Todos a Bordo

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Reportagem

Documento mostra problemas em itens não ligados ao voo em avião da Voepass

Uma documentação relacionada ao avião que caiu na semana passada em Vinhedo (SP) indicava que diversos itens precisavam passar por manutenção.

Não há nenhuma evidência até o momento de que estes itens tenham relação com o acidente. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB (Força Aérea Brasileira) deverá emitir um relatório parcial sobre a tragédia em até 30 dias após a queda. Veja o posicionamento da empresa no fim da reportagem.

O que faltava consertar?

Segundo a lista, emitida na madrugada anterior ao acidente e confirmada pela reportagem do UOL, 21 itens do avião de matrícula PS-VPB precisavam passar por manutenção. A maior parte deles não estava relacionada à operação de voo do avião.

Um exemplo é a falha em cortinas de algumas janelas. A ocorrência foi aberta no dia 15 de julho, e tinha como data limite para solução o dia 12 de novembro de 2024. Entretanto, isso não quer dizer que o conserto não seria realizado antes desse prazo.

Também havia itens na cabine de comando com problemas. Entre eles, o porta-copos do assento do capitão estava em falta. Do mesmo lado da cabine, o carpete estava rasgado.

Na cabine de passageiros, a luz de leitura de um dos assentos estava quebrada. Ao menos seis assentos estavam quebrados ou com mau funcionamento.

Um dos freios estava inoperante

No dia 8 de agosto, foi relatado que o freio número 4 estaria inoperante. Segundo os manuais da empresa, o avião poderia continuar operando.

Em linhas gerais, os fabricantes determinam a lista mínima de equipamentos que precisam estar operacionais em um voo, e as empresas seguem à risca essas medidas ou impõem normais mais restritivas. Em caso de falha em um ou mais itens, pode haver um prazo ou quantidade de pousos e decolagens que podem ser feitos com eles em falta.

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Um dos freios em falta não seria um problema grave na aeronave, e não afetaria a segurança de operação em um primeiro momento. Mas, para isso, o avião teria de operar com algumas restrições.

Entre elas, por exemplo, a aeronave não poderia estar com o sistema antiderrapagem inoperante. Ele evita que as rodas do avião parem de rodar bruscamente e façam a aeronave deslizar sobre o asfalto. Essa tecnologia passou a ser usada posteriormente em carros, como o sistema de freios ABS.

Outra restrição seria a aplicação de "penalidades" para a operação. Um exemplo é o tamanho da pista de pouso: Se o avião consegue pousar, hipoteticamente, em 900 metros de pista, como estará com um freio inoperante, precisaria de uma distância maior para parar totalmente. Se o aeroporto de destino não cumpre com essas exigências ocasionais, a aeronave não poderá operar ali.

Outros problemas na cabine

Na cabine de comando, alguns itens também estavam com problemas. Um deles é o Indicador Eletrônico de Situação Horizontal, instrumento que mostra informações sobre a navegação.

Esse instrumento, entretanto, não é obrigatório e nem indispensável para o voo.

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O ar-condicionado também não estava funcionando integralmente na cabine. Segundo o documento, uma das saídas de ar estava entupida. Um dos sistemas de refrigeração estava soltando ar quente na cabine, tanto durante o voo quanto no solo.

Posicionamento da Voepass

Em nota, a Voepass negou possíveis problemas com a aeronave e afirmou que ela voou sem nenhum item pendente, apesar do curto espaço de tempo para realizar todos os consertos entre a emissão da documentação de manutenção (chamada ACR/CDL) e os voos naquele dia.

Veja a íntegra:

"A VOEPASS Linhas Aéreas informa que o ACR/CDL foi atualizado e que o ATR-72 não voou com nenhum item pendente. A empresa reafirma que a aeronave estava aeronavegável, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, além de cumprir todas as normas e exigências estipulados pela legislação setorial vigente. A companhia reforça ainda que segue absolutamente todos os manuais, protocolos e exigências do fabricante da aeronave e das autoridades locais, atendendo os padrões mais elevados da aviação internacional."

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