bordo
Entre a explosão e a queda se passaram 32 minutos. Nesse tempo, alguns dos passageiros aproveitaram para escrever bilhetes de despedida. Um deles ocupou sete páginas da agenda de Hiroshi Kawagushi, um executivo com 52 anos à época.
Veja a seguir algumas das mensagens:
"A meus três filhos: tomem conta de sua mãe. O avião está caindo e vem uma fumaça branca da parte de trás. Podemos ter apenas mais cinco minutos. Nunca mais quero entrar em um avião"
Hiroshi Kawagushi, 52, chefe do escritório da empresa de navegação Mitsui Osk Lines em Kobe
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Demora no resgate
Apenas quatro pessoas sobreviveram ao acidente. Elas eram todas do sexo feminino e estavam sentadas na parte de trás do avião. O local da queda é uma região montanhosa, o que dificultava o acesso. Os destroços foram achados na madrugada do dia seguinte.
Houve sobreviventes à queda, que não resistiram aos ferimentos. Com a demora em serem socorridos, eles acabaram morrendo.
Vítima relembrou ter falado com parentes após a queda. Keiko Kawakami, então com 12 anos, disse que falou com seu pai e sua irmã, que estavam no mesmo voo, após o acidente. Ela pediu ajuda ao pai, que respondeu "Não posso me mexer, não posso ajudá-la".
Mais tarde, a jovem conversou com sua irmã, de sete anos de idade. Ela perguntou o que o pai estava fazendo. A garota apenas respondeu "Papai e mamãe estão frios". Horas depois, a irmã de Keiko também morreu.
O que aconteceu?
Anos antes, em junho de 1978, o avião bateu a cauda na pista durante um pouso no aeroporto de Osaka. Diante dos danos, uma equipe da fabricante Boeing foi enviada para realizar os reparos.
A parte danificada não foi reparada adequadamente. Esse foi um dos fatores que levou ao acidente anos depois.
Durante o voo, houve uma descompressão explosiva. Isso significa que o avião perdeu sua pressurização de maneira repentina, sem que houvesse tempo para reagir.
A parte que se rompeu era uma espécie de tampão. Ele fica na parte de trás da aeronave e o mantém pressurizado. Com o dano, o ar de dentro, que está em maior pressão, acabou vazando de maneira brusca, o que casou a explosão.
Essa descompressão danificou a parte traseira da aeronave. O avião perdeu grande parte do estabilizador vertical (também chamado de leme de direção) e os sistemas hidráulicos deixaram de funcionar. Dessa maneira, ele ficava praticamente incontrolável. Partes da cauda do avião foram encontradas no mar a 200 km de distância do local da queda.
Suicídio em terra
Depois do acidente, duas pessoas se suicidaram. Elas tinham relação com a aeronave.
Hiroo Tominaga: Ele coordenava a manutenção dos aviões da Japan Airlines no aeroporto Haneda à época do acidente. Dias após ele foi designado para prestar auxílio aos parentes das vítimas.
Susumu Tajima: Ele foi um dos inspetores do governo que liberaram o avião que se acidentou para voltar a voar após a manutenção feita em 1978. Sua morte ocorreu um ano e meio após a queda do voo JAL 123.
O que mudou depois do acidente?
Após a queda, uma série de recomendações foram feitas e ações foram tomadas para evitar que outra tragédia acontecesse. Entre elas, se destacam:
- A Boeing determinou a inspeção rigorosa em aviões do mesmo modelo com mais de 18 mil horas de voo.
- Foi estabelecido um programa de acompanhamento de longo prazo para verificar estruturas de aeronaves que sofreram danos.
- Modificação nos sistemas hidráulicos, para que eles não sejam prejudicados em situações similares e continuem permitindo o controle das aeronaves
- Melhora nos sistemas de busca e salvamento, com implementação de melhores treinamentos para as equipes
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