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Reportagem

Trump e guerras geram incertezas para a aviação. Brasil pode ser afetado

As políticas econômicas que podem ser implementadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump (Republicano), e situações de conflito, como as guerras na Ucrânia e na Palestina, geram incertezas para o setor aéreo que têm impacto direto no valor das passagens. A afirmação é de Willie Walsh, presidente da Iata (International Air Transport Association, ou, Associação Internacional de Transportes Aéreos).

A fala foi feita durante o encontro global de mídia da instituição, que ocorre em Genebra (Suíça), no qual o UOL esteve presente.

Fechamento de espaços aéreos

O fechamento de espaços aéreos devido a guerras deve piorar o mercado de aviação no próximo ano. Para a Iata, alcançar a paz nos principais conflitos em curso no mundo trarão impacto positivo para o setor.

"O fechamento dos espaços aéreos põe uma pressão significativa no setor, mas eu acredito que a indústria respondeu de forma ágil a qualquer ameaça de segurança como resultado das várias agitações que vimos em certas partes do mundo", diz Willie Walsh, diretor-geral da Iata.

Para o executivo, guerras como as na Ucrânia e Palestina e o conflito no Líbano colocaram um alto nível de estresse na indústria.

Vimos as companhias aéreas tendo de responder a esses conflitos reduzindo suas redes e as frequências dos voos. Diversas transportadoras europeias decidiram reduzir sua presença no mercado chinês e em certas partes da Ásia como resultado do fechamento do espaço aéreo russo
Willie Walsh, diretor geral da Iata

A continuação do crescimento, creditou Walsh, se deve às empresas aéreas, que conseguiram demonstrar sua "capacidade de superar desafios e continuar a explorar as oportunidades de crescimento que estão disponíveis para elas".

Política de Trump gera incertezas

A chegada ao poder de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos a partir de 2025 gera uma série de incertezas nas políticas para o setor aéreo, ainda segundo a Iata. Grande parte do problema estaria por trás de tarifas e uma guerra comercial, que poderiam afetar fortemente o nível cargas aéreas e impactar o setor de viagens de negócios.

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Entretanto, o primeiro mandato do republicano foi bem-visto do ponto de vista dos negócios. O futuro presidente dos EUA promoveu uma desregulamentação e simplificação do setor. Ainda há uma incerteza quanto à descarbonização do setor, já que as futuras políticas do país nessa área estão incertas.

A promessa de Trump em incentivar o uso de combustíveis derivados do petróleo pode ter um impacto na redução do preço do querosene de aviação, embora afaste o setor da meta em ser menos poluente nas próximas décadas. De acordo com Marie Owens Thomsen, economista-chefe da Iata, nesse sentido, uma alta na oferta diminui o preço do combustível das aeronaves e pode dar um alívio no peso das despesas nos caixas das empresas.

Outra postura de Trump muito elogiada foi justamente ir contra setores da União Europeia, que, diante de dificuldades do setor, impuseram nova regulamentação às empresas. Walsh diz discordar dessa postura, que também foi adotada pelo governo Biden.

"Acho que, em muitos casos, as regulamentações que vimos não foram úteis. Não beneficiaram os consumidores ou a indústria. E acredito que neste estágio a indicação é que o segundo governo Trump provavelmente reverterá algumas das ações que foram tomadas sob o governo Biden", diz o executivo da Iata.

Brasil pode ser afetado

Trump também ameaçou recentemente os países que deixassem de usar o dólar como moeda de reserva. É o caso de uma possível moeda dos Brics, bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

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O presidente eleito dos EUA ameaçou impor uma tarifa de 100% sobre as transações dos países que adotassem essa moeda, o que incluiria o Brasil. Assim, voar poderia ficar mais caro por aqui.

A aviação é um setor altamente dolarizado, ou seja, depende muito da cotação da moeda. É assim com seus contratos de venda de aeronaves, cotação de combustível e até mesmo treinamento de pilotos, que costumam viajar para outros países para se preparem para voar.

"Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana", escreveu Trump em uma rede social em novembro após ser eleito para um segundo mandato.

Hoje, a aviação na Rússia já sofre com problemas devido a sanções impostas ao país após o início da guerra na Ucrânia. Os russos já não fazem mais parte do sistema internacional de transações financeiras, o Swift, e isso tem dificultado pagamentos, além da proibição de negociação com empresas do país.

* O colunista viajou a Genebra a convite da Iata

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