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Estágio de 10h, trabalhar de graça: perfil no Facebook reúne vagas absurdas

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Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

04/09/2017 17h45

Já pensou em trabalhar de graça? E recebendo um "valor simbólico" de R$ 50? Que tal um estágio com jornada diária de 10 horas?

Parece trote, mas essas são vagas de emprego reais reunidas pela página Vagas Arrombadas no Facebook. Criada há cerca de um mês pelo diretor de arte freelancer Tiago Perrart, 27, e pelo publicitário Daniel Alves, 31, a página já é seguida por mais de 60 mil pessoas.

Por lá, eles divulgam anúncios de emprego que se destacam por salários muito abaixo do mínimo e jornadas acima do permitido pela legislação trabalhista, por exemplo, e requisitos inusitados como "comer alguma salada nas refeições diariamente (só tomate e milho não vale)" e "ouvir Anitta e Pabllo Vittar".

"Tivemos contato com vagas desse tipo enquanto buscávamos emprego e há tempos já íamos postando em nossos perfis pessoais", diz Perrart. "Então resolvemos reunir todas elas num mesmo lugar." A página no Facebook é alimentada com anúncios que eles mesmos encontram e por contribuições enviadas por internautas.

Sem benefícios

"O meu [anúncio] 'favorito' é o da empresa que alegava não disponibilizar benefícios, pois isso ia contra a cultura da empresa. Eles queriam formar empreendedores e, segundo eles, vale-transporte, vale-refeição etc. deixariam o colaborador acomodado", diz Perrart.

No anúncio, a companhia faz questão de esclarecer que a política de não oferecer benefícios tem cunho ideológico, e não financeiro. "Algumas centenas de reais por pessoa não afetariam nosso orçamento".

Anúncio da página Vagas Arrombadas - Reprodução - Reprodução
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Vaga com salário abaixo do mínimo

Outra situação comum encontrada pelos autores da página é a oferta de vagas com remuneração abaixo do salário mínimo nacional, de R$ 937, como um cargo de gerente administrativo em Florianópolis (SC) com salário de R$ 495.

Mesmo quem investe na formação profissional não escapa dessas ofertas. Em um dos anúncios mostrados na página, uma empresa oferece uma vaga de analista administrativo em que é "desejável" que o candidato tenha MBA (uma pós-graduação voltada para negócios) em controladoria e finanças. O salário? R$ 1.600.

O cenário parece ainda pior para os estudantes. Pipocam anúncios de estágio não remunerado, com remuneração baixa ("R$ 180 e R$ 200 brutos", por exemplo) e com jornadas longas.

"Uma moça queria contratar 16 estagiários de uma só vez e sem pagar ninguém", conta Perrart.

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Pela legislação, o estágio tem caráter pedagógico, ou seja, é uma atividade educativa e deve estar relacionada ao curso frequentado pelo estudante. Quanto à carga horária, não pode passar de 6 horas diárias, totalizando no máximo 30 horas semanais.

Ainda entre as empresas que desrespeitam a lei, há diversos albergues que oferecem vagas sem salário, em que o empregado troca moradia por trabalho. "O pior são as pessoas defendendo tais absurdos com alegações do tipo 'ah, na Europa é supernormal isso', diz Alves.

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Pela lei brasileira, a troca de moradia por trabalho é um dos elementos que caracterizam a situação de trabalho análogo ao escravo.

Expostas pela página, as empresas nem sempre reagem bem. "Teve o caso recente de um hostel (albergue) que estava chamando para briga, porrada mesmo, alguns leitores que foram comentar na página deles", dizem Perrart e Alves. Mas, segundo eles, algumas companhias entraram em contato pedindo dicas para melhorar os anúncios.