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Quer ganhar com a Bolsa sem ter que acompanhar as ações todo dia? Veja como

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/09/2017 04h00

Rendimentos altos em aplicações de baixíssimo risco estão ficando no passado. Com os juros em queda, o caminho natural para quem quer ganhar mais é diversificar e aplicar uma parte do patrimônio em investimentos de maior risco, como a Bolsa de Valores, segundo especialistas.

Para quem não tem tempo ou disposição para acompanhar diariamente o comportamento das ações, a sugestão é montar uma "carteira de dividendos". Veja como fazer isso.

O que são dividendos?

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Imagem: Getty Images

Quando uma empresa que tem ações na Bolsa vai bem e tem lucro, precisa repartir parte desse lucro com seus acionistas. É uma espécie de prêmio pago aos investidores. Isso é chamado de dividendo. Por lei, as empresas com ações na Bolsa são obrigadas a distribuir, no mínimo, 25% do lucro anual, mas várias pagam bem mais que isso --algumas distribuem até 100% do lucro.

Um exemplo: uma empresa lucra R$ 100 milhões no ano. Ela decide distribuir 50% desse lucro aos acionistas (são R$ 50 milhões). Como ela tem 25 milhões de ações no mercado, cada ação receberá R$ 2 em dividendos. Um investidor que tem 100 ações receberá R$ 200.

Com que frequência os dividendos são pagos?

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Imagem: iStock

Os dividendos podem ser pagos uma vez por ano, uma vez por semestre ou até mensalmente. Cada empresa decide a periodicidade e deve informar aos acionistas qual é sua política de distribuição.

O que é uma carteira de dividendos?

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Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

"O conceito de uma carteira de dividendos é obter ganhos com ações de empresas que remuneram seus acionistas acima do previsto na legislação, ou seja, dos 25% do lucro", afirma Pedro Galdi, analista da corretora Magliano.

"A ideia é selecionar empresas que ofereçam uma taxa de retorno maior do que a renda fixa, apenas considerando o pagamento de dividendos. Esse retorno não considera a evolução do preço da ação na Bolsa, o que pode possibilitar ganhos ainda maiores."

Como montar uma carteira de dividendos?

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Imagem: Getty Images

As principais corretoras que atuam na Bolsa de Valores divulgam mensalmente carteiras com sugestões de ações nas quais investir. Entre essas recomendações está a carteira de dividendos. Também é possível montar sua própria seleção, seguindo algumas orientações de especialistas.

O estrategista de investimentos da Guide, Luis Gustavo Pereira, recomenda empresas que apresentem geração de receitas constante e sejam menos sujeitas ao desempenho da economia do país.

"Companhias de concessões em geral --como energia, ferrovia e rodovias-- possuem resultados bastante previsíveis porque as receitas estão previstas em contrato, e grande parte dos investimentos em construção ou ampliação da infraestrutura já foi feita. Desta forma, você tem um fluxo de pagamento de dividendos constante."

Carteira de dividendos tem riscos?

riscos - Andrea Comas/Reuters - Andrea Comas/Reuters
Imagem: Andrea Comas/Reuters

Sim. Como qualquer investimento em renda variável, as ações podem subir ou cair, inclusive bruscamente, de um dia para o outro. Porém, segundo os analistas, as ações de empresas boas pagadoras de dividendos têm característica defensiva, ou seja, tendem a cair menos quando o mercado todo está negativo, mas também sobem menos quando o cenário é de otimismo.

"Carteira de dividendos não é uma renda fixa. É um investimento arrojado, como qualquer aplicação em Bolsa. Mas ela apresenta uma boa relação entre risco e retorno, principalmente para quem já investe em ações e não quer se expor tanto à volatilidade [oscilações] do mercado", afirma Roberto Indech, analista da corretora Rico.

Quanto dinheiro é preciso para começar?

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Imagem: Shutterstock

Os analistas recomendam reservar pelo menos R$ 30 mil para o pontapé inicial em uma carteira de ações. "O preço das ações na Bolsa normalmente varia entre R$ 10 e R$ 50 cada. Como as compras são feitas normalmente em lote de 100 ações, você vai precisar de cerca de R$ 30 mil para montar uma carteira com cinco ou seis empresas diferentes", afirma Pereira, da Guide.

Segundo ele, um volume menor de recursos pode não compensar os custos de negociação. Apenas a taxa de corretagem gira em torno de R$ 10 por operação. Além disso, ele recomenda que a carteira tenha um número mínimo de cinco empresas para garantir a diversificação do investimento e reduzir os riscos.

Até quanto devo investir em ações?

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Pedro Galdi, da corretora Magliano, recomenda que o investidor direcione, no máximo, 20% do patrimônio para ações.

"Não se pode botar todos os ovos na mesma cesta. A ideia aqui é diversificar investimentos. O ideal é que ele tenha sua reserva de emergência garantida, além de uma boa parte do capital em outras aplicações de renda fixa. A renda variável tem como finalidade obter ganhos extras, especialmente no longo prazo."

Qual deve ser o prazo da aplicação?

prazo - iStock - iStock
Imagem: iStock

O objetivo da carteira de dividendos é obter retornos consistentes em prazos longos. "Como o conceito se baseia no pagamento de dividendos, o investidor tem que esperar no mínimo um ano para completar um ciclo de pagamentos. Não faz sentido desmontar a carteira antes disso", afirma Pedro Galdi.

"Eu recomendo que a aplicação seja feita por vários anos. Você pode usar os dividendos recebidos para comprar mais ações e aumentar o fluxo de recebimentos ao longo do tempo. Ou pode transformar os dividendos em um complemento de aposentadoria, por exemplo."

O fato de o investimento em dividendos ser de longo prazo não significa que a carteira deva ficar engessada. "Você não deve simplesmente comprar as ações e sentar em cima. É importante acompanhar periodicamente a empresa, especialmente as projeções de resultados e de pagamentos de dividendos para os próximos trimestres. Se houver um imprevisto nos negócios da companhia, o preço da ação pode cair ou ela pode parar de pagar dividendos. Nesse caso, não vale a pena manter o papel na carteira", diz Roberto Indech.

Como comparar dividendo com renda fixa?

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Imagem: Brasil Escola

Primeiramente, é preciso saber qual é a relação entre os dividendos pagos e o preço da ação --isso é chamado de "dividend yield". Por exemplo, se você pagou R$ 100 por uma ação e, após um ano, a empresa distribuiu R$ 10 em dividendos para cada ação, a remuneração foi de 10%.

Para saber o "dividend yield" de uma ação, você pode consultar tabelas de relatórios de corretoras ou de consultorias de mercado. Também é possível fazer a conta manualmente. Você terá que pesquisar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou no site de relações com investidores (RI) da empresa os dividendos pagos nos últimos 12 meses, e dividir o total pelo preço da ação.

O "dividend yield" é um indicador que pode ser comparado com a taxa básica de juros (Selic). No exemplo anterior, se o mesmo valor (R$ 100) fosse aplicado em renda fixa pela taxa Selic atual (8,25% a.a.), o ganho seria de R$ 8,25 após um ano.

Dividendos são isentos de Imposto de Renda. Já as aplicações de renda fixa estão sujeitas à alíquota de IR, que varia de 15% a 22,5%, dependendo do prazo da aplicação. No exemplo dado acima, após um ano, a alíquota seria de 17,5%.