Petrobras se recupera com alta da gasolina e menos interferência do governo
Depois de anos de decepção, a Petrobras finalmente fez as pazes com seus investidores. Mesmo após a queda forte dos últimos dois dias, as ações preferenciais (PN) da estatal acumulam alta de quase 60% neste ano, enquanto as ordinárias (ON) sobem cerca de 80%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, registra ganho de 8% em 2018.
As mudanças na forma de administração, com menor interferência do governo nas decisões internas, a retomada do pagamento de dividendos, a nova política de preços dos combustíveis e a disparada do barril do petróleo no mercado internacional estão entre os fatores que explicam a volta por cima da companhia.
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Com a valorização das últimas semanas, os investidores que participaram da capitalização da companhia, em 2010, praticamente saíram do prejuízo. Na época, as ações PN foram vendidas a R$ 26,30 e as ON, a R$ 29,65. Na sexta-feira (18), elas valiam próximo disso: a PN era cotada a R$ 25,65 e a ON, a R$ 30,15.
Para quem acha que as ações já subiram muito, os analistas dizem: a Petrobras ainda está 20% mais barata do que outras petroleiras internacionais similares. Caso o preço do petróleo siga em trajetória de alta e a gestão da companhia seja mantida pelo próximo governo, a expectativa é que as ações continuem se valorizando a longo prazo.
Veja abaixo outros fatores que devem favorecer a Petrobras, como a renegociação da cessão onerosa (operações com o pré-sal), e a opinião dos analistas sobre a nova fase da companhia.
Revisão da cessão onerosa
Um fato que pode impulsionar os preços das ações nos próximos dias é a renegociação da chamada cessão onerosa, acordo firmado entre a estatal e a União em 2010 que permitiu à companhia explorar, sem licitação, até 5 bilhões de barris que estão no pré-sal da bacia de Santos (SP). Em troca, a empresa pagou R$ 74,8 bilhões ao governo.
A Petrobras alega que pagou caro pelo direito de exploração, uma vez que o preço do barril do petróleo caiu nos anos seguintes. Por isso, quer receber de volta parte do valor desembolsado. A renegociação deveria ter sido concluída na quinta-feira (17), mas o governo ainda está analisando a questão por meio da Advocacia Geral da União (AGU).
Outra questão pendente em relação à cessão onerosa é o volume de petróleo que pode ser explorado pela Petrobras. Com a revisão para cima das estimativas de reservas disponíveis na região, o volume que a empresa poderá retirar do fundo do oceano deve superar os 5 bilhões de barris previstos inicialmente. O governo pretende leiloar o resto do petróleo que não for destinado à estatal e arrecadar cerca de R$ 100 bilhões.
“Há uma grande expectativa em torno do resultado da renegociação da cessão onerosa. Ela poderá representar uma importante entrada de recursos para a companhia”, diz o analista Roberto Indech, da Rico Investimentos.
“A renegociação será boa para a companhia, que pode receber cerca de R$ 50 bilhões de volta. E também será boa para o governo, que poderá contar com o dinheiro do leilão do petróleo excedente, uma receita importante e que não estava incluída nas contas do ajuste fiscal”, afirma Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.
Retomada do pagamento de dividendos
Depois de quatro anos sem pagar dividendos devido aos sucessivos prejuízos, a Petrobras voltará a distribuir lucros aos seus acionistas em 2018. A empresa aprovou, no fim de abril, mudanças em seu estatuto para permitir que o pagamento de dividendos seja feito trimestralmente.
Como a companhia obteve lucro de R$ 6,9 bilhões no primeiro trimestre deste ano, os acionistas voltarão a ter seu capital remunerado. A empresa distribuirá R$ 652,2 milhões na forma de juros sobre capital, o que corresponde a um pagamento de R$ 0,05 por ação. O crédito será feito no próximo dia 25.
“A retomada da distribuição de dividendos é uma sinalização muito positiva da Petrobras. Mostra que ela está recuperando sua rentabilidade”, afirma Passos.
O lucro do primeiro trimestre foi 56,4% maior do que o registrado em igual período de 2017, impulsionado pela alta do petróleo. O barril subiu de um valor médio de US$ 53,80 no primeiro trimestre do ano passado para uma média de US$ 66,80 por barril entre janeiro a março deste ano.
Reajuste frequente dos combustíveis
A política de reajuste frequente dos combustíveis adotada pela Petrobras tem incomodado os proprietários de veículos. Desde o início de sua vigência, em julho do ano passado, os preços da gasolina e do diesel já subiram cerca de 57%.
No entanto, os analistas defendem a adoção da nova política porque ela reflete de forma mais adequada as oscilações no preço do petróleo e também os efeitos do câmbio, já que o barril é cotado em dólar.
“A Petrobras não tinha uma política de preços até o ano passado. Na verdade, ela subsidiava os combustíveis no Brasil, por ordem do seu controlador, o governo”, afirma Gustavo Allevato, analista do Santander. “Hoje, a alta do petróleo é positiva para a companhia. Antes, ela tinha prejuízo por causa da diferença entre os preços praticados aqui e no exterior.”
A nova política de reajuste dos combustíveis também permitiu à empresa repassar as variações no preço do dólar. “Hoje, o câmbio é muito menos nocivo para a Petrobras do que já foi no passado. Embora boa parte da dívida continue atrelada ao dólar, ela consegue compensar o aumento da despesa financeira com uma receita maior na venda dos combustíveis”, diz Indech.
Redução do endividamento
A estratégia adotada pela administração da Petrobras para reduzir sua dívida também é vista com bons olhos pelos especialistas. A estatal fez uma espécie de faxina em seu balanço nos últimos dois anos, abrindo mão de projetos problemáticos, muitos deles decorrentes das fraudes descobertas durante a operação Lava Jato.
A empresa está se desfazendo de empresas e instalações industriais consideradas pouco rentáveis ou que não fazem parte do seu negócio principal: a exploração de petróleo e produção de combustíveis. A previsão é levantar US$ 21 bilhões neste ano com a venda de ativos não estratégicos. Por enquanto, a petroleira já embolsou US$ 5 bilhões com essas vendas.
A restruturação tem ajudado a companhia a reduzir sua dívida, que chegou a US$ 110 bilhões em 2015. Hoje, os empréstimos e outros compromissos financeiros estão na casa dos US$ 80 bilhões.
“A Petrobras ainda é a petroleira mais endividada do mundo. Mas sua situação melhorou muito nos últimos anos com a gestão mais eficiente da companhia, o que permitiu aumentar a geração de caixa, reduzir despesas e direcionar melhor os investimentos”, afirma Allevato.
Troca de governo representa um risco
Embora estejam muito otimistas com a Petrobras, os analistas admitem que o resultado das eleições para a Presidência da República representa um risco para o futuro da companhia. A depender da estratégia política do novo governo, a diretoria da estatal e seu modelo de gestão podem sofrer modificações.
“Os resultados do presente são um bom argumento para não se voltar ao estilo de gestão adotado no passado”, diz Allevato. Segundo ele, o estatuto da Petrobras sofreu mudanças recentemente que obrigam a União a ressarcir a companhia caso o governo force a empresa a adotar alguma medida que não seja boa para sua saúde financeira. “Essa mudança blinda a atual política de preço dos combustíveis de eventuais intervenções do governo.”
Indech, da Rico, espera muita instabilidade nos preços das ações nos próximos meses por causa do cenário eleitoral. “A partir de agosto, quando os nomes dos candidatos estiverem definidos, o mercado ficará mais agitado, especialmente após a divulgação de pesquisas eleitorais.”
Apesar das incertezas, os especialistas dizem que as ações da Petrobras representam uma opção interessante para o investidor que tem foco no longo prazo. “Mesmo com a alta acumulada neste ano, as ações ainda estão baratas. Se você comparar os indicadores da Petrobras com petroleiras estrangeiras, a companhia brasileira ainda está com desconto de 20%”, afirma Passos.
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