Todos a Bordo

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Reportagem

Quanto custa e como se tornar piloto de avião? Pode passar de R$ 400 mil

Ser piloto de avião é o sonho de muitas pessoas. A carreira, que tem vários caminhos a serem seguidos, depende de muito treinamento e, acima de tudo, um forte investimento antes de se começar a exercer a profissão de maneira remunerada.

Além de pilotar aviões em empresas aéreas, é possível seguir caminhos como a aviação agrícola, executiva ou no setor público, como em polícias e bombeiros. Em todos os casos, é preciso ter pelo menos 18 anos além do ensino médio completo.

O salário médio de um piloto chegava a R$ 18.317,62 no fim de 2023, segundo dados do Caged. Veja o valor dos salários médios da profissão por segmento aqui.

Quais os caminhos?

De maneira simplificada, é preciso fazer uma prova teórica aplicada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). É possível fazer um curso para se preparar para essa prova, mas não é requisito obrigatório atualmente.

Essa avaliação inclui matérias como: Regulamentos, tráfego aéreo, meteorologia, teoria de voo, navegação e conhecimentos técnicos.

Em seguida, é preciso fazer o curso prático, com duração, geralmente, de 40 horas de voo. Para isso, é preciso ter sido aprovado na avaliação teórica e possuir um Certificado Médico Aeronáutico para poder voar, com uma série de exames específicos para a profissão.

Caso ocorra tudo bem, o piloto obtém sua licença de piloto privado após fazer um voo sozinho. Nessa fase, ele ainda não poderá fazê-lo de maneira remunerada.

Para ganhar dinheiro com a profissão, ainda é preciso obter a licença de piloto comercial. São necessárias ao menos 150 horas totais de voo (incluindo as do curso de piloto privado) e um curso teórico específico para poder atuar como piloto remunerado.

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A partir desse ponto, é possível seguir pelos diversos caminhos que as carreiras na pilotagem permitem. Caso prefira, o piloto pode continuar apenas com a licença de piloto privado, realizando voos de lazer ou de outro tipo, mas sem ser remunerado.

Quanto custa se formar?

Para se tornar piloto privado, têm-se, no geral, os seguintes gastos médios (os valores oscilam de acordo com a região, aeronaves empregadas, se o ensino é a distância, entre outros fatores):

  • Curso teórico (não obrigatório): R$ 1.500 a R$ 3.500
  • Prova teórica da Anac (cinco matérias): R$ 250
  • Certificado médico aeronáutico: Por volta de R$ 1.000, podendo ficar mais barato se a pessoa possui convênio para realizar as consultas e exames exigidos
  • Curso prático: Por volta de R$ 20 mil a R$ 40 mil (40 horas multiplicadas por R$ 500 a R$ 1.000 a hora de voo em aeronaves menos complexas)

Para se tornar piloto comercial, os custos podem passar de R$ 400 mil. Isso inclui a prova da Anac (R$ 300 para esta licença específica), o certificado médico aeronáutico (por volta de R$ 1.000), curso obrigatório e as horas de voo.

Na EJ Escola de Aviação Civil, localizada no estado de São Paulo, o curso prático de piloto comercial gira em torno de R$ 77 mil a R$ 385 mil (110 horas multiplicadas por R$ 700 a R$ 3.500 a hora de voo) segundo o diretor Josué de Andrade.

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O aluno pode voar de acordo com a sua capacidade financeira e da sua disponibilidade de tempo. Ele pode voar em três, quatro anos sem investir muito de uma vez. Agora, se tiver pressa, pode concluir todas as formações em apenas um ano. Isso vai depender do quanto ele tem de dinheiro e tempo para investir na formação
Josué de Andrade, diretor da EJ Escola de Aviação Civil

Outros cursos e formações opcionais (não obrigatórios):

  • Jet Training (voo usando motores a jato): Cerca de R$ 5.000
  • Multimotor (para voos em aviões com mais de um motor): Cerca de R$ 40 mil, incluindo 12 horas de voo.

Principais aviões (e valores)

As escolas de aviação e aeroclubes possuem modelos bem similares entre si de aviões para os treinamentos iniciais. Os valores levantados pela reportagem em diversos locais são os seguintes:

  • Aero Boero, Paulistinha ou Piper 115: Entre R$ 500 e 600
  • Cessna 152: Entre R$ 700 e R$ 800
  • Tecnam P92: R$ 730 (treinamento básico)
  • Cessna 172 (voa por instrumentos): Entre R$ 900 e R$ 1.000
  • Diamond DV-20 - R$ 999
  • Seneca (multimotor): Entre R$ 2.500 e R$ 3.500
  • Simulador: A partir de R$ 150
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Todos os valores da reportagem foram pesquisados no começo de 2024 pelo UOL em diversas instituições e localidades, podendo variar de acordo com diversos fatores.

Quais carreiras seguir?

Entre as carreiras que um piloto de avião pode seguir, se destacam as seguintes, com as respectivas exigências:

Piloto de Linha Aérea

Piloto de avião aviação avião aeronave aeroporto
Piloto de avião aviação avião aeronave aeroporto Imagem: Imagem de brgfx no Freepik

Talvez a profissão mais conhecida, o piloto de linha aérea é uma das mais populares no Brasil. Para se chegar até ela é preciso uma ampla experiência anterior devido à responsabilidade que se terá ao transportar diversas vidas em cada voo.

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Para seguir nessa carreira, cada empresa tem um grupo de exigências próprias. Em algumas, é necessário ao menos 500 horas de voo, por exemplo.

O ingresso, no geral, ocorre como copiloto/primeiro-oficial. Após acumular ao menos 1.500 horas de voo, é possível prestar uma prova na Anac que permite a promoção ao cargo de comandante, o de maior responsabilidade dentro do avião.

Piloto de aviação executiva

Cabine do Praetor 600, jato executivo da Embraer
Cabine do Praetor 600, jato executivo da Embraer Imagem: Alexandre Saconi

Ser piloto da aviação executiva significa poder voar uma ampla gama de aeronaves. Desde monomotores até jatos de grande porte, os voos são gerenciados de acordo com o contratante.

É possível voar para empresas, táxi aéreo, ou para particulares, por exemplo.

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Piloto policial

O helicóptero Águia 33, um AIrbus EC135 da Polícia Militar de São Paulo
O helicóptero Águia 33, um AIrbus EC135 da Polícia Militar de São Paulo Imagem: Alexandre Saconi

Geralmente, o ingresso na carreira de piloto policial ou de resgate dos bombeiros é feita por meio de concurso. No estado de São Paulo, por exemplo, é preciso ser oficial da Polícia Militar para integrar o grupamento aéreo, ou delegado, se for o caso da Polícia Civil.

Piloto Agrícola

Avião Ipanema, da Embraer, voltado para o agronegócio
Avião Ipanema, da Embraer, voltado para o agronegócio Imagem: Divulgação/Embraer

A habilitação para se tornar piloto agrícola requer que o piloto já seja habilitado no tipo de aeronave que irá voar. Além disso, é necessário realizar uma prova de conhecimentos específicos para este tipo de operação e possuir ao menos 400 horas de voo totais.

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Precisa de ensino superior?

O ensino superior, apesar de não ser obrigatório, vem sendo exigido como diferencial pelas empresas aéreas. Isso vale tanto para uma formação específica na área, como os cursos de Aviação Civil, como o de outros ramos do conhecimento.

Essa exigência tem a ver não só com o processo seletivo, mas com o cotidiano dos pilotos. Segundo Francisco Lyra, CEO da CFLY Educacional, mantenedora da faculdade Escola Superior do Ar, as capacidades dos pilotos de hoje em dia são diferentes dos de antigamente.

Hoje, se pilota muito pouco em comparação com comandar os sistemas da aeronave. Em grande parte do tempo, o trabalho na cabine é concentrado em gerenciar o voo em vez de se pilotar a aeronave em si.
Franscisco Lyra

Quem opta por um curso superior na área também pode acabar abatendo as matérias dos cursos teóricos de piloto privado e piloto comercial. Entretanto, isso depende da grade curricular de cada instituição.

"A formação técnica básica é comum a todos, afinal, os candidatos a uma vaga em uma empresa aérea já possuem a licença de piloto. Competências como o inglês mais avançado, formação em cursos na área de gestão e o ensino superior acabam se mostrando como uma vantagem competitiva", diz Lyra.

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Instituições como a própria Escola Superior do Ar e EJ Escola de Aviação Civil, além das PUCs (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul e de Goiás, e a Universidade Anhembi Morumbi oferecem graduações na área de aviação civil. Fora do Brasil, essa exigência pelo ensino superior não é comum.

Fontes: Documentação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e os pilotos Francisco Lyra, CEO da CFLY Educacional; Josué de Andrade, diretor da EJ Escola de Aviação; Edson Luiz Gaspar, diretor-geral da Faculdade Escola Superior do Ar

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