Todos a Bordo

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Reportagem

Vinte anos sem Concorde: como era o voo que ligava Rio e Paris em 6 horas?

Em 24 de outubro de 2003, o Concorde, principal avião supersônico de passageiros da história, era aposentado definitivamente. Uma curiosidade sobre ele é que o primeiro voo comercial foi feito ligando Paris (França) ao Rio de Janeiro.

Veja como era esse voo.

Primeiro voo para o RJ

O avião decolou de Paris às 12h40 do dia 21 de janeiro de 1976. O voo inaugural era operado pela Air France, e pousou em Dacar, no Senegal, às 15h27 para reabastecimento. Em seguida, decolou às 16h45 rumo ao Rio de Janeiro, onde pousou no aeroporto do Galeão às 20h06, horário de Paris.

Voo atrasou 45 minutos. Motivo foram homenagens prestadas ao governo francês em Dacar.

Ministro dos Transportes francês, Marcel Cavaillé estava no voo. Também estiveram presentes o industrial Gilberto Bittar, o diplomata Paulo Rocha Santos, entre outras personalidades e turistas.

Passagens custariam 20% a mais que em outros aviões. Em entrevista de autoridades francesas na chegada do voo, foi dito que esse preço seria necessário para cobrir a operação já que o Concorde era exclusivamente de primeira classe.

Rota durou apenas seis anos. A ligação foi abandonada em 1982 por causa dos altos custos.

Curiosos observam um Concorde da Air France parado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Curiosos observam um Concorde da Air France parado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Imagem: 13.jan.78/Folhapress

Metade do tempo

A rota ligando as duas cidades durava cerca de seis horas de voo. Ainda havia uma parada para reabastecimento em Dacar.

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Isso era metade do tempo que outros aviões precisariam. Em um voo comercial contemporâneo, são necessárias de 11 a 12 horas.

Alimentação de luxo

Serviço de bordo do Concorde era bastante sofisticado
Serviço de bordo do Concorde era bastante sofisticado Imagem: Divulgação/Air France

Serviço de bordo era um dos mais luxuosos do mundo. Chefs de alto padrão assinavam o menu das refeições servidas a bordo, como o francês Alain Ducasse.

Bebidas também eram das mais caras. A bordo, poderia ser servido um champagne Don Pérignon ou outro similar, além de caviar com vodca, e refeições quentes como lagosta e foie gras.

Era apertado

Uma das principais reclamações de quem voava era o espaço apertado. O avião comportava entre 92 e 128 passageiros.

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Seu corpo era mais fino em comparação com outras aeronaves comerciais. Sua fuselagem tinha apenas 2,87 metros de largura, frente a cerca de 3,9 metros de alguns aviões comerciais de corredor único.

Fileiras também tinham menos assentos. Enquanto modelos como o Boeing 737 e Airbus A320 têm fileiras de três assentos de cada lado, o Concorde possuía dois assentos em cada lado, com o corredor passando ao meio.

Falar que era apertado é algo relativo. Enquanto assentos de classe econômica costumam ter entre 45 e 50 centímetros de largura, os do Concorde chegavam a 60 centímetros. Essa medida pode até ser considerada apertada pelo tipo de passageiro desses voos, geralmente, rico acostumados com a primeira classe, onde assentos chegam a 65 centímetros tranquilamente.

Limite de uma mala

O empresário Chiquinho Scarpa destacava um problema: O limite de malas. Em entrevista à Folha de S.Paulo no início dos anos 2000, ele reclamava que os passageiros poderiam levar apenas um volume de bagagem por passageiro.

Para quem viajava a negócios, levando apenas uma pequena bagagem, tudo bem. Mas para os membros da sociedade que iam passar uma semana ou um mês em Paris, levando várias malas, era necessário despachá-las em outro vôo. Eles acabavam chegando lá antes das malas
Chiquinho Scarpa

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Avião precisava ser o mais leve possível. Para ultrapassar a velocidade do som, não poderia ter grandes compartimentos de bagagem, assim como seria necessário estar o mais leve possível, por isso a restrição de bagagens.

Escritora Zélia Gattai também voava frequentemente no Concorde com seu marido, Jorge Amado.

Foi uma pena que essa linha tenha acabado. [...] Não era muito confortável, mas era muito emocionante. [...] O avião subia quase verticalmente, e havia um placar eletrônico que mostrava a velocidade crescendo até o avião romper a barreira do som
Zélia Gattai

Veja o que outros famosos já falaram sobre voar no Concorde no Brasil:

Na primeira classe de outros aviões, há bastante espaço, pode até pintar um romance, mas no Concorde isso era impossível
Jorginho Guinle, herdeiro

O Concorde sai de Paris na hora do almoço e chega em Nova York no café da manhã. É muito conveniente, você não acha? [...] O público também era muito interessante. Era tudo primeira classe e tinha bastante gente conhecida no voo
Clodovil Hernandes, apresentador de TV e político

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Dava para perceber que ele estava acelerando, quando ele embicava para cima, mas quase não dava perceber quando ele estava ultrapassando a velocidade do som, a não ser pelos mostradores internos
Ilde de Lacerda Soares, fazendeira

Baixa ocupação levou ao fim da rota

No seu último ano de operação entre Paris e o Rio de Janeiro, ocupação não chegava à metade do voo. Com isso, a operação se tornou inviável.

Alto preço interferiu. As passagens eram muito caras, e, geralmente, apenas pessoas mais ricas, como celebridades e empresários, acabavam voando no Concorde.

O Concorde

Concorde teve 20 unidades produzidas
Concorde teve 20 unidades produzidas Imagem: Divulgação
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O Concorde voava a mais de duas vezes a velocidade do som. Ele atingia 2,170 km/h e consumia mais de 25 mil litros de combustível por hora.

Modelo foi desenvolvido em parceria entre a Inglaterra e a França. Apenas 20 foram fabricados, mas nem todos chegaram a voar comercialmente por serem modelos de teste, por exemplo.

Avião voava tão alto que dava para ver a curvatura da terra. Ele atingia uma altitude de 18,3 km acima do nível do mar, enquanto aviões comerciais comuns voam entre 8 e 12 km de altitude.

Air France e British Airways foram as únicas donas do modelo, com sete aviões usados para levar passageiros cada uma. O voo de Paris para Nova York ou de Londres para a cidade norte-americana durava cerca de três horas, frente às oito horas de um avião comercial convencional.

Primeiro voo foi realizado em março de 1969. Início da operação comercial, entretanto, ocorreu apenas em 21 de janeiro de 1976, e durou até 24 de outubro de 2003.

Acidente marcou o declínio do modelo. Em julho de 2000, um Concorde da Air France que ia de Paris para Nova York caiu logo após a decolagem. Imediatamente, os dois operadores deixaram de voar com o modelo até concluírem as investigações necessárias. Os voos foram retomados apenas no final de 2001

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Não foi o primeiro. O avião comercial supersônico russo TU-144, apelidado de Concordski, voou pela primeira vez dois meses antes, em dezembro de 1968. O primeiro voo de passageiros com o modelo foi em 1978, mas operações não duraram até o fim daquela década.

Próximo ao fim de sua vida comercial, passagens do Concorde chegavam US$ 10 mil. Valor era bem superior à primeira classe de diversos outros aviões.

Hoje, diversos Concordes se encontram preservados em museus e em outros espaços mundo afora.

A Air France operou o modelo Concorde até a aposentadoria do modelo. Hoje, alguns desses aviões encontram-se em exposição pelo mundo, como esse, no Aeroporto de Paris
A Air France operou o modelo Concorde até a aposentadoria do modelo. Hoje, alguns desses aviões encontram-se em exposição pelo mundo, como esse, no Aeroporto de Paris Imagem: Flickr/Dennis Jarvis

Ficha técnica

Concorde
Unidades produzidas: 20 (incluindo modelos não comerciais)
Velocidade: 2,170 km/h (Duas vezes a velocidade do som)
Autonomia: 6.667 km de distância (podendo chegar a 7.222 km, dependendo da configuração e do peso levado).
Capacidade: De 100 a 128 passageiros
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 25,6 metros
Comprimento: 61,7 metros
Altura: 12,2 metros
Carga paga (passageiros, carga e bagagem): Cerca de 11 toneladas
Tripulação: Dois pilotos, um engenheiro de voo e seis comissários
Alguns desses dados podem oscilar de acordo com variáveis de cada empresa e características do voo.

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