O que foi o 'dano estrutural' que o avião da Voepass sofreu em março?
O avião ATR 72 da Voepass que caiu na sexta-feira (9) em Vinhedo (SP) precisou passar por uma longa manutenção após um incidente ocorrido em março. A aeronave sofreu um contato anormal com a pista durante pouso em Salvador no dia 11 daquele mês e ficou sem transportar passageiros.
As informações foram constatadas a partir de cruzamento de dados públicos disponibilizados pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB (Força Aérea Brasileira), informações de plataformas de rastreamento de voo e fontes ouvidas pelo UOL.
As informações foram reveladas anteriormente pela rede Globo.
O que ocorreu?
No dia 11 de março, o avião de matrícula PS-VPB decolou de Recife (PE) com destino a Natal (RN). Durante o pouso, houve um contato anormal com a pista após apresentar problemas hidráulicos durante o voo, e a aeronave foi entregue para a equipe de manutenção, segundo o Cenipa.
Os danos causados à aeronave ocorreram na região traseira, na cauda do avião, área considerada estrutural. Segundo reporte do Cenipa, os danos à aeronave foram leves, e ela foi liberada, não sendo necessário haver uma investigação.
Como é feito o reparo?
No caso de a cauda raspar no solo, o revestimento do avião, que é uma parte da estrutura da fuselagem e dá a sua forma, sofre algum dano e é preciso parar a operação da aeronave para realizar um reparo antes do retorno ao serviço.
O dano pode ser leve ou mais severo. No caso do ATR 72 da Voepass, o dano foi considerado leve. Por isso o avião recebeu uma autorização especial de voo para realizar o translado até Ribeirão Preto (SP) no dia 28 de março, onde seria possível realizar a manutenção necessária.
Se o dano fosse severo, comprometendo a possibilidade de um voo seguro, seria possível um reparo temporário antes dele voar para a oficina na qual a manutenção definitiva seria realizada. Entretanto, neste caso, isso não foi necessário.
Os voos sob autorização especial não podem levar passageiros a bordo. Além disso, há uma série de restrições, dependendo do caso, tais como limite de altitude, quantidade menor de combustível e ter a bordo o mínimo necessário de tripulantes.
Os reparos estruturais, neste caso, dependem ainda de uma Aprovação de Dado Técnico para Grande Reparo, concedida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que avalia se o reparo está segundo as práticas previstas.
Após a realização do reparo, o avião é submetido a uma inspeção e um técnico credenciado aprova o seu retorno ao serviço.
Manuais são seguidos
Cada tipo de dano é reparado seguindo um manual específico. Dependendo do seu tipo, tamanho e extensão, o setor de engenharia das próprias empresas aéreas pode resolver o problema sozinho.
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Quero receberEm casos extremos, é possível solicitar apoio dos fabricantes para definir o reparo. Com isso, é elaborado um plano específico para sua realização, que pode consumir um tempo considerável.
Independentemente da complexidade do reparo, existe ainda um trâmite regulamentar para as aprovações iniciais, intermediárias e finais, que pode acarretar desde alguns dias até alguns meses para o retorno à operação.
Como é feita a liberação?
Após o reparo do dano, um profissional credenciado precisará liberar o avião para voltar à operação, o que depende de alguns requisitos. Entre eles estão a inclusão dos registros de manutenção realizados na documentação da aeronave e a aprovação prévia da Anac, no caso de um grande reparo.
O profissional responsável por essa liberação será um integrante da Anac ou alguém por ela credenciado. Dependendo da situação, essa liberação poderá ser feita por detentor de uma licença de mecânico de manutenção aeronáutica ou outros profissionais, mas sempre sob a supervisão ou autorização da Agência.
Em tempo, não é o objetivo desta reportagem atribuir o problema enfrentado pela aeronave anteriormente como uma possível causa do acidente de sexta-feira. Quem irá definir o que aconteceu realmente é o Cenipa após concluir as investigações.
Fontes da parte técnica da reportagem: Perito aeronáutico Antônio Campos, coronel engenheiro veterano da FAB e vice-presidente da Mantaer (Associação Brasileira de Manutenção Aeronáutica); Carlos Dariva, técnico de manutenção e instrutor aeronáutico.
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