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Corretora permite comprar dólar no cartão em 12 vezes. Vale a pena?

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Imagem: Getty Images

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

05/07/2018 04h00

Uma fintech (empresa de tecnologia financeira) especializada em câmbio está oferecendo aos seus clientes a possibilidade de comprar dólares, euros ou qualquer outra moeda estrangeira utilizando o cartão de crédito. Normalmente, as casas de câmbio só aceitam pagamento em dinheiro vivo (espécie) ou por meio de transferência bancária (TED ou depósito).

Além de aceitar o cartão, a Câmbio Store também permite que o cliente parcele a compra em até 12 vezes. Neste caso, porém, há incidência de juros sobre as parcelas. “Nosso objetivo é oferecer facilidade ao cliente, aumentando sua capacidade de compra por meio do cartão e dando mais fôlego para ele organizar a viagem”, afirmou Bruno Ferreira, presidente da Câmbio Store.

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O cliente pode efetuar compras de até R$ 10 mil em moeda estrangeira com o cartão de crédito. Também é possível recarregar cartões de viagem pré-pagos. Em breve, a fintech oferecerá a possibilidade de fazer remessas internacionais com pagamento no cartão.

Mas vale a pena usar o cartão de crédito para comprar moeda estrangeira e ainda pagar parcelado? Especialista disse que é preciso cuidado com as taxas, e o ideal é comprar dólares com antecedência e em dinheiro. Veja a seguir vantagens e desvantagens de usar o serviço.

Taxa de câmbio é definida no momento da compra

Segundo a empresa, a principal vantagem de usar o cartão de crédito para compra de moeda estrangeira é “travar” a taxa de câmbio no momento da compra. “O cliente fica sabendo na hora quanto vai pagar”, disse Ferreira.

A taxa de câmbio usada pela Câmbio Store para compra com cartão de crédito é a mesma para pagamento em dinheiro ou por transferência bancária. O valor da despesa é lançado na fatura do cartão em reais. No entanto, a operação no cartão sofre acréscimos (leia mais abaixo).

“Se, em vez de levar a moeda estrangeira para a viagem, o cliente deixar para usar o cartão de crédito no exterior, ele só vai saber quanto vai pagar na volta, quando receber a fatura”, afirmou Ferreira. A operadora do cartão considera o dia de pagamento da fatura para converter a despesa em moeda estrangeira para reais.

IOF sobre moeda é menor do que sobre cartão no exterior

Outra vantagem de comprar a moeda estrangeira em espécie com o cartão, em vez de deixar para usar o cartão de crédito no exterior, diz respeito à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “A compra de moeda em espécie está sujeita ao pagamento de 1,10% de IOF. Já a despesa internacional lançada no cartão paga 6,38% de IOF”, disse Ferreira.

A compra de moeda estrangeira no cartão de crédito não se caracteriza como uma despesa internacional porque a operação acontece no Brasil, e o valor é convertido imediatamente e lançado no cartão de crédito em reais. Por isso, o IOF é equivalente ao de uma compra de moeda à vista.

Havia uma dúvida legal se as corretoras poderiam aceitar o cartão de crédito como forma de pagamento de transações de câmbio. Essa questão foi esclarecida em dezembro por um comunicado da Associação Brasileira de Corretoras de Câmbio (Abracam).

“A Abracam explicou que as corretoras podem aceitar qualquer forma de pagamento regulada pelo Banco Central, incluindo cartão de crédito. Há apenas um limite operacional, que é de R$ 10 mil”, afirmou Ferreira.

Compra no cartão permite acumular pontos 

Outra vantagem da compra de moeda estrangeira no cartão é o acúmulo de pontos ou milhas no programa de fidelidade do cartão de crédito.

“É um benefício indireto. Dependendo do cartão que o cliente tem, pode valer muito a pena e ajudar a acumular pontos para uma viagem futura”, afirmou o presidente da Câmbio Store.

Custo extra cobrado no cartão é alto, diz especialista

O cliente que optar por pagar a compra de moeda estrangeira no cartão de crédito deve estar atento aos custos extras da operação. “É importante o consumidor ter em mente que uma operação com cartão tem custos porque a corretora só vai receber o pagamento da operadora do cartão em 30 dias. Evidentemente, esses custos serão repassados para o cliente”, afirmou Michael Viriato, coordenador do laboratório de Finanças do Insper.

De acordo com Bruno Ferreira, da Câmbio Store, se a opção do cliente for pagar a compra no cartão à vista, ou seja, no próximo vencimento da fatura, o custo efetivo total da compra terá um acréscimo de 5,7% devido à taxa de processamento cobrada pela operadora do cartão.

“Um acréscimo de 5% numa operação de câmbio com cartão é muita coisa se você comparar o valor que você efetivamente pagaria se optasse por outra forma de pagamento, como TED ou em dinheiro”, disse Viriato.

“Agora, se a pessoa não tem o dinheiro disponível na hora porque vai receber o salário só no mês que vem, até faz sentido usar o cartão para comprar a moeda à vista e levar para a viagem", disse o professor do Insper.

"É melhor do que levar o cartão de crédito para usar no exterior, porque você define já qual a taxa de câmbio que vai pagar, em vez de deixar para descobrir qual será o câmbio na hora de pagar a fatura”, afirmou Viriato.

Cartão cobra juro de até 3% ao mês em compra parcelada

Se a opção do cliente for pelo parcelamento da compra no cartão de crédito, a taxa de processamento da operadora é menor, em torno de 1% do valor da transação. No entanto, há incidência de juros sobre as prestações que variam entre 1,9% e 3% ao mês.

O custo efetivo total de uma compra no cartão parcelada em 12 vezes ficará em 3,17% ao mês, segundo Ferreira.

“O custo do cartão de crédito no Brasil não é baixo. Mas eu avalio que conseguimos negociar com as operadoras uma taxa competitiva, se você comparar com os juros cobrados no crédito pessoal ou no cheque especial”, disse Ferreira, da Câmbio Store.

Segundo a Anefac, a taxa média cobrada por financeiras no crédito pessoal está em 7% ao mês, enquanto os juros do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito alcançam 12% ao mês.

O professor Michael Viriato recomenda que o consumidor evite fazer dívidas no cartão. “Se você vai viajar daqui a 30 dias, mas está sem dinheiro, pode comprar os dólares com o cartão, mas pague a fatura à vista, não em 12 prestações."

Se você for parcelar uma compra de dólares em 12 vezes, por exemplo, na prática vai pagar uma taxa de câmbio efetiva bem mais alta do que a taxa atual por causa do efeito dos juros sobre juros", declarou Viriato.

Veja abaixo uma simulação de compra de US$ 2.400, feita pela Câmbio Store a pedido do UOL. O IOF de 1,1% sobre a compra já está incluso nos cálculos.

  • Pagamento em dinheiro ou via TED: R$ 9.678,04. Taxa de câmbio efetiva (com IOF): R$ 4,03.
  • Pagamento à vista no cartão de crédito: R$ 10.231,07. Acréscimo (Custo Efetivo Total - CET) de 5,71%. Taxa de câmbio efetiva (com IOF e taxa do cartão): R$ 4,20.
  • Pagamento em 6 vezes no cartão de crédito: R$ 10.926,64. Acréscimo de 3,58% ao mês. Taxa de câmbio efetiva (com IOF, taxa e juros): R$ 4,49.
  • Pagamento em 12 vezes no cartão de crédito: R$ 11.786,46; Acréscimo de 3,17% ao mês. Taxa de câmbio efetiva (com IOF, taxa e juros): R$ 4,84.

Ideal é planejar compra de moeda com antecedência

Quem vai viajar daqui a seis meses ou mais tempo deve comprar moeda estrangeira aos poucos e, com isso, fazer um preço médio, procurando aproveitar oportunidades de recuo nas cotações.

“Estamos em um momento turbulento do câmbio, mas eu sinceramente não acredito que o dólar vai continuar subindo. O Banco Central está com a arma na mão para forçar o preço a cair”, disse Viriato, do Insper.

“Sem dúvida, o ideal é a pessoa comprar moeda aos poucos. O problema é que planejamento não está no DNA do brasileiro. Por isso, decidimos oferecer essa facilidade. O brasileiro já está acostumado a parcelar a passagem aérea e o pacote de viagem, mas ainda não podia dividir a compra de moeda estrangeira”, afirmou Ferreira.

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