Se é proibido até fumar, como a chama olímpica é levada em aviões?
Um dos momentos mais importantes (e bonitos) das Olimpíadas é o acendimento da pira olímpica, que ocorre na cerimônia de abertura. A chama é levada da Grécia até o local dos Jogos em uma festividade que dura semanas.
Nos jogos deste ano, em Paris, foi dado destaque para o transporte marítimo, tradição francesa, que possui diversos territórios ultramarinos. Mesmo assim, em algum momento ela acabou sendo transportada de avião. Essa prática gera dúvidas, já que, se dentro de uma aeronave comercial é proibido até mesmo fumar, como é possível transportar fogo aceso constantemente de maneira segura?
Entenda como a chama costuma ser transportada em voos, como aconteceu nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e nos jogos de Tóquio (Japão) em 2021.
Preparo especial
Os aviões que transportaram a chama olímpica nas Olimpíadas de 2016 no Rio foram os mesmos que realizam voos comerciais. Segundo a Latam, empresa que realizou o transporte oficial no Rio, o tecido das poltronas e carpetes da aeronave são revestidos de material não inflamável, que restringe a propagação de chamas.
A chama é transportada em lamparinas fechadas, alimentadas por querosene. A tocha, que é aberta, não pode ser levada acesa no voo.
Esses dispositivos de transporte são uma evolução das Lâmpadas de Davy, que eram lamparinas utilizadas em minas de carvão, local com alto risco de explosão devido aos gases ali presentes.
Seu funcionamento impede que a chama se propague no ambiente, absorvendo e dissipando o calor da lamparina, o que permite que a chama fique acesa durante o voo sem maiores perigos.
Também é confeccionada uma estrutura especial para que o dispositivo com a chama seja fixado nos bancos em segurança e não se mexam, evitando, também, que se apaguem. Ainda assim, mais de uma lamparina é levada, e, caso uma enfrente problemas, outras estão ali de reserva.
Guardiões
Para garantir a segurança, tanto contra interferências ilícitas quanto contra incêndios, alguns profissionais são selecionados para manter a segurança e a vigilância permanente da chama. Chamados de guardiões, eles acompanham as tochas tanto no solo quanto nos aviões, ficando sentados ao lado delas.
Esses guardiões acompanham e vigiam a chama desde o seu acendimento, em Olímpia (Grécia) até o seu destino, e ainda permanecem ao seu lado durante todo o revezamento da tocha, até quando a pira olímpica é acesa na cerimônia de abertura.
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Quero receberA operação aérea, por sua vez, não costuma contar com passageiros pagantes a bordo, sendo restrita às equipes do COI (Comitê Olímpico Internacional), da organização dos jogos e convidados. Os tripulantes dos aviões também são treinados para voar com a chama a bordo.
Os órgãos aeronáuticos dos locais onde esses aviões irão sobrevoar ainda têm de aprovar a operação, para ter certeza de que o voo será seguro.
Escolta de caças
A chegada da chama ao país-sede onde os Jogos Olímpicos irão acontecer é sempre marcada por uma cerimônia de grandes proporções. Em 2016, no Rio, a chama foi transportada pela Latam, em um voo partindo da Suíça com destino a Brasília.
Enquanto se aproximava para o pouso, o avião, um Boeing 767-300ER, foi escoltado por caças F-5 da FAB (Força Aérea Brasileira), para garantir que a operação fosse concluída em segurança.
Dentro do Brasil, foram mais 12 voos realizados com a lamparina contendo a chama durante 15 dias para 13 cidades onde o revezamento da tocha ocorreu.
Foram cerca de 8.000 quilômetros ao todo, dessa vez, realizados em um Airbus A319 personalizado para a ocasião. Participaram dessa operação nove pilotos e 16 comissários, que foram treinados para o transporte da chama a bordo, além de mais de 300 funcionários da companhia que prestavam o suporte para os voos em solo nos aeroportos.
Em decorrência da pandemia de covid-19, a cerimônia de transporte e o revezamento da tocha para as Olimpíadas de Tóquio deste ano foram restritos. Ainda assim, todas as etapas acabaram sendo realizadas, mas sem a presença do público esperado.
Curiosidades
- A primeira vez em que a chama olímpica viajou de avião foi para as Olimpíadas de Oslo (Noruega), em 1952.
- Nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1992, em Albertville (França), a chama viajou em um Concorde, ultrapassando a velocidade do som pela primeira vez.
- Uma lamparina para o transporte seguro de chama pode ser comprado por 1.499 euros (cerca de R$ 9.130); esse modelo também é utilizado para transportar o fogo sagrado, ligado a tradições católicas ortodoxas.
- Em 2008 (Pequim - China), o transporte da chama foi feito pela Air China; em 2012 (Londres - Inglaterra), pela British Airways; em 2016 (Rio de Janeiro - Brasil), pela Latam; na edição de 2020, realizada em 2021 em Tóquio (Japão), o voo foi realizado pela Japan Airlines em parceria com a ANA (All Nippon Airways).
Pira em Paris não tem fogo
Antes de tudo, é preciso explicar que a pira olímpica das Olimpíadas de Paris deste ano, na verdade, não tem fogo. Instalada nos jardins do museu do Louvre, ela fica em um balão, mas não são chamas de verdade.
A pira fica acesa 24 horas por dia, mas é constituída por um efeito da luz em contato com vapor d'água, dando a impressão que é um fogo de verdade. Uma chama real não seria possível, até pelo fato de que o balão que forma a pira poderia se incendiar.
Veja como foi a escolta do avião com a chama da Rio 2016:
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