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Está com o nome sujo? Veja se vale a pena contratar uma empresa para ajudar

Arte/UOL/Stefan
Imagem: Arte/UOL/Stefan

Colaboração para o UOL, em Florianópolis (SC)

27/06/2018 04h00

Uma pesquisa do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) mostra que, dos 62 milhões de brasileiros com dívidas em atraso em 2018, 25% contrataram empresas especializadas em limpar nomes, também chamadas de reabilitadoras de crédito. Será que vale a pena?

No Reclame Aqui, site que reúne queixas de consumidores brasileiros, só uma empresa de reabilitação de crédito foi mencionada mais de 400 vezes.

As principais reclamações são em relação à demora na execução dos serviços, devolução do valor pago e mau atendimento. "Prometeram que limpariam meu nome, mas isso não aconteceu. Então pedi a devolução do valor pago, R$ 1.700. Até o momento, eles só me enrolam, fazem promessas e não pagam", disse um consumidor no site de reclamações.

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Especialistas dizem que geralmente serviço é dispensável

É preciso muita atenção ao buscar esses serviços que prometem limpar seu nome. É necessário ter cuidado para não cair em golpes ou gastar dinheiro desnecessário.

Os especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que, na maioria dos casos, não é necessário contratar uma empresa reabilitadora de crédito para intermediar as negociações com os credores, pois é possível fazer isso sozinho.

"Não há necessidade de contratar uma empresa. O consumidor deve procurar diretamente os credores e tentar negociar", afirmou Elias Sfeir, presidente da ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito).

Só vale a pena se negociação com credor estiver muito difícil

Para Flávio Borges, do SPC Brasil, só vale a pena pagar por esse tipo de serviço, se a negociação com o credor estiver muito difícil. "Aí você pode tentar contratar uma pessoa que tem experiência em negociações", disse.

Lembrando que, ao pagar uma empresa para ajudar a limpar o nome, o consumidor terá duas despesas: com o pagamento da dívida e com os serviços prestados. Segundo a pesquisa do SPC e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), o valor médio pago em 2018 pela ajuda nas negociações foi de R$ 375,21.

Faça uma boa pesquisa em sites de reclamações

Se realmente precisar de ajuda, antes de fechar contrato com alguma empresa de reabilitação de crédito, é recomendável fazer uma pesquisa em sites de reclamações, como o Reclame Aqui, para ver o que outros consumidores estão dizendo sobre os serviços oferecidos.

Também é interessante buscar informações em órgãos de defesa do consumidor, como o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e os Procons. "É legal verificar nesses órgãos de existem reclamações e, caso existam, ver se foram resolvidas pela empresa", disse Renata Reis, coordenadora do Procon-SP.

Não existe possibilidade de limpar nome sem pagar a dívida

Segundo a pesquisa do SPC e da CNDL, 50% dos consumidores que contrataram empresas especializadas em reabilitação de crédito foram atraídos pela promessa de limpar o nome sem pagar a dívida. Os especialistas alertam que essa possibilidade não existe, pois a única forma de ter o nome limpo é pagando a dívida ou negociando com o credor.

"Alguns consumidores são atraídos pela propaganda de anulação do déficit ou por um acordo muito vantajoso. Isso não pode ser garantido pela empresa contratada, pois depende da vontade do credor em negociar", afirmou Renata.

Guarde contratos e conversas

Antes de assinar um contrato, é preciso ler todas as páginas com muita atenção. Em seguida, é importante pedir uma cópia assinada pela empresa que irá prestar o serviço. Também é recomendável guardar todas as conversas da negociação, como e-mails ou mensagens de WhatsApp.

Em casos de problemas futuros, esses arquivos podem servir para provar que algo foi prometido e não foi cumprido.

Onde reclamar contra reabilitadoras de crédito

O consumidor que se sentir lesado tanto pelo credor quanto pelas empresas de cobrança ou reabilitadoras de crédito deve buscar órgãos de defesa do consumidor, como o Consumidor.gov.br ou o Procon responsável pela região.

Em caso de problemas com os credores, é possível reclamar também nas agências reguladoras como a Anatel(Agência Nacional de Telecomunicações), a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) ou o Banco Central.

"O importante é nunca deixar de reclamar, até para que a gente tenha esse cadastro atualizado com o perfil real do serviço que tem feito vítimas no mercado", disse Renata.

Como limpar seu nome por conta própria

Antes de qualquer coisa, o consumidor deve procurar o credor original da dívida e pedir uma planilha detalhada sobre a dívida, afirmou a coordenadora do Procon-SP. Com essas informações em mãos, ele poderá refletir sobre suas finanças e apresentar uma proposta de pagamento que caiba em seu bolso.

"O consumidor tem que primeiro buscar os canais de negociação das próprias empresas: o banco, a instituição de crédito, a instituição financeira, a escola, a faculdade que infelizmente não conseguiu pagar. E ver alguma condição melhor de pagamento", disse Renata.

Canais de comunicação das empresas

A maioria das empresas possui áreas exclusivas de atendimento aos clientes e negociação de dívidas. No caso de serviços regulados, como instituições financeiras, telecomunicações e serviços de saúde, os consumidores podem procurar as ouvidorias.

Em quanto tempo seu nome sairá do cadastro negativo?

Ao quitar a dívida ou pagar a primeira parcela da negociação (em caso de acordo com o credor), o nome do consumidor já pode ser retirado do Cadastro Negativo, afirmou Ione Amorim, do Idec. Por conta de algumas burocracias de sistemas, as empresas de proteção ao crédito dão um prazo de cinco dias úteis para que a remoção seja feita.

Se não pagar, o que acontece?

Se a dívida não for paga, o nome do consumidor fica no máximo cinco anos no cadastro de inadimplentes. Após esse período, o nome é retirado, mas a dívida continua existindo. "O credor pode, então, buscar outros meios de cobrar o consumidor", afirmou Borges, do SPC Brasil.

Atenção com as empresas de cobrança

Se a cobrança da dívida estiver sendo feita por uma empresa terceirizada, é importante checar com o credor original se ela está mesmo habilitada a negociar e receber valores do devedor.

As carteiras de consumidores inadimplentes podem acabar caindo, de forma ilícita, nas mãos de oportunistas. Essas pessoas se passam por empresas de cobrança e tentam receber o dinheiro do consumidor, sem repassar em seguida ao credor.

(Reportagem: Fernanda Santos; edição: Armando Pereira Filho)

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