Trabalhar seis horas por dia é melhor? Cidade na Suécia está testando
Uma casa de repouso pública em Gotemburgo, na Suécia, está testando reduzir a jornada de trabalho diária de oito para seis horas. O teste é feito desde fevereiro com um pequeno grupo de enfermeiras --elas continuam ganhando o mesmo salário. As informações são do jornal britânico "The Guardian".
A medida faz parte de um experimento do governo, segundo a publicação, que quer saber os efeitos da redução da carga horária na qualidade de vida dos funcionários e na produtividade. Os dados obtidos serão comparados com o de outra casa, que manteve o regime de oito horas.
Bengt Lorentzon, um consultor do experimento, afirma que ainda é cedo para definir resultados, mas que as enfermeiras mostram mais energia e menos estresse e têm mais tempo para os residentes da casa, que também estão mais relaxados e confortáveis.
Por outro lado, para que pudessem trabalhar por menos tempo, a casa contratou 14 funcionários a mais, o que aumentou os custos.
Ann-Charlotte Dahlbom Larsson, chefe do cuidado de idosos no local, afirma que, desde os anos 1990, a quantidade de trabalho aumentou e o número de trabalhadores diminuiu. Há casos de doenças entre os funcionários por causa da exaustão e da falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Apesar dos resultados iniciais positivos, a experiência na casa de repouso de Gotemburgo deve terminar no ano que vem. A coalizão de centro-esquerda perdeu a maioria na Câmara do país, e os políticos conservadores e liberais são contra a redução de horas.
O teste está custando cerca de 630 mil euros (cerca de R$ 2,8 milhões) ao ano, segundo o partido liberal.
Suécia já testou redução outras vezes
A ideia de reduzir a jornada de trabalho na Suécia não é nova, de acordo com o "Guardian". Experiências nesse sentido foram feitas na capital, Estocolmo, e na cidade de Kiruna nos anos 1990.
Na década seguinte, porém, com a chegada ao poder de governos mais conservadores, a ideia foi deixada de lado por causa do custo.
A professora Birgitta Ohlsson, da Universidade de Lund, na Suécia, conduziu pesquisas para avaliar os impactos da redução naquela época, em Estocolmo. Ela afirma que medir os efeitos na economia é complicado. É difícil dizer se a queda de faltas no trabalho por causa de doenças é resultado da medida ou por outros fatores, por exemplo.
O número de pessoas sem trabalho também diminui, caindo o custo com benefícios, como o seguro-desemprego, mas essa economia fica com o poder central, e não com o município, que aumenta seus gastos ao contratar mais pessoal.
Segundo o "Guardian", a iniciativa não fica restrita ao setor público. Empresas privadas reduziram a jornada para oito horas. Um centro de serviços da montadora Toyota, por exemplo, adotou a medida há 13 anos, e nunca mais voltou atrás.
Pesquisador defende jornada de quatro horas
Roland Paulsen, um pesquisador em administração de empresas da Universidade de Lund, afirma que é possível, em tese, reduzir a jornada de trabalho ainda mais, chegando a quatro horas por dia. Isso porque, segundo ele, a produtividade dobrou desde os anos 1970. "É uma questão de como esse ganho de produtividade é distribuído", afirma.
Paulsen diz que, no século passado, a jornada de trabalho foi sendo reduzida, ao mesmo tempo em que aumentava o número de feriados, e as pessoas começaram a se aposentar cada vez mais cedo.
Esse processo, porém, parou nas últimas décadas, e as pessoas estão trabalhando mais e por mais tempo. "Não costumava ser uma utopia cortar horas de trabalho. Já fizemos isso antes".
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