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Ele é consumista, mas vai tentar seguir 3 passos para equilibrar o bolso

Matheus Adami

Colaboração para o UOL, de São Paulo

25/08/2021 04h00

Organizar as finanças pode ser um bicho de sete cabeças para muita gente, inclusive para o produtor cultural Vinícius Rigoletto, 40. Ele é o personagem do último episódio da temporada de Desafio Aceito, programa apresentado por Thelma Assis, vencedora do BBB20. Vinícius gasta mais do que ganha e não consegue entrar em um shopping sem sair cheio de sacolas. No programa, ele recebe ajuda de Yolanda Fordelone e Cesar Esperandio, especialistas em finanças e colunistas do UOL.

Para quem se identifica com o produtor cultural, saiba que é possível deixar a vida financeira em ordem sem precisar de planilhas complicadas e cálculos mirabolantes.

São, basicamente, três passos, segundo especialistas. Mas é bom avisar que o processo não será rápido ou fácil. Confira.

Passo 1: é preciso saber o que quer

A definição do objetivo vem antes de qualquer coisa. "A pessoa precisa ter clareza sobre aquilo que quer", diz Ricardo Gomes, planejador financeiro da Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro). Comprar um imóvel ou um carro, viajar, se aposentar mais cedo e fazer um intercâmbio são exemplos de objetivos.

"Às vezes, o que motiva a pessoa a financiar um imóvel por longo tempo, por exemplo, não é porque ela quer um imóvel próprio, mas sim uma falsa sensação de segurança. De repente, a pessoa se casou, teve filho e daí pensa que precisa ter um imóvel próprio só porque todo mundo tem. Existe um efeito manada", diz.

E como descobrir os objetivos pessoais, sem influência das decisões dos outros? "Para descobrir isso, usamos perguntas sobre os sentimentos, como 'isso faz sentido para você?'", declarou.

Gustavo Dias, planejador financeiro e cofundador da Duoo Finanças Pessoais, vai pela mesma linha: "Entenda a relação que você tem com o dinheiro, conheça a sua motivação e tenha claros os objetivos que quer alcançar."

Passo 2: estruturar o orçamento

Eis que é chegada a hora evitada por muitos: colocar, na ponta do lápis, o orçamento. "Não precisa ter uma planilha, com gasto anotado até na vírgula, pode ser 'mais ou menos'. Alguns aplicativos ajudam muito a fazer isso", disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus.

Primeiro, é necessário anotar as receitas. "Há pessoas que não sabem nem quanto ganham por mês", diz. Nesse caso, vale fazer uma média. Se o valor varia, a pessoa deve anotar a média dos últimos 12 meses.

O passo seguinte é saber, de forma aproximada, quanto você gasta. Esse valor deve ser dividido entre os gastos essenciais (moradia, saúde, alimentação) e os gastos supérfluos, o que dá para sobreviver sem (salão de beleza, restaurante, roupa etc). "É necessário anotar os gastos para a pessoa enxergar o que cabe ou não no orçamento", disse a especialista.

Com tudo anotado, chega a hora de analisar os números. "A partir desse diagnóstico, o ideal é atribuir metas financeiras para cada item do orçamento, a fim de delimitar o quanto será gasto em cada parte do orçamento. A soma das metas idealmente deve ficar abaixo da renda mensal líquida - após o desconto dos impostos", apontou a planejadora financeira Fernanda Prado.

Além das metas de gastos, o orçamento deve incorporar as metas de investimento para cada objetivo. Por exemplo, se deseja formar uma reserva financeira, é necessário definir quanto será poupado mensalmente para essa finalidade.

Passo 3: combater os 'vilões'

Objetivos definidos, orçamento feito. E agora? O ideal, de acordo com os especialistas, é combater alguns "vilões" do orçamento, como as compras feitas por impulso.

"A pessoa precisa sempre gastar menos do que ganha. Se você gasta mais do que ganha, você nunca vai ter liberdade e independência financeira, sempre vai depender de alguma outra pessoa", afirmou Quaresma.

"A pessoa tem de fazer um trabalho de psicologia com ela mesma, trabalhar o lado da disciplina, o autocontrole, às vezes até procurar ajuda profissional", disse.

O jeito, então, é cortar gastos? Para Ricardo Gomes, os eventuais apertos no orçamento devem ser encarados de outra forma. "Cortar gasto não é uma necessidade, mas uma consequência. Como necessidade, cortar gasto dói. Ninguém quer perder. Mas, para conquistar, preciso fazer escolhas, e a consequência será cortar gastos."

Bônus: Pagar dívida ou guardar dinheiro?

Não é incomum que uma pessoa que esteja em processo de reorganização financeira tenha dívidas. Neste caso, o que é melhor? Pagar a dívida ou guardar dinheiro? Os especialistas são unânimes: pagar a dívida, embora com cuidado.

O consenso recomenda priorizar o pagamento das dívidas, já que os juros dos empréstimos tendem a ser mais elevados do que os juros dos investimentos. No entanto, viver apenas em função da quitação de dívidas pode gerar problemas maiores.

"Se a pessoa está totalmente sem reserva, pode surgir algum imprevisto que demande dinheiro, e a consequência disso pode resultar na contração de nova dívida ainda mais cara que aquela já existente. Ou o acesso a esse novo dinheiro pode não chegar no tempo desejado", disse Fernanda Prado.

O plano de ação passa pelo mapeamento das dívidas e o pagamento das mais caras. Depois de pagar as mais caras, a especialista recomenda começar a construir uma reserva e, mais adiante, voltar a resolver as dívidas e até a acelerar o pagamento, para evitar juros maiores.

"É importante saber os juros da dívida. É mais vantajoso pegar um empréstimo pessoal do que ter dívida no cartão de crédito, por exemplo, porque os juros são mais baixos", disse Quaresma.

"Se puder, pague dívidas e construa a reserva ao mesmo tempo, principalmente porque juntar a reserva vai evitar que você faça novas dívidas. Mas, se a grana estiver apertada e você realmente só puder escolher uma, opte por pagar a dívida", afirmou Dias.